Em geral, as pessoas procuram a meditação para lidar com a ansiedade, o tédio ou problemas de relacionamento. E, de fato, se fizerem a sua parte, o “dever de casa”, elas conseguem melhorar de vida e a qualidade das suas ações melhora e muito.
Ao mesmo tempo, nos tornamos mais resilientes em relação aos perrengues emocionais e físicos.
Entretanto, esse tipo de busca na meditação é insuficiente.
Precisamos lidar com o que surgir como caminho para a lucidez. Lucidez aqui diz respeito a natureza daquilo que brilha atrás dos nossos olhos.
Parece poesia, nesse momento, mas segundo os ensinamentos, essa qualidade inata e radiante, a nossa verdadeira face, aparecerá sem esforço.
Em uma vida bombardeada por interrupções, por e-mails, feeds frenéticos do instagram, redes sociais, e os diversos ruídos, a única forma de seguir na vida é estar agitado ou entediado?
Em busca de felicidade
Buscamos a felicidade e ignoramos as consequências dessa busca. É um processo neurótico de tentar impor nossos desejos e apegos a uma realidade em constante mudança e criatividade.
Antes de se iniciar na de meditação, é crucial entender qual o contexto ela se dá. O próprio Buda Shakiamuni ensinou em torno de 40 práticas distintas, de acordo com a capacidade e disposição mental de cada praticante e aspirante a prática de meditação.
Em geral, a prática de meditação está associada a prestar atenção ao movimento da respiração, sua inspiração e expiração. Retornar vez após vez a essa consciência ao que acontece dentro, ao nosso mundo interno (vida interior).
Como existem várias maneiras de se abordar o tema, aqui iremos tratar a meditação para uma abordagem paralela à vida cotidiana, compaixão e sabedoria. Não há separação entre elas. É apenas devido a confusão mental e ignorância que enxergamos a prática e a vida como duas vias separadas.
Dificuldades de olhar para dentro com a meditação
A nossa dificuldade se dá pela falta de clareza, abertura e compaixão, sobre qual a natureza essencial de um pensamento, emoções, crenças e ideias.
Descobrir o mundo interno, a natureza da realidade tal como ela é, nos ajuda a dar sentido a nossa existência.
Em vez de reprimi-las ou extrapolando-as (externalizando sem uma consciência a respeito; a famosa jogar a merda no ventilador). Estaremos olhando com clareza para o que ocorre.
Estamos sempre meditando. Mas, o foco da atenção está voltado à autoimportância. Como consequência, colhemos: o sofrimento sem fim.
Quando ficamos concentrados apenas em nossos problemas, isso resulta em ainda mais sofrimento. Saltamos de uma bolha para outra, sem uma clareza a respeito.
Como dito, nos acostumamos a nos identificar com a mente que ora está agitada, ora está inquieta ou enfadada. Lama Alan Wallace, em “A revolução da atenção”, diz que se nos pergutarmos “quem sou eu?” a resposta é tudo aquilo que podemos discorrer a partir de onde nossa atenção está.
Portanto, a realidade ao nosso redor e a realidade do nosso mundo, soa discrepante.
O hábito de meditação
Em tibetano, meditação significa “Gom”. Essa palavra traz uma experiência associada além do mero, inspirar e expirar. “Gom” significa habituar-se, se familiarar com a mente.
A mesma mente que costuma experimentar cobiça, inveja, raiva, ódio, apego, aversão e assim por diante, essa mente agitada e confusa, pode ser usada de outra forma.
Com a meditação, experimentamos calma, clareza e uma consciência lúcida capaz de responder às situações — antes perturbadoras — agora com compaixão, amor, paciência, generosidade, e assim por diante.
Desse modo, com o treinamento contínuo em meditação, nossa mente é acordada, despertada para a falta de clareza sobre a realidade, sobre o que e quem somos.
Todos podemos transformar o que surge em caminho. Compaixão, amor, alegria, generosidade, sabedoria, paciência são qualidades ao nosso alcance. Se ainda duvidamos disso, precisamos sentar mais vezes em meditação e familiarizar-se com o silêncio, o silêncio lúcido. Ainda temos que meditar se essa dúvida persiste.
Qual o propósito da meditação? O espelho e a janela da vida
A prática de meditação apresentada aqui tem origem na tradição de contemplativos desde Sidarta Gautama, o Buda Shakiamuni e tem 2.600 anos de história. Está embasada em 3 características básicas: ética, sabedoria e atenção.
Sem esses 3 fatores balanceados, o alcance da meditação se torna restrito e incompleto. Como os venenos mentais são fortes demais, passam despercebidos e são camuflados em hábitos arraigados.
Assim, seguimos com e a nossa imprecisão quanto ao treinamento da mente.
Os grandes mestres explicam que o modo de encarar a vida de quem tem contato com a meditação é similar a olhar para as situações e circunstâncias por uma janela ou por um espelho.
- Janela — Julgamos o que aparece como externo — situações, pessoas, lugares como separados de nós. Tudo que cabe dentro de nós, é aferido pelos sentidos físicos (olhos, ouvidos, nariz, língua e corpo);
- Espelho — olhamos para experiência para, repetidamente, examinar cada detalhe. Desse modo, temos como cultivar qualidades mais positivas e evitar as negativas.
Tentar mudar e transformar a si apenas por explicações e conclusões, não traz uma mudança efetiva. Já que a natureza dos pensamentos e emoções é a própria impermanência, eles mudam o tempo todo.
Outra consequência dessa tentativa de lutar contra o que aparece na mente, é a sensação de se sentir exausto, pois algo acontece fora dos nossos planos e tentamos controlar a energia. Surgem explicações e categorias de pensamentos e aí, acabamos em falta de clareza sobre o movimento natural da mente.
Os benefícios da meditação
Entretanto, esse tipo de busca na meditação é insuficiente. Precisamos lidar com o que surgir como caminho para a lucidez. Lucidez aqui diz respeito a natureza daquilo que brilha atrás dos nossos olhos.
Isso pode parecer poesia, nesse momento, mas segundo os ensinamentos, essa qualidade inata e radiante, a nossa verdadeira face, aparecerá sem esforço. vir aos outros de verdade.
Trago 4 benefícios imediatos da meditação. São eles:
- Acalmar a mente
- Desenvolver e refinar a atenção mental assim como o discernimento sobre o mundo interno (o modo como nos relacionamos com os pensamentos, emoções e padrões habituais).
- Cultivar qualidades do coração (positivas) nas relações: consigo, com os outros, com os grupos e comunidades, com a sociedade e a natureza.
- Integrar o silêncio na vida cotidiana em corpo, fala e mente.
Na prática, qual o objetivo/propósito da meditação?
Tsoknyi Rinpoche explica que a meta da meditação não é se tornar um praticante perfeito, mas apenas conectar-se com seu amor, abertura e clareza básicos.
Em “coração aberto, mente aberta”, ele explica a meta da meditação da seguinte maneira:
Normalmente, nossa consciência é sobrecarregada por centenas de diferentes pensamentos, sentimentos e sensações.
Estamos atrelados a alguns porque são fantasias atraentes ou preocupações apavorantes; alguns tentamos enxotar, pois, são por demais perturbadores ou nos distraem do que quer que estejamos tentando realizar no momento.
Em vez de enfocar algum deles e afastar os outros, apenas os olhe como penas voando ao vento. O vento é a sua consciência, a sua abertura e sua clareza inatas.
As penas — os pensamentos, emoções e sensações físicas — são inofensivas. Algumas podem ser mais atraentes, outras menos, mas em essência são simplesmente penas. Olhe para elas como felpudas, aneladas, flutuando no ar.
Ao fazer isso, você começa a se identificar com a consciência que observa as penas e se permite ficar em paz com quaisquer penas que esvoacem na ocasião.
Você aceita as penas sem se atrelar a elas ou tentar enxotá-las.
Esse simples ato de aceitação — que pode durar poucos segundos — oferece uma amostra daquele espaço aberto de amor essencial, uma aceitação da cordialidade que é a sua natureza básica, o coração de seu ser.
Esse coração, essa abertura, essa clareza são completamente destituídos de “eu”: um centro desprovido de centro, bastante difícil de explicar em palavras, pois não se identifica com nenhum ser específico, criado em determinada cultura, em determinada localidade, com qualquer conjunto de condições.
Entretanto, ao nascermos em um corpo, numa cultura e dentro de relacionamentos familiares, ficamos condicionados e, por consequência, começamos a experimentar limitações.
Perdemos nosso senso de abertura e liberdade.
Nossa centelha não se apaga, mas parece ficar um pouco tênue.