Na boa, em meio às urgências, inseguranças, esperanças e medo: resolver, resolve? Melhor, o que essas coisas e situações abaixo têm em comum?
- Pote de sorvete de coco;
- Uma caixa de chocolate;
- Passando na frente daquela loja Arezzo;
- Na hora de passear por um buffet;
- Na hora de pedir demissão ou na hora de ser admitido, numa entrevista de emprego;
- Aquele sushi além da conta que você passou mal mesmo sabendo que a sua barriga estava dando sinal amarelo;
- Naquele momento que você nem se deu conta e vomitou palavras ácidas no outro mesmo sem querer fazer isso e de novo;
- E a minha favorita: na hora de pagar o boleto de cartão de crédito e a pessoa diz: ué, cadê esse eu que fez essa compra?
O ciclo vicioso é achar que a mente se resume a ter um problema, uma urgência, resolver ou ficar tenso porque não consegue resolver, e assim seguir de novo… e de novo.
Quais são as formas de aprisionar a mente?
A ideia básica é começar a perceber quando estamos sóbrios ou quando estamos embriagados pelo samsara, que é tipo girar em torno de uma roda que se move sem parar em uma direção.
É como se a gente se sentisse órfão de estar fazendo coisas, se ocupando tanto mental quanto emocionalmente. A pessoa fica tensa e depois, a pessoa tem fé de que o resultado vai ser diferente.
No caminho rumo à lucidez, o ponto principal é a Grande Compaixão. Nós podemos ter a compaixão e a Grande compaixão.
- Na primeira, desejamos aliviar o desconforto dos seres — a curto, médio e longo prazo;
- Já a Grande compaixão abarca a compaixão, claro. E tem o “plus” de que temos a sabedoria de ver a natureza da realidade como ela é, temos Prajna, vemos a fugacidade do sofrimento e temos vidya, rigpa, lucidez. Além de aliviar o desconforto dos seres, desejamos que eles se livrem da sua causa principal — a ignorância (avidya).
A Grande compaixão tem como GPS a sabedoria Prajna interroga a mente comum e consegue desvendar as 4 formas usuais de tencionarmos as situações. Prajna vê a mente por trás da mente, mostra os bastidores do modo como estamos nos instalando na vida até agora.
Vamos colocar isso em prática?
Existe uma ação da mente anterior ao intelecto, o aspecto conceitual, aquilo que chamamos de mente lógica, essa mesma, essa tagarela mimada que fica dizendo coisas na sua cabeça agora.
Por isso, introduzimos a meditação e seus degraus:
- O corpo — sensações físicas
- A energia — sentimentos
- A mente — pensamentos
- A natureza da realidade — o Darma
Estamos desacostumados a olhar para essa ação da mente que libera a si mesma.
Começamos com uma “prevenção”. Uma das premissas fundamentais do Darma de Buda é evitar produzir sofrimento, incluindo para nós mesmos. Como esse aspecto da mente não é algo que pode ser entendido e ponto, não dá para chegar nesse aspecto apenas por ideias.
Em invés de seguirmos nos agredindo por exagero ou negação das situações, melhor aprendermos a relaxar e estarmos conscientes da mente que vê a mente. Daí, em seguida, fazemos o que for mais apropriado.
Esse relaxar seria Se olharmos com mais cautela, podemos ter barcos diferentes, mas estamos na mesma tempestade — todos aspiram à felicidade e desejam evitar o sofrimento.
Porém, ao fazer isso, nós catalisamos ainda mais as causas do sofrimento. Então, começaremos evitando nos agredir e aos outros também, capiche? Basta olharmos antes, durante e depois das histórias e dramas das identidades que contamos.
Olhe devagar, procure ouvir o silêncio antes das palavras, do pensamento, do som. É isso que estamos querendo dizer com existe vida antes resolver, controlar, manipular e intuir.
Pare, olhe devagar. Essas ações não resolvem, de fato, nós estamos apenas transmigrando com isso. Transmigrar significa sair por aí apontando dedos e aspirando a bolha prometida.
A compreensão da ação da mente condicionada nos ajuda a encontrarmos espaço, abertura, uma liberdade natural da aparente solidez diante das situações da vida. Quando a solidez se desfaz e estamos fixados, dizemos: isso é sofrimento, insatisfação, angústia e tristeza.
4 formas de aprisionar a mente e como sair delas
Os mestres ressaltam que essa fragilidade nos leva a ações condicionadas e colhemos o sofrimento correspondente a cada ação, sem nos darmos conta propriamente de como esse processo opera;A compreensão das faixas de inteligência e ação da mente condicionada nos ajuda a encontrarmos espaço, abertura, liberdade da aparente solidez frente as situações da vida. Pois, a liberação do sofrimento, insatisfação;
FAIXA 1 – resolver, piloto automático
- Quero resolver logo, do meu jeito e nem vejo as consequências;
- Surgem urgências e eu acredito que é necessário responder logo, é agora!
- A “minha” ansiedade é justificável e pede uma “ação imediata”.
- Sinto uma espécie de afogamento mesmo que lado racional entenda que tá tudo bem;
- Achamos justificável usar nosso corpo, energia e mente a partir da negatividade e dos padrões de aprisionamentos — orgulho, inveja, desejo/apego, preguiça, carência e raiva/medo;
- Julgamos, culpamos, condenamos a si e aos outros;
- Esquecemos das conexões positivas: as relações, os amigos, saber pedir ajuda;
- “Seguimos a boiada…”
- O mundo aparenta ser um campo minado e nós no meio.
FAIXA 2 – controlar e disciplinar
- A vida das caixinhas de luz
- Como posso melhorar a minha vida?
- Causa e efeito, causalidade, planejamento.
- Encontro estruturas, modelos, regras;
- Posso gerir as coisas?
- Posso ver como as coisas dão certo. Preciso me apegar a isso?
- Vejo as minhas metas e os resultados como parâmetro;
- Uso da disciplina para estabilizar tudo;
- Isso vai gerar um comportamento, uma busca por equilíbrio, uma moralidade e nessa operação, eu consigo incluir o outro junto, pensar junto, mas ainda não tem o mundo interno.
- É como se acreditássemos que vamos organizar as coisas fora e tudo vai andar bem.
- Temos vários projetos de vida, ainda assim, temos aflições internas.
- Como as coisas podem dar certo?
- Aspiração de metas e resultados
- A Causalidade e disciplina resolvem tudo?
FAIXA 3 – manobrar e manipular
- Vemos o que brota internamente diante das situações e vejo vantagem nisso;
- A vida contemplativa se inicia aqui. Entendemos que o mundo está em movimento desde que tenha uma mente que se move.
- O lugar interno e externo onde estamos são inseparáveis, estamos um pouco mais sóbrio quanto a isso.
- Desenvolvemos um senso de exame e introspecção;
- O que brota internamente diante das situações?
- Ferramentas que nos ajudam a perceber uma vida mais ampla que cumprir metas e resultados:
- Alguns exemplos: ciência, psicologia, astrologia, tarô, i-ching, filosofia, religiões, e assim por diante.
- As emoções perturbadoras (orgulho, inveja, desejo/apego, torpor, carência, ódio/medo) regem nossa vida e são como experiências cíclicas;
- Vemos que as coisas dependem de como eu me posiciono internamente;
- As situações se tornam um laboratório: “eu estou passando por isso, eu não sou isso”;
- Posso me tornar orgulhoso e ficar teorizando muito sobre as ações dos outros.
FAIXA 4 – Intuir e transcender
- Temos uma intuição sobre como as coisas deveriam ser e nem sempre isso é senso comum;
- Seguimos sinais indicativos: sonhos, por exemplo; O Tesla tinha visões e rascunhos sobre seus projetos, O Einstein também.
- Gosto de lembrar do exemplo da mãe dizendo que vai chover. Só que a âncora da previsão do tempo disse que ia ser dia ensolarado. (APAC) em Recife
- Temos uma noção de transcendência a normalidade;
- Temos uma inquietação interna: “o mundo funciona assim, mas talvez…”;
- O problema é se utilizar desses sinais para se achar mais elevado que as pessoas, ver o documentário.
- Podemos achar que existem dois mundos o mais elevado, espiritual e o das pessoas comuns, medíocres;
Compaixão
Você consegue ver a compaixão presente em cada uma dessas 4 formas mencionadas?
Experimente: escreva em um caderno uma situação que aconteceu e veja se consegue perceber sua tentativa de: resolver, controlar, manipular ou intuir?
Tendo em vista essas limitações, como se liberar do samsara? Meditação como método para liberação desse processo Agora, veja a mesma situação com os olhos de compaixão. Melhor ainda se for com olhos de Grande Compaixão que entende a situação, mas não congela e ainda vê o outro com possibilidades de ação a partir das 5 sabedorias.