Bhava | 10° Elo – Eu, o outro, os problemas e a solidez das identidades

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Bhava é aprisionar as identidades em nós, isso é o 10° elo da roda da vida. Significa que a identidade e o mundo surgem coemergentes, como delusão e são funcionais, causais, como se a bolha de realidade fosse a descrição mais elevada da própria pessoa no espaço e tempo em vez da liberdade natural.

Durante a pandemia da Covid-19, por exemplo, tínhamos uma urgência em voltar ao “normal”. Como olhar para essa experiência aos olhos da sabedoria da origem dependente?

Ao operar o 9° elo e aspirar estabilizá-lo como uma identidade (10°elo), queremos obter e repetir o mecanismo de apego. Significa delimitar a mente como sujeito e objeto, como uma realidade externa. Temos uma certeza de saber operar no mundo com certezas e convicções sobre si e os outros.

Na visão de Prajnaparamita, nós não somos as identidades e sim, seus criadores.

O Buda mostra nos ensinamentos que uma vez fixados à ignorância sobre nossa natureza, avidya, nos induz a sustentarmos uma visão estreita de realidade. Deixamos de lado a realidade tal como ela é, fazemos vista grossa para a impermanência, por exemplo.

Ao recuperarmos a lucidez, o samsara perde seu encanto.

Onde estão as identidades e suas urgências?

O 10° elo é simbolizado por uma mulher grávida ou por um casal em relação sexual. Ilustra a concretude em nascermos como identidades no samsara e o mundo agora é fixo, externo, sólido e intransponível.

Surgem os problemas das identidades. Basta olhar quando temos dificuldades de encontrar paz e harmonia nas finanças, carreira profissional e os relacionamentos em geral. São problemas das identidades e não nossos que ficam em xeque.

Os 6 reinos e as identidades

No 10° elo, Bhava, nascemos como uma identidade devido ao engano e confusão, sustentando uma paisagem que nos conduzirá ao sofrimento no 12° elo.

Construímos a nossa relação com o mundo nas paisagens, nos 6 reinos da roda da vida: o reino dos deuses, semi-deuses, humanos, animal, fantasma faminto e reino dos infernos. Tudo é natural e operativo dentro dessas 6 formas de operar a mente, energia e o corpo.

O modo mais sofisticado de nos referirmos a Bhava, é falar sobre seres e mundos de transmigração. O sofrimento vem à tona quando a bolha – onde as identidades sem lucidez sobre quem são estão imersas – tentam sustentar suas urgências.

O sofrimento se externa quando a impermanência aparece ou porque o apego a repetir resultados de um certo jeito, não pode se expressar.

Choramos, gritamos, sorrimos e nos alegramos. Não é a análise de comportamento dentro das bolhas o que estamos propondo aqui. A questão é o lugar interno, onde a mente está e se ela é capaz de ver a si com lucidez. Isso é a sabedoria discriminativa.

Os 12 elos como liberdade natural diante dos problemas das bolhas

Nós utilizamos a ferramenta dos 12 elos para mostrar que não estamos condenados ao samsara. Como nos enganamos? A partir do apego a flutuação de energia em busca de um resultado nos 6 reinos da roda da vida.

Acreditar que a solução é fazer ações do lado de fora, como tentar controlar a realidade, ter poder, ou manipular os objetos, coisas, situações e lugares.

Isso nada mais é do que girar de novo samsara.

Quando o 10° elo é colocado em xeque, a identidade se tensiona porque tem a energia da cobra (3 venenos da mente), que significa a defesa da bolha como se aquilo fosse tudo. A mente retorna ao 9° elo para justificar o apego a sua visão de mundo: “eu sei como o mundo é! Você sabe quantas vezes eu fiz isso?”.

Um exemplo é o de um motorista de aplicativo. Se perguntarmos: “Olha, você acha que você é sempre esse motorista aí, que você acha se define como eu sou motorista?”

A pessoa nem para para questionar isso. Ela dirá: “Sim, claro! Olha eu sou motorista, eu tirei minha carteira faz 15 anos. Eu já trabalhei em 3 empresas diferentes e sei como é que faz para andar mais rápido nas ruas de Recife, mesmo nos horários de pico!

Outros exemplos

Vamos encontrar vários exemplos disso como descrições como si e os outros: o que eu sou, eu sei como o mundo é, eu sou médico, eu sou dentista, eu sou psicólogo, eu sou professor, eu sou aluno e assim por diante.

Ao observar o nosso currículo e ver temos várias identidades ali com data de admissão e demissão, pode acontecer da identidade balançar e a pessoa se questionar: “eu já fui isso tanto tempo que se tirar isso de mim, eu vou sumir do mundo!”

É crucial contemplar os 12 elos para entender como que nos enganamos com esses vários “eus” de forma imutável e assim, sofremos.

Como que teimamos em nos descrever como seres em sofrimento, tanto no âmbito pessoal como socialmente, precisamos ir adiante: manifestar no coração uma inteligência lúcida e compassiva e sermos capazes de olhar e intervir com lucidez mesmo em meio as atividades comuns.

Seguimos com o voto de bodicita em todas as direções e nos mesmos lugares, contudo agora lúcidos.

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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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