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Dukha, Segundo S.S. O Dalai Lama, é a base da experiência dolorosa e se refere, de modo geral, ao nosso estado de existência condicionado pelo carma, delusões e emoções aflitivas. Isso se desdobra no desejo inato de procurar a felicidade e de superar o sofrimento.
É muito importante reconhecermos a natureza do sofrimento pois assim aspiramos um caminho de saída. Com as práticas de treinamento da mente, podemos reverter o processo de confusão e dor oriundos da roda da vida. Esse percurso é destrinchado pelas Quatro Nobres Verdades e o caminho de oito passos.
O Lama Alan Wallace usa a seguinte analogia para demonstrar essa descompensação emocional:
“Quando nos defrontamos com Dukha, é como se estivéssemos ultrapassado o limite de velocidade de uma via com sinalização eletrônica, mas ninguém avisou que aquilo estava ali e qual era a velocidade limite.”
Dukha é como ter repulsa pela sensação de ressaca mas apreciar muitíssimo a degustação de uma boa bebida alcoólica entrando na garganta e sem se importar muito com as consequências disso.
O treinamento da mente como remédio para Dukha
Em um caminho simples, S.S. O Dalai Lama explica a analogia de Maitreya onde temos uma pessoa doente e seu tratamento em busca da cura, como o avanço no treinamento da mente baseado nas Quatro Nobres Verdades e como isso se dá, em etapas.
São elas:
- Reconhecer que está doente;
- O que nos levou a esse estado?
- O que faz piorar os itens anteriores?
- Compreensão da possibilidade de cura;
- Desejo de se livrar da doença surgirá nela;
- Quando reconhecemos as condições que nos levaram a doença, o desejo de se libertar será muito mais forte;
- Com a compreensão das causas e da cessação do sofrimento, ganhamos confiança e convicção da possibilidade de superarmos a doença;
- Como base nos itens anteriores, nós tomamos todos os medicamentos e remédios necessários;
Com as práticas de treinamento da mente, revertemos o processo da roda da vida (samsara). O principal ponto a ser enfatizado é a confiança nas quatro nobres verdades.
Podemos começar tanto pelo caminho de apresentação da natureza livre, oitavo passo ou começamos pela introdução do sofrimento e suas causas. Temos essa liberdade de podermos operar mente, energia e corpo, a partir de referenciais mais amplos como compaixão, amor, alegria e equanimidade, por exemplo.
É interessante percebermos que quando agimos de modo construtivo, positivo, criamos um ambiente de felicidade para conosco e os outros. Numa perspectiva inicial, o Darma pode ser considerado como medidas preventivas quanto ao samsara.
Quando estamos imersos e inconscientes da realidade ao nosso redor, estamos confusos sobre quem somos e como nós e o mundo existimos. Nós nos agarramos às coisas como se elas existissem de modo concreto e inseparáveis de nós mesmos.
Precisamos olhar diretamente para natureza do sofrimento e cuidar desse olhar. Podemos ter essa liberdade com a prática de meditação e ver o que estamos cultivando com o corpo, fala e mente, e como isso aumenta ou diminui o nosso sofrimento.
É interessante notar que quando usamos a palavra sofrimento no budismo, nós queremos dizer que é o sofrimento que nos mostra o caminho de saída. Segundo as quatro nobres verdades, nós já temos algum tipo de felicidade, só não estamos cientes disso. Se estivermos receosos, com medo de tocar o sofrimento, não seremos capazes de perceber o caminho de liberação do mesmo.
Há um momento em que percebemos que quando caímos no esquecimento do quê e quem realmente somos, seremos inundados pelas aflições mentais que imediatamente destroem nossa paz mental, saúde e até mesmo amizades e relacionamentos com outras pessoas.
É sempre bom lembrarmos que através da nossa inteligência e emoção podemos mudar e transformar o nosso mundo interno. Portanto, esse olhar contemplativo e investigativo quanto as nossas emoções e o nosso mundo interno é extremamente crucial.
O objetivo do Darma não é apenas apontar os sintomas, mas também suas causas e o caminho de saída para os nossos problemas. A mente é muito ampla: ela pode criar tanto o sofrimento e felicidade, o céu e o inferno.
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