Você já deve ter usado o “modo avião” no seu smartphone.
Basicamente, ao acioná-lo você fica sem redes, sem conexão, ou seja, não consegue receber chamadas, enviar textos ou navegar pela internet, fica indisponível para os outros.
Com pressa e na tentativa de resolver a própria vida, sem uma sabedoria como eixo, a pessoa deseja se encontrar na meditação. Porém, é quase como uma busca por um céu particular, um spa mental para relaxar e ter “paz”.
Sem uma orientação adequada ou por ingenuidade mesmo, quando a pessoa começa a meditar, ela pode começar de modo equivocado – ausente de conexão com a realidade. A meditação então se torna um instrumento de fuga em vez de lucidez. Isso é ligar o modo avião na meditação e não desejamos isso. O que nos move é a sabedoria e a compaixão. Esse é o voto de bodisatva.
Meditação como uma fuga como alívio imediato para o tédio
Sem se dar conta da própria confusão mental, a pessoa está restrita à ignorância da natureza da realidade e do funcionamento da mente.
Assim, a ferramenta da meditação se torna um objeto de tédio e neurose. O que fazemos quando isso surge em nós? Abandonamos tudo o mais rápido possível e seguimos para outra atividade, sem um eixo e curiosidade sobre a vida.
Por saltar etapas fundamentais na meditação e ignorar a sua operação mental, como um todo, o iniciante restringe a sua prática meditativa a mais um jogo, tudo respaldado pela ignorância (1° elo da roda da vida; avidya) e portanto, à dualidade, a delusão e ao sofrimento.
Sem lucidez, como resolver? A pessoa se isola de tudo ao redor. Acredita que irá controlar sua mente a ponto de evitar determinados pensamentos em detrimento de outros. Ora, isso é mais uma tentativa de controle e poder.
Assim, ela gira em torno de si em vez de meditar para algo mais amplo, a lucidez.
Ela entra em “modo avião” na meditação:
- Cria um estado particular de equilíbrio fabricado e chama isso de “paz interior”
- Senta para meditar e sem uma orientação adequada, tenta reinventar a roda…
- Aparenta ter uma vida paralela: algo acontece na mente, durante a meditação sentada e algo que acontece quando a pessoa coloca os sapatos e retorna ao mundo.
Naturalmente, isso é um engano.
Não sentamos para nos isolar, nem entrar em modo avião na meditação.
Para meditar, você precisa sentar e tornar a sua mente como sua aliada. Você mantém a atenção ao que acontece, de modo relaxado, estável e com brilho nos olhos. Assim, sem ser arrastado pelos sentidos físicos associados à mente do macaco (mente inquieta e teimosa) vem a tona.
Podemos agora entender melhor seu funcionamento.
Não há nada de esotérico nisso.
Muitas vezes, vejo pessoas querendo um incenso, um cristal, um ponto luminoso…
Precisamos aterrissar. Desligue o seu modo avião habitual.
Onde você está quando inspira e expira? A resposta é aqui.
Você precisa começar a meditar porque a sua mente é neurótica, pelo menos a que você se acostumou até agora. Você é traído pelos seus desejos e apegos.
Já notou isso?
Você medita para recuperar a sanidade.
Com o tempo, paciência e perseverança, nada de atalhos, combinado?
Na prática, percebe que a sua mente tem a característica de abertura e de estreitamento.
Quando a mente está estreita, você percebe que ela fica costurando bolhas, sem fim. Daí, você retorna à realidade e desliga o modo avião habitual, se reconectando com a vida. Preste atenção a sua dispersão mental.
Isso tem muito a dizer sobre o modo como você tem levado a sua vida.