Jeti | 11° elo – Eu e o outro: cada um na sua bolha de realidade

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Jeti é a síndrome da Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci assim e vou ser sempre assim.”

Na imagem da Roda da vida, Jeti é representada pelo nascimento de um bebê. Representa a nossa atividade incessante, as urgências, as identidades querendo resolver, controlar ou manobrar a realidade como sendo externa e separada da mente. 

Lama Padma Samten, meu professor, gosta de explicar esse elo como um equilibrista sustentando um prato sobre um bambu na palma da mão. Cada atividade que sustentamos com unhas e dentes é mais um prato e bambu para equilibrarmos com as mãos. Isso é que nos faz sentir vivos na lógica da roda da vida, no samsara

Nós sustentamos uma noção de identidade, temos uma sensação de existência a partir disso e teimamos para nós mesmos: “eu sou isso, isso sou eu”. Isso é Bhava, 10° elo. No 11° elo assumimos essa identidade e vamos nos relacionar com a realidade dessa forma.

Jeti é quando nos encontramos na vida comum, é o encontro de realidades, das bolhas uns com os outros.  Em Jeti temos uma disposição natural, um modo de ser familiar, uma certa normalidade.

É como chegar em casa depois do trabalho e ir para o sofá. Nem questionamos mais o contrato de aluguel, essa é a nossa casa e ponto final. Nem desconfiamos mais da coemergência, por exemplo. Tudo é externo, estático e separado da nossa mente.  

Se alguém parar para nos perguntar: “Quem é você e como chegou aqui?”, a resposta será: “Que pergunta idiota! Não enche, estou muito ocupado. Eu vim de carro, pela Av. Agamenon Magalhães… virou filósofo agora?” Ou seja, já há uma resposta agressiva, que simboliza a defesa pelo elo anterior, Bhava. “Apenas me deixe seguir, não me amola! Sei bem o que estou fazendo e para onde estou indo”. 

Carreira, finanças e relacionamentos

No reino humano, geralmente, jeti está caracterizado pela movimentação da identidade e por sua visão de mundo, a partir dos elos anteriores, em: carreira profissional, sustentação financeira e nos relacionamentos. 

No 11° elo, nós existimos, respiramos através das narinas daquela identidade, nosso corpo é assim. Se adoeço, tenho medo do que pode acontecer com ele, se há um acidente, o que será de mim? Essa é a visão da identidade nesse elo. Na visão do engano, seguimos para o décimo segundo elo. Na visão da compaixão, podemos reverter esse processo. 

Por estarmos presos em urgências, nas bolhas, não conseguimos ver os 12 elos, suas consequências, a falta de compaixão e o efeito do carma em nossas vidas. Se não estamos ocupados, tentando equilibrar algo, a gente não se sente vivo. Mas, uma vez que nos ocupamos, começamos a reclamar justamente do que desejamos. Isso é um processo neurótico. 

Uma palavra-chave que meu professor, o Lama Padma Samten, indica para ajudar a identificar esse elo é a sensação de “tudo para ontem”, de que temos “urgências”. 

A natureza dos nossos problemas

Com os 12 elos em movimento, não suspeitamos ou questionamos a natureza das nossas inquietações. Apenas reagimos responsiva e agressivamente, pois nesse elo temos a certeza de que essa é a nossa vida, ele é a nossa sensação de existência.

Sempre temos algo a mais para fazer, seja lá o que isso signifique. Não conseguimos dar espaço e apenas reagimos de maneira responsiva sem nos questionarmos o destino final das atividades sem fim.

Sempre teremos algo a fazer para equilibrar as situações externas e internas. Não conseguimos relaxar. Parar para meditar? Jamais. 

Exemplos de Jeti

Todo mundo sabe que o Sol nem nasce nem se põe, é a Terra que orbita em torno do Sol. Na história da humanidade, encontramos vários exemplos de teorias e situações que são vistas como sólidas e concretas, e depois perdem o sentido. 

Por exemplo, na história do Brasil, o açúcar era visto como ostentação. Se você tivesse uma cárie, seria visto como alguém de alto valor pela sociedade da época. O próprio açúcar também era vendido como algo valioso. Hoje, ele pode ser encontrado em qualquer prateleira de supermercado, bem mais acessível. Sabemos também as consequências de ingerir açúcar a longo prazo e os danos à nossa saúde.

Esses exemplos são simples e ao mesmo tempo abrangentes, pois entendemos a aspiração das identidades e seus mundos de transmigração, já que tentamos impor o nosso ritmo diante da realidade, e não o conseguimos totalmente.

Isso também explica as várias identidades – os crachás – que portamos, sempre baseados em aspectos internos e externos, como se isso fosse a nossa maior segurança: ter um falso controle e poder para obter resultados favoráveis e evitar os desfavoráveis.

Uma pessoa é igual às possibilidades de fixação e mais a sua liberdade original. Uma vez que purificamos os obscurecimento mentais, o que resta? A liberdade original. 

Todos os 6 reinos têm um jargão sobre o seu estilo de emoldurar a realidade. Deveríamos desconfiar de que esse movimento não é uma boa fonte de segurança. Isso também explica a nossa sisudez com os crachás das identidades, os rótulos e assim por diante. 

Se a identidade obtém sucesso, ela dirá: “eu sei como o mundo funciona.” E assim, temos mais apego a ser de um certo jeito e não de outro. Se a identidade não consegue, ela pode revisitar os elos anteriores ou irá direto para o 12° elo. Por isso, o 11° elo precisa ser explicado com o elo seguinte.

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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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