Meditar além de si mesmo: o impacto da prática no coletivo

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Meditar além de si corresponde ao aspecto da motivação correta, bodicita. Entendemos que as identidades não são fontes de refúgio e segurança e aspiramos ultrapassar as limitações do samsara e suas contradições para benefício dos seres. 

Lembro de Erik Pema Kunsang explicando que, ao fazer as prostrações, por exemplo, estamos reconhecendo o cansaço que sentimos como identidades confusas e separadas, em meio a uma realidade mutável e fora de nosso controle.

Não queremos mais ficar presos aos 6 reinos da Roda da Vida, ao carma, e sermos derrubados pela impermanência. Reconhecemos que o samsara é um empreendimento inviável.

Lembramos de sentar com todos os seres, estamos dando espaço  – abrimos mão do apego a uma identidade comum e aspiramos andar no mundo como bodistava. É uma postura interna, uma decisão nossa. 

Afinar a mente para meditar

Ao sentarmos em meditação lembramos que neste exato momento, estamos conectados de forma sutil. Nossa compaixão aflora, silenciamos e percebemos que nosso aspecto mais profundo não é o movimento dos pensamentos e emoções, as histórias que surgem em nossa mente, mas sim a lucidez que existe em todos os seres. 

Embora tenhamos nomes diferentes, histórias, famílias e tenhamos nascido em locais diferentes, a nossa natureza é a mesma, ela permanece constante em meio às mudanças. Toda situação é impessoal.

É como conversar com uma pessoa gripada – ela não é a gripe, e sim está com sintomas de gripe. A motivação é a busca pelo tratamento. Só falamos em tratamento pois temos consciência de que há saúde em nós. A motivação é reconhecimento da saúde natural em nós, a lucidez e a compaixão. 

Muitas vezes nos questionamos sobre a ausência de compaixão e lucidez em nossa vida. Mas a resposta não está fora de nós, está dentro. Olhamos para vida, olhamos para o espelho da mente na meditação e podemos ver a dor e o sofrimento dos outros e, se estivermos dispostos, podemos permitir que a compaixão brote em nosso coração também.

Uma saída para o aprisionamento emocional

Agora, precisamos entender as causas do aprisionamento emocional.

As 6 emoções perturbadoras – orgulho, inveja, apego, carência, preguiça e raiva/medo – nos mantêm prisioneiros das identidades. Entrar em contato com cada uma dessas emoções e contemplá-las com lucidez, nos permite manter o coração aberto à compaixão.

Práticas como Metabavana e Tonglen nos ajudam nesse processo também. Mantemos nossa mente e coração despertos pelas dores e sofrimentos dos seres que vagueiam sem rumo pelo samsara. Isso não é uma teoria, basta olhar para sua própria experiência e perceber como que a mente se engana e cria a delusão de solidez e sofrimento.

Reconhecer o coração compassivo já presente em nós é a chave para manifestarmos nossa verdadeira natureza.

Não é necessário buscar algo externo, mas sim cultivar essa compaixão nas diversas circunstâncias pessoais. Ao permitirmos que a compaixão floresça em nosso coração, iluminamos não só a nossa própria vida, mas também a vida dos outros – não há separação, de fato.

É importante lembrar que essa motivação bodicita seja acompanhada pelo aspecto de energia e não apenas no nível intelectual.

Meditar além de si mesmo é atestar que nossas identidades não são fontes de segurança, mas sim meios para alcançarmos a compaixão necessária para ultrapassar as limitações do samsara.

Somente quando nos dedicamos ao bem-estar dos outros é que conseguimos encontrar a paz interior que tanto desejamos. É essencial cultivar a bodicita em nossas práticas diárias e lembrar da importância do seu benefício.


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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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