Meditar para transformar: 4 tipos de meditação para domar a mente

meditar-para-transformar-4-tipos-de-meditacao-para-domar-a-mente
Tempo estimado de leitura: 6 minutos

Dos vários tipos de meditação, qual delas serve para você?

Uma das fases da meditação é acalmar e afinar essa mente malcriada para torná-la nossa aliada. Uma vez que ela esteja mais dócil, nos aprofundamos na contemplação do mundo interno.

Assim, temos como usar tudo que acontece à nossa volta também como caminho.

Praticar meditação é reconhecer o que já temos presente em nós, a nossa verdadeira natureza. Em Para abrir o Coração, Chagdud Rinpoche ressalta que “meditar”, a palavra em si, remonta aos esforços que fazemos. Mas, com a prática de meditação, em uma abordagem mais madura, permitimos que a mente descanse e relaxe em um estado de abertura além da euforia e do tédio.

A mente vê a mente e desata as neuroses e confusões sobre quem somos.

Uma mente estável e calma tem um mais alcance no olhar para dentro e clareza mental e compaixão se torna um sabor direto, e não apenas como mais uma palavra no dicionário.

Por isso, uma vez que experimentamos relaxamento, estabilidade e clareza, introduzimos o aspecto do contemplar. Assim, evitamos que a mente entre em estados acelerados ou em torpor.

Como Mingyur Rinpoche costuma dizer: a consciência desperta é a essência da meditação. Praticá-la é um processo de explorar o coração e a mente, de experimentar plenamente a riqueza da própria consciência.

Isso implica que a meditação não visa eliminar as coisas que não gostamos em nós mesmos, ou mesmo nos tornar pessoas “melhores”.

A meditação nos ajuda a ver que já somos inteiros e completos. É uma ferramenta prática que nos permite entrar em contato com nossa verdadeira natureza.

Corpo, fala e mente reagem a dor e ao sofrimento

Para chegarmos ao cerne da questão, a mente, é necessário perceber como ela se engana. Os processos neuróticos e desconexos da realidade, geram sofrimento a curto, médio e longo prazo. Portanto, precisamos acalmar o corpo e a energia para olhar para mente sem nos distrair. Esses 3 aspectos são inseparáveis.

Porém, é necessário um tempo para se familiarizar com essa experiência. Por isso, falamos deles como coisas separadas, mas eles não são.

Opções diante da dor

Temos duas opções para lidar com as nossas angústias, dores, pensamentos e inquietações:

  1. A inteligência expansiva
  2. A inteligência contemplativa

A inteligência expansiva é a tentativa frustrada em seguir buscando harmonia entre segurança, controle e conforto em coisas, situações, lugares e relações do lado de fora.

Na vida exterior, no mundo externo, não há um ponto de equilíbrio e conforto a longo prazo. É impossível atingirmos um grau de comprometimento e realização plena com a realidade da vida como ela é, pois, estamos em atividade constante.

Em busca de satisfazer nossos desejos e necessidades materiais baseadas em autocentramento e confusão mental. É como um jogo constante de luz e sombra. A mente neurótica segue em busca da felicidade e é acompanhada o tempo todo pelo sofrimento de não conseguir olhar com profundidade o imediatismo diante das suas urgências e crenças.

Nós nos identificamos com o corpo, com os pensamentos e com as emoções durante períodos de turbulência. Esquecemos da impermanência e de olhar com profundidade o que sustenta esse engano, essa fixação ao “eu” aparente e sólido. Tal como a água de gelo se achar diferente da água, pois agora está em estado sólido.

Por outro lado, temos uma inteligência contemplativa. Aqui em vez de buscarmos soluções externas e insatisfatórias, vamos olhar para dentro. Dessa forma, entendemos as causas e raízes dos nossos problemas.

Desse modo, é natural querermos iniciar o caminho contemplativo onde o silêncio da meditação, a compaixão e a lucidez são praticados em simultâneo com o que acontece na vida cotidiana.

Os grandes mestres enfatizam que a mente comum é como um homem sem pernas, enquanto os ventos e as energias sutis do corpo são como um cavalo selvagem e cego.

Essa combinação de mente e ventos é o que pode tornar a meditação tão difícil. Em nossa prática, portanto, lidamos com ambos os aspectos da mente — sua qualidade de conhecimento e sua qualidade de movimento.


Inscreva-se para receber os informativos gratuitos da Roda do Darma por e-mail .



4 tipos de meditação

Existem várias abordagens e tipos de meditação no caminho. Eles são assim classificados de acordo com os obstáculos e disposições mentais das pessoas.

O próprio Buda ensinou em torno de 40 meditações ao longo de sua vida. Essas práticas estão em funcionamento, digamos assim, há 2.600 anos.

Por exemplo, em geral, tendemos a reclamar que somos desatentos. Logo, a meditação mais indicada, num primeiro momento, é acalmar a mente. Aqui, usaríamos a meditação shamata e dessa forma, podemos avançar para as demais práticas.

Os tipos de meditação surgem de acordo com os obstáculos encontrados. Não é o caso de aprofundar aqui, mas todas elas tem uma conexão direta com alguma abordagem das 4 Nobres Verdades e o Caminho de 8 Passos, o ensinamento fundamental de onde todas as abordagens budistas são ramificadas.

Vamos enfatizar 4 tipos de meditação. São eles:

  1. Motivação
  2. Shamata
  3. Metabavana/Tonglen
  4. Meditação analítica

1 — Motivação

A nossa motivação vem pelo desejo sincero de trazer benefícios aos seres. Sem uma motivação correta, não vamos avançar, pois, a mente usual seguirá construindo castelos de desejo e apego.

Olhamos ao redor e vemos que mesmo que a aspiração mais sincera de ajudar esteja presente, os impulsos contraditórios nos confundem como o “eu-meu”. Assim, ficamos presos e seguimos no rastro do engano e da confusão.

A motivação mais ampla é o desejo sincero de aliviar o sofrimento dos seres a curto, médio e longo prazo. Assim como, ajudá-los a ultrapassar a raiz de todo sofrimento: a ignorância (má-rigpa; em tibetano). Isso diz respeito a motivação Bodicita.

Sem uma motivação clara, a prática se torna caricata e um fardo, pois vira mais um artefato de decoração da identidade e as 6 emoções perturbadoras.

2 — Shamata

Shamata quer dizer quietude ou calmo permanecer. Nessa meditação buscamos sentar e relaxar da teimosia em se descrever a partir dos impulsos que surgem na mente. É uma prática que nos ajuda a diminuir a dispersão mental e portanto, temos mais abertura e clareza para olhar para dentro, mas com clareza e compaixão. Desse modo, surge a capacidade natural de não responder aos impulsos, antes obscurecida pelos automatismos mentais.

Shamata é classificada como impura e pura. No sentido de que com a primeira, nós acalmamos e pacificamos a mente. A mente se torna uma aliada. Aqui há um super foco na concentração e consciência em relação a isso.

Já na shamata pura, nós abrimos o nosso foco e percebemos os estímulos sensoriais (olhos, ouvidos, nariz, língua e contato do corpo) acontecendo, mas não damos sequência a eles.

É como se gerássemos uma espécie de anestesia necessária nessa etapa. Assim, olhamos com mais profundidade para a ação da mente além do piloto-automático, do controle, da manipulação e autoengano. Geramos capacidade de agir em vez de reagir nas situações e relações.

É possível que você comece também pela abordagem sati

Fica a seu critério seguir a prática de shamata ou sati. Mas, por favor, experimente e não fique apenas teorizando a respeito.

3 – Metabavana/Tonglen

Em geral, quando sentamos para praticar aparecem as relações que temos alguma pendência emocional. Logo, nossa atenção é inundada dessa forma e nos afogamos nos jogos de apego e aversão usuais. Nós reduzimos as dinâmicas relacionais em gosto e não gosto, quero e não quero. Os relacionamentos ocupam nossa atenção por uma fração de tempo alta de nossas vidas. Somos relações, não podemos esquecer isso.

Sentamos e respiramos. Cada inspiração e expiração deflagra o nosso estado emocional. Relaxamos. Sem tensão, corpo estável, mente serena.

Tanto a meditação Metabavana (meditação do amor universal) quanto Tonglen (receber o sofrimento dos outros e oferecer a sua felicidade a eles) nos abrem para uma dimensão amorosa e compassiva. Tudo interno. São recursos que nos permitem pacificar as relações em aberto — do presente, do passado e futuro — em todas as direções.

Podemos fazer essas práticas conosco e assim, nos sentimos mais leves e amorosos. Oferecemos o mesmo para os outros também. Todos os seres desejam a felicidade e evitam encontrar o desconforto. As dificuldades e conflitos podem ser superados de modo pacífico e sem precisarmos de luta e esforço.

Nos conectamos com o aspecto do amor e compaixão disponíveis no mundo interno. Alteramos o brilho no olho e as relações mudam do lado de fora.

4 – Meditação analítica

Uma vez que a mente agora é nossa aliada, aprofundamos a compreensão que temos a respeito de sua essência. Usamos da investigação e da análise profunda quanto aos ensinamentos para avançarmos no caminho de transformação. Criticamos os textos, olhamos cada verso como uma palavra viva.

A verdade dos ensinamentos surge aos nossos olhos. Temos a meditação do pensar, contemplar e repousar. Vamos meditar como se estivéssemos olhando tipo o Buda para cada linha, ou seja, tentamos copiar a mente de sabedoria como uma experiência viva, a mente que gerou o texto é um recurso disponível.

Se ficarmos apenas com ideias e lembranças vagas a respeito, isso não vai nos transformar, pois, os venenos mentais seguirão como antes.

Importante!

A meditação caminhando (kin-hin), shavasana, zazen, e meditações com mantras são outras opções válidas. Há também meditação com visualizações, como no caso do budismo Vajarayana.

Não enfatizei essas práticas por questões de abordagem mesmo. Em geral, todas as meditações citadas são acessíveis e sugiro que você procure um centro de práticas mais próximo ou alguém mais experiente para conversar sobre os tipos de meditação que lhe é mais acessível.

Assista agora: Meditar para transformar – 4 meditações para domar a mente



Participe!

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *