Carma! Como lidar? Os bodisatvas possuem uma habilidade ímpar, uma atitude incomum diante das dificuldades – são surfistas! Eles surfam na onda do carma. A ação usual da mente estreita é se apegar ou ter aversão diante das coisas, como sendo separada de si mesma. É como tentar segurar uma onda com as mãos ou tentar afastá-la estando dentro d’água. Inconscientes desse processo, isso se torna um agressão e estamos nos atacando o tempo todo.
Agora, com o discernimento desse mecanismo – a sabedoria do Darma – nos dá uma posição de “conforto”, em cima da prancha. É simples: perceberemos a ausência de esforço, de luta interior. Temos liberdade perante aquilo nossas expectativas, anseios e medos. Como diz Namgyel: “nós estamos sempre em um jogo de exagero ou negação.”
Comovente, não é? Mas tem solução!
Nossa maior alegria é encontrarmos mais rápido os lugares que nos assustam, como sugere Pema Chodron. “Lugar” aqui refere-se a qualquer um dos “quadradinhos” do quadro de 240 itens. É um tipo de purificação, pacificação e cura interna. É como estancar o movimento usual do carma de se encaixar de novo e de novo em cima de apego e aversão. Porém, agora temos uma inteligência mais ampla que nos permite compreender esse mecanismo de aprisionamento e liberdade, sempre disponíveis.
Basta! Nós iremos parar, reconhecer, olhar com profundidade e repousar naquilo que não se move em meio às “ondas” agitadas da mente. Abaixo, temos o detalhamento desse processo. Bodicita é uma inteligência ativa, uma de atitude relaxada e confiante desperta. Treinamos esse olhar durante o caminho de transformação interna quantas vezes for necessário.
Seguimos no giro da roda do Darma!
Para aproveitar os estudos:
- Leia o trecho “Darma da vez” escutando a gravação do estudo em no podcast;
- Enriqueça a sua compreensão: Procure exemplos em sua vida com pessoas próximas, nos noticiários, nas diversas conversas entre amigos, no trabalho, etc.
- Anote os exemplos ou as eventuais dúvidas. Se preferir, compartilhe com o grupo de apoio suas experiências ou entre em contato para um acompanhamento individual.
Darma da vez
p.118 e 119
Considere sempre começar com “ou não” diante do óbvio
Por exemplo, vamos supor que aquilo é atraente porque eu tenho uma arma com a qual eu me defendo ou ataco o outro. Vejo, então, que essa é uma fixação no Reino dos Infernos. Mas como eu já analisei o Reino dos Infernos enquanto liberdade, enquanto a minha possibilidade de dizer “ou não”, eu consigo converter uma situação que era recorrente em mim e a entendo sob o ponto de vista da possibilidade de liberação do Reino dos Infernos. Assim, eu posso dizer mais facilmente “ou não” para aquilo. É desse modo que podemos ver se podemos dizer de fato “ou não”, analisando a paisagem, mente, energia e corpo envolvidas nas situações.
Surfando no carma em corpo, energia, mente e paisagem
Se eu disser apenas “ou não” com o corpo, eu não daria o tiro. Mas dentro de mim pode existir a energia da agressão de dar o tiro, apesar de eu saber que não vá atirar. Agora, pode ser que a energia não esteja presente, mas esteja presente o raciocínio (mente, pensamentos), ou seja, eu saberia direitinho como atingir e obter aquilo, apesar de eu saber que não atiraria. Pode ser, ainda, que, apesar de o raciocínio não estar presente, haja uma aspiração (paisagem) para que o tiro atingisse determinado alvo.
Por exemplo, nós não matamos a barata, mas sentimos que seria muito bom que alguém a matasse e a jogasse pela janela. Ou seja, a paisagem está intacta ainda, a aspiração do Reino dos Infernos continua lá. Como somos budistas, nós não vamos matar a barata. Não temos sequer a energia para fazer isso e não vamos nem admitir pensar em realizar essa ação, mas se alguém matar, nos alegramos (por isso é sempre bom ter um não-budista em casa!!! – risos). Isso significaria que, em nível de paisagem, nós ainda temos aquela atitude. Nós precisaríamos, então, desenraizar os quatros aspectos – corpo, energia, mente e paisagem.
Liberdade é estar dentro e fora da bolha
Porque nós já temos claro esse processo da liberdade, nós podemos pegar um por um os nossos problemas ou dificuldades, os classificamos, vamos até o ponto que nos prende e vemos se conseguimos dizer “ou não”. E aí começa a funcionar. Se esse processo for artificial, nós vamos dizer “ou não” só com o corpo. A energia, a mente e a paisagem continuam presas ao problema.
O ponto é que, para nós, a situação continuará armada se não conseguirmos ver a liberdade nos quatro níveis (corpo, energia, mente e paisagem). Vocês podem utilizar o Quadro dos 240 Itens para fazer uma varredura, podendo ser utilizado como diagnóstico ou como método de decomposição dos problemas que estejam surgindo. Quando vocês começarem a olhar isso, no início vai parecer que não se tem conexão. Mas, logo em seguida, começamos a perceber que temos. Começamos a ver que estamos presos em praticamente algum nível de todos os quadrinhos. Esse é, então, o processo de PURIFICAÇÃO.
Fonte: Compilação sobre os ensinamentos dos doze elos da originação interdependente. Ministrados por Lama Padma Samten
Podcast
A seguir, aperte o play e acompanhe o estudo em áudio:
Imagem por Anderson Brito.
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