Por que ignorar avidya faz você perder tempo na vida

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Por avidya, nós ficamos cegos justamente porque vemos. É por meio da ação mental filtrada por avidya que a roda da vida surge. 

Avidya é o processo pelo qual ficamos fixados à construção luminosa da mente descrita no movimento da origem dependente. É a manifestação de uma cegueira múltipla. O paradoxo é que a cegueira tem a característica de brilho e ocultação, ao mesmo tempo. 

Avidya é simbolizada como o 1° dos 12 elos da origem dependente. É representada por uma pessoa com um óculos escuro e uma bengala, em busca de algo, fora dela mesma. 

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Quando o fechamento, ou estreitamento da visão é produzido, ainda não há sofrimento. Nesse momento temos as causas do sofrimento e assim, estabelecemos as raízes do sofrimento legitimando essa operação mental. 

Estamos olhando o DNA do sofrimento e suas causas, digamos assim.

Para que serve um(a) Buda?

“Buda” é uma designação para qualquer um que perceba avidya como uma experiência viva e possível da mente, mas se fixar a essa operação mental. 

No Sutra do Coração da abençoada Prajnaparamita, por exemplo, o Buda está sentado em profunda iluminação. Isso corresponde à clareza da mente em sua amplidão. Portanto, o Buda ou quem experiencia essa mente ampla, está liberto das prisões mentais. 

Avidya e a origem dependente

Nagarjuna, um profundo disseminador da sabedoria do Darma, afirma que quem reconhece a origem dependente, reconhece a natureza búdica e vice-versa. Não há separação entre elas. Nesse sentido, desarmamos a nossa luta com vitórias do bem contra o mal ou a busca de um sentido na vida.  

Apesar dos grandes mestres ressaltarem que todos os seres possuem a natureza búdica, precisamos de colírios para recuperar essa visão ampla. Ela aparenta ser uma verdade embaçada e mística ao nosso horizonte atual. 

Com Prajna, recuperamos a experiência da Mandala Vajra. Todos nós já temos a natureza búdica. Porém não conseguimos reconhecê-la devido aos obscurecimentos mentais arraigados. 

Essa experiência é representada por uma imagem de um Buda ou bodisatva com um olhar semi-irado e segurando um Vajra em sua mão. Isso significa entrarmos em contato com as coisas e sem fixação a experiência comum de samsara, ou seja, lúcidos. Nós temos passe-livre do samsara, mas mantemos a construção de causa e efeito como contemplação.

Ao cruzar o samsara, temos a experiência de Caminho do Meio, um outro nome para essa vivência da Mandala Vajra.

Caminho do Meio mas sem equilibrar nada 

Alguns professores ocidentais, como a professora Elizabeth Mattis Namgyel, clarificam em muitos dos seus trabalhos, os equívocos de transposição cultural do Darma ao ocidente. Em a lógica da fé, por exemplo, Namgyel descortina os enganos sobre o que é, como e para que serve a sabedoria do Caminho do Meio

Em suma, a experiência do Caminho do Meio está alinhada com a visão das 4 Nobres Verdades e o Caminho de 8 passos. Nesse ponto, precisamos lembrar  do próprio movimento do Buda histórico, o Shakyamuni.  

Em sua jornada, ele não excluiu o contato com o mundo. Pelo contrário, ele manifestava lucidez e transpirava a experiência viva da origem dependente, em suas relações com o mundo, com um outro olhar, de caráter mais amplo e compassivo. 

É dito que após atingir a iluminação, o Buda Shakyamuni, se dá conta de como a mente se engana e gira a Roda do Darma. Daí, surgem as 4 Nobres Verdades e o Caminho de 8 passos. 


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De fato, a sabedoria da origem dependente (2° Nobre Verdade) é o ponto de virada na contribuição do Darma para a erradicação do sofrimento e suas causas. 

Por que não vamos conseguir resolver o mundo? 

Quando as coisas apertam, nós nos utilizamos das 4 formas de lidar com o samsara, a partir de avidya. São elas: resolver, controlar, manipular e intuir. Isso significa que por trás de cada ato, história, a intenção é uma das 4 formas citadas. Assim, vamos em busca de resolver, controlar e assim por diante e entramos em choque quando alguma dessas ações são questionadas. 

Como vimos, avidya é luminosidade e ocultação. “Resolver” é pegar a luminosidade e se deslocar a partir disso. Logo, teremos uma causalidade, carma e a impermanência do nosso próprio movimento! 

Daí, inferimos a impossibilidade de chegar a um ponto final e convergente dentro da lógica do samsara. É como se um cego argumentasse com um outro cego e cada um argumentasse se o mar é verde escuro ou azul claro. 

Precisamos olhar com muito cuidado cada região que atuamos como “resolver”. Nós como vimos, resolver tem avidya junto e assim, vamos impor uma realidade limitada da nossa bolha contra a natureza mais ampla da vida, que por sua vez é simbolizada com o céu. 

Como desarticular o efeito de avidya? 

Todas as situações que nos vemos sem saída são montadas. A fixação é construída, montada, digamos assim. 

Portanto, a melhor pergunta nesse momento é: como desarticular o poder de avidya? 

São 3 passos:

  1. Em primeiro lugar, entender com clareza o movimento dos 12 elos. 
  2. Entender as limitações dos mundos dos 6 reinos de samsara e suas contradições, ou seja, sofrimentos 
  3. Olhar de fora para dentro: como a amplidão (Prajnaparamita) produz a estreiteza (energia de hábito) da mente? Assim, entendemos Avidya. 

Trungpa Rinpoche brinca que nós estamos embriagados do samsara, da luminosidade da mente, e esquecemos da nossa condição natural de consciência. Isso é Avidya.

É pouco provável que vejamos a origem dependente como um recurso mágico, luminoso e tenhamos clareza, lucidez a respeito disso. Nós apenas nos identificamos com o que brota na mente, seguimos e depois sofremos por não ter uma compreensão ampla do que está acontecendo, do que está nos movimentando. 

A pessoa então segue com ciclos de alegria e tristeza. A pessoa fixou a mente a partir de Avidya e devido a ignorância, ausência de discernimento desse processo da mente, ela colhe o sofrimento devido a fixação dualista ao processo de mover a mente a partir de outras ideias, pensamentos e emoções. 

Nossa ação é pegar cada movimento e ampliá-lo. Assim, começamos a nos distanciar do sofrimento e ver que ele não é sólido, ele tem uma causa, pode ser transformado. 

A ponte é entender que tomamos o movimento confuso e caótico da mente, como a principal fonte de refúgio. E o que seria refúgio? É o que tomamos como fonte de segurança, porto-seguro. Qual o problema disso? É que a descrição mais elevada que ela tem de si é a partir desse engano. 

Avidya e os 3 venenos mentais

Avidya vem como estreitamento da mente Uma vez fixados, temos aquisitividade como o brilho do olho.  Agora, estamos contaminados e em busca de expansão, ideias, pensamentos, temos a origem dependente. A energia de raiva então surge como quando a aquisitividade e a fixação são ameaçadas. 

Esquecemos da natureza búdica, criadora do samsara e nos contentamos com o conteúdo luminoso e impermanente como se fosse a descrição mais elevada de nós mesmos. 

Assim esquecemos de quem verdadeiramente somos. 

O que você descobrirá nesse episódio?

  • Prajnaparamita 
  • Caminho do meio 
  • Resolver não resolve…   
  • Compaixão 
  • Inseparatividade 
  • Cegueira funcional 
  • As 4 Nobres Verdades e o Caminho de 8 passos

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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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