A prática de meditação é simples – apenas sentamos – como diz Dogen.
Porém, com o acumulo de informação e práticas disponíveis, nós podemos ficar “nocauteados” de tanta coisa a se fazer ou podemos cair em armadilhas por pura ingenuidade.
Há também medos e superstições nossas sobre “o que é meditar?”
Por um lado, nos alegramos com essa abundância pois nossa curiosidade e interesse aumentam – sempre temos algo a aprender. Chega uma hora onde nos damos conta: “é tanta informação! Parece funcionar de forma aleatória, sem uma lógica, fio-condutor, um norte. Estou indo para o lado certo?”
Sem tempo a perder
Passamos um, dois, cinco anos estudando e praticando. Isso é maravilhoso! Porém, é trabalhoso desbravar um caminho sozinho.
O quanto antes estivermos cientes disso, melhor. E se houvesse alguém ou alguma metodologia para nos ajudar a saltar etapas? Alguém por perto para podermos conversar sobre o que estamos testemunhando, experimentando em nossas práticas?
Quando chegamos nesse ponto, nos perguntamos: como posso fazer para andar mais rápido? Quando houver dúvidas ou esclarecimentos, e aí? O que estou fazendo com o meu tempo e como aproveitá-lo de uma melhor forma possível?
Na prática, a teoria é outra
Nós somos seres de conexão e, é evidente o quanto somos teóricos.
Não precisamos ser especialistas comportamentais para observar o quanto somos contraditórios também. Basta ver o tanto de coisas que prometemos para nós mesmos e não saímos do papel! Risos.
Por outro lado, temos o potencial de transformação sempre disponível, ao nosso alcance. Se vemos sentido em avançar rápido, não perderemos a oportunidade de abraçar o que surgir como prática diária. Isso será enriquecido com um processo vivo de transformação – individual e em conjunto.
A nossa prática se dá dentro de um progresso verdadeiro. Nosso termômetro são os contatos e conexões nos relacionamentos , de maneira crua, direta.
O acompanhamento individual é sempre coletivo
O acompanhamento individual norteia o praticante com uma rotina diária e semanal de meditação regular. Assim, cada um avança no seu ritmo e tem um contato direto como apoio, fala, texto, aconselhamento, etc.
Ainda temos um coração? Sim, e podemos andar com ele aberto, como um oferecimento de alegria e interesse pelo mundo. Que espantoso!
Como geramos e ampliamos a nossa capacidade de ter liberdade diante das aflições mentais, emoções perturbadoras e padrões habituais de negatividade?
Como ajudamos os outros ao nosso redor a fazerem o mesmo? Isso pode ser resumido como bodhicitta (“citta” é mente, “boddhi” é da mesma raiz de buddha: iluminação, despertar), que é tanto o começo quanto o fim do caminho.
O que faremos?
O treinamento possui três pilares como eixo de aprendizado. São eles:
- Visão – Podemos resumir esse item como uma pausa na vida para uma investigação profunda da realidade circundante a partir do Darma – os ensinamentos proferidos pela mente de sabedoria dos Budas – em contato com as circunstâncias e dificuldades. Precisamos desse passo para que os ensinamentos se tornem vivos, pulsando em nós, ao invés de simplesmente estarmos acumulando mais e mais conhecimento;
- Meditação – É a acumulação do item anterior tanto na meditação formal, silenciosa, quanto nas atividades diárias;
- Conduta (ação) ou pós-meditação – É integrar nossas ações de acordo com os ensinamentos. Aqui, temos também a noção de remoção de obstáculos. “Obstáculos” significa aquilo que ainda não conseguimos iluminar, o que dificulta o nosso andar no mundo e o treinamento. É mantermos a estabilidade e a clareza em meio às adversidades e então agirmos de acordo com as circunstâncias.
A visão, meditação e conduta se complementam de modo circular, ou seja, cada vez que passamos por cada um desses pontos, eles se tornam mais claros e então se reforçam de maneira natural até o momento em que agimos sem esforço.
Como começar?
Visão
No que diz respeito à visão, podemos contemplá-la de duas maneiras. São elas:
- Estudo – É recomendável separar algum período diário para o estudo e contemplação dos ensinamentos com a busca de exemplos práticos, ou seja, vamos nos utilizar da prática do “pensar, contemplar e repousar” para vermos onde os textos ganham vida. De modo indireto, estamos copiando a lucidez do Buda;
- Nas atividades cotidianas – Ao invés de estarmos desatentos e reforçarmos a visão do carma, a visão condicionada, estamos despertos encontrando o Darma em tudo a nossa volta. Isso inclui: andar na rua, fazer compras, ir ao banco, encontrar com as pessoas, tomar banho, comer, lavar louça, escrever um e-mail, ligar para alguém, dirigir, escovar os dentes, etc.
E a Meditação?
Paralelo ao estudo, temos a prática de meditação silenciosa. Observamos os aspectos de corpo, energia (fala), mente, paisagem e céu. Ela é enriquecida e catalisada pelo estabelecimento da motivação pura ou nascimento no lótus.
É interessante que se inicie a prática de silêncio com um tempo de 40 minutos diários: uma sessão de 15 minutos mais cinco minutos para alongamento/descanso. Depois, repita esse processo. Se for possível praticar por mais tempo, ótimo! Do contrário, vamos lidar com as circunstâncias e ver o que é possível.
Colhendo os frutos da prática
Para que os frutos da prática amadureçam, precisamos de continuidade. Sentar em silêncio nutre a capacidade de dirigirmos nossa mente. Uma rotina bem estabelecida nos mantém ativos, em marcha, rumo a liberação da roda da vida. Há dias em que somos pegos por imprevistos e nossa vida é engolida por diversos acontecimentos… Se possível, procure seguir aquilo que é proposto como prática no momento.
Se perceber que a programação sugerida não está se encaixando com o seu dia a dia, faça alterações até encontrar um ritmo confortável e que realmente seja possível de ser colocado em prática. Se estiver com dificuldades para seguir praticando, por favor, avise para que possamos conversar a respeito e ver qual a melhor ajuda possível para o momento.
Conduta (ação no mundo)
Conduta significa que não precisamos avaliar as experiências com tensionamentos. Nos movemos com o olhar desperto, percebendo o que está a nossa frente, o que ocorre internamente, como está a nossa mente e energia e os impulsos que estão surgindo.
Observamos a possibilidade de acolher e observar tudo o que surgir a partir do olho do Dharma. Com o tempo, será mais natural manter essa clareza enquanto se conversa ou fazemos algo mais complexo, como cuidar de um filho. O ponto é como integrar corpo, energia (fala) e mente na mesma experiência ao invés de acharmos que está tudo bem, quando na verdade estamos muito envolvidos em nossas distrações.
Dirigindo a própria mente
A capacidade de dirigir a própria mente é o ponto. De nada adiantará praticarmos muitas horas sentados se não percebermos como a realidade a nossa volta se molda. Se estamos mudando nosso olhar para algo mais amplo – além do sofrimento – estamos diminuindo o número de inimigos, nos sentimos menos responsivos e mais pacientes. Se por acaso isso não acontecer, significa que precisamos rever novamente onde está a nossa motivação e voltar todos os itens anteriores.
Prazos e resultados
Quando começamos com o treinamento, não estabelecemos prazos. Seguiremos dentro do que podemos oferecer no momento.
É interessante mantermos contato com uma certa frequência pois precisamos compartilhar nossas impressões e dúvidas, questionamentos que eventualmente possam surgir. Caso haja necessidade, entre em contato para conversarmos.
A ajuda mais sincera – conselho para mim mesmo.
Não há nenhuma razão para julgamentos ou avaliações sobre a prática. Esse acompanhamento é justamente para seguirmos nos ajudando no caminho.
Sendo assim, não vamos nos comunicar apenas quando as coisas estiverem indo bem… É possível que obstáculos e obscurecimentos mentais apareçam. Então, temos a matéria-prima perfeita e pacientemente transformamos tudo em caminho espiritual.
A ajuda mais profunda é realmente oferecida diante da franqueza nas conversas e das necessidades oferecidas. Isso é fato.
Na prática, isso significa…
- Reduzir impacto negativo sobre as ações de corpo, fala e mente;
- Trazer benefícios em, curto, médio e longo prazo, em todas as direções: na relação consigo mesmo, com os outros, com a natureza, com os regentes dos espaços e com a sociedade;
- Não perder os retiros dos seres de sabedoria perto de sua cidade;
- Aspirar aprofundar em retiros fechados (retiro da iluminação do Buda, dez dias, um mês, três meses…);
- Sempre que puder, aspirar a iluminação e a capacidade de beneficiar mais e mais as pessoas;
- Aproveitar qualquer experiência para treinar equilíbrio de energia, sabedoria e compaixão;
Aspirações
Se houver alguma dúvida, por favor, entre em contato.
É muito bom ouvir um retorno sobre essa proposta pois é muito importante que tudo isso faça sentido nas nossas vidas. Se necessário, podemos rever algum ponto e irmos ajustando como uma consulta a um co-piloto numa viagem.
Se desejar, podemos conversar sobre possíveis textos de apoio referentes a cada item aqui citado. Por favor, considere seguir com um acompanhamento. O tempo é o bem mais precioso que temos e isso precisa ser levado em conta uma vez que é muito fácil cairmos em armadilhas ingenuas de orgulho e vaidade sobre “nossa” sabedoria.
Seguimos girando a roda do Darma!