“Prajna” significa sabedoria e “Paramita” a perfeição além de extremos. A maneira como pensamos tem fronteiras baseadas em polos, digamos assim: norte/sul, esquerda/direita, otimismo/pessimismo.
Prajna serve como uma ponte entre a realidade aparente, convencional, geralmente baseada nos scripts dos seis reinos.
Uma vez que a nossa mente se encontra, com foco, sem escorregar ou agarrar o fluxo desenfreado de pensamentos, aplicamos o selo de Prajnaparamita a esse estado calmo, claro e estável.
Essa inteligência é a nossa segurança, no sentido de apontar uma abertura de ação além de “isso é ou isso não é”. Podemos, a partir de Prajna, rir um pouco mais das nossas seriedades e como a mente se engana.
Você pode então se perguntar: o que Prajna tem a ver com o sofrimento?
Um labirinto chamado sofrimento
No budismo, temos a definição de verdade relativa e absoluta, última. A primeira diz respeito ao modo usual, sobre como nós nos relacionamos com as coisas a partir da causalidade (objetivos, metas, propósitos), ou seja, como damos as aparências o poder de dirigir a nossa vida e nos abalamos com isso?
A verdade, evidencia a plasticidade das aparências como um exercício natural da natureza da mente em se manifestar como algo particular, dentro de um jogo particular e que tem como resultado o sofrimento.
Se desconhecemos essa relação (relativo/absoluto) e tendemos a retificar a ignorância quanto a esses processos sutis da mente, acabamos presos no labirinto da mente.
“Sutil” se refere aos processos de estarmos conscientes com o olhar mais refinado da meditação e sua regularidade. Diz respeito a olhar para dentro, você tem um mundo interno, certo?
Utilizamos de Prajnaparamita para revelarmos a falácia do sofrimento e revertermos esse processo. Veja, não estou dizendo que o sofrimento não vai aparecer, mas que se nos familiarizarmos sobre o seu processo na totalidade, não apenas parcialmente, estaremos mais aptos a sair desse labirinto com mais leveza e rapidez.
O que tem a dizer um praticante de Prajnaparamita sobre o sofrimento?
Sobre a relação entre Prajna e o sofrimento, o grande mestre Dilgo Khyentse Rinpoche afirma:
São as nossas mentes que nos puxam descontroladamente no ciclo da existência. Cegos à natureza verdadeira da mente, nos fixamos em nossos pensamentos, que na verdade são apenas manifestações dessa natureza.
Pela fixação, o estado desperto é congelado em conceitos rígidos como “eu” e “outro”, “desejável” e “repulsivo”, e muitos outros. É assim que criamos o samsara.
Mas se pudermos derreter o gelo dessas fixações seguindo as instruções de um professor, o puro estado desperto recupera sua fluidez natural.
Para dizer de outro modo, se você cortar uma árvore em sua base, o tronco, galhos e folhas caem todos juntos. Similarmente, se cortar os pensamentos em sua raiz, toda a ilusão do samsara vai entrar em colapso.
Tudo que vivenciamos — todos os fenômenos do samsara e nirvana — aparecem com a claridade vívida de um arco-íris e, assim como um arco-íris, são vazios de qualquer realidade tangível.
Quando você reconhecer a natureza dos fenômenos — manifestos e simultaneamente vazios — sua mente será libertada da tirania da ilusão.
Apenas sua mente lhe aprisiona ou liberta
Reconhecer a natureza última da mente é realizar o Estado de Buda. Falhar em reconhecê-la é mergulhar na ignorância. Em todo caso, é sua mente, apenas sua mente, que te liberta ou amarra.
Isso não significa contudo que a mente é uma entidade a ser trabalhada, como um pedaço de barro que um artesão precisa moldar. Quando o professor introduz o discípulo à natureza da mente, ele não está apontando para nenhum objeto concreto. Quando o discípulo procura e acha essa natureza, ele não se apodera de alguma entidade que pode ser capturada.
Reconhecer a natureza da mente é reconhecer sua vacuidade. Isso é tudo.
É uma realização que acontece no reino da experiência direta e não pode ser expressa em palavras.
Esperar que tal realização seja acompanhada de clarividência, poderes miraculosos e outras experiências extraordinárias seria se iludir.
Apenas devote-se ao reconhecimento da natureza vazia da mente!
Sobre as três perguntas para encontrar o caminho de volta do labirinto chamado de sofrimento, melhor ouvir o podcast. Trago alguns exemplos, práticos e diretos.
Ouça agora o PODCAST 3 perguntas para encontrar o caminho de volta do labirinto chamado “sofrimento
REFERÊNCIAS
- Os portões da prática budista →
- The Hundred Verses of Advice: Tibetan Buddhist Teachings on What Matters Most →
- Introdução ao Budismo por S.S. Dalai Lama →