Dada a importância da tradição budista na origem de mindfulness e, principalmente, no tema da compaixão, é interessante conhecer sua influência. Vários dos protocolos terapêuticos sobre compaixão e muitas de suas práticas vêm do budismo. Uma das definições de compaixão citadas com mais frequência em mindfulness é a do Dalai Lama (2001): “Compaixão é o desejo de que todos os seres sencientes sejam livres do sofrimento”. Um dos aspectos que mais impressionou o Dalai Lama e os monges budistas quando chegaram ao Ocidente e falaram de compaixão foi a dificuldade que nós, ocidentais, temos em gostar de nós mesmos.
Enquanto no Oriente não há dúvida de que um indivíduo ama a si mesmo e a dificuldade, nesse caso, é amar os outros, no Ocidente o problema é o oposto. De alguma forma nos confrontamos com uma mudança ocorrida em nossas sociedades ao longo dos séculos; em muitas tradições, como a cristã, dizia-se “Amar o próximo como a ti mesmo”. Ou seja, o amor por si mesmo, sempre considerado o exemplo da expressão máxima de afeto, parece não fazer mais sentido em muitas sociedades, por passar a ideia de que amamos somente a nós mesmos.
Outro aspecto importante na tradição budista é a diferença entre compaixão e bondade amorosa. A palavra metta é traduzida como “bondade amorosa” (loving kindness) e consiste em “um sentimento de amor desinteressado pelos outros (sem apego, sem buscar o benefício próprio) que reflete o desejo de que todo mundo, sem distinção alguma, seja bem-aventurado e feliz ” (Dalai Lama, 1997). A principal diferença entre bondade amorosa e compaixão está na ausência ou presença de sofrimento. Se não existe sofrimento, o desejo de que os outros sejam felizes é “bondade amorosa” (metta, loving kindness). Se há sofrimento, o desejo de que os outros estejam livres dele é “compaixão” (karuna).
Citando Germer (2009), a compaixão seria um aspecto da bondade amorosa. Em última instância, tudo é compaixão, já que, por definição, todos os seres humanos experimentarão a dor primária (envelhecimento, doença e morte-tanto a própria como de seus entes queridos), mesmo que o sofrimento não seja evidente em um determinado momento.
Extraído do livro “A Ciência da Compaixão”, Ausiàs Cebolla I Martí, Javier García- Campayo, Marcelo Demarzo, editora Palas Athena), p.29-30