“Sidarta fez uso de muitos métodos hábeis para inspirar as pessoas. Certo dia, um monge notou um rasgo no manto de Buda Gautama e se ofereceu para costurá-lo, mas Buda recusou a oferta. Ele continuou a caminhar e a pedir esmolas com seu manto rasgado. Os monges ficaram perplexos quando ele se encaminhou para o refúgio de uma mulher indigente, pois sabiam que ela não tinha esmolas para dar. Ao ver o manto rasgado, a mulher se ofereceu para consertá-lo com o pouco de linha que tinha. Sidarta aceitou e afirmou que por causa daquela ação-virtuosa, na próxima vida ela renasceria como uma rainha das esferas celestiais. Muitas pessoas se inspiram nessa história para praticar os atos de generosidade.
Em uma outra história, Sidarta advertiu um açougueiro que matar criava carma negativo. Mas o açougueiro disse: “Isto é tudo o que sei fazer; este é o meu ganha-pão.” Sidarta disse ao açougueiro para, pelo menos, fazer o voto de não matar do pôr do sol até o nascer do sol. Ele não estava dando permissão para o açougueiro matar durante o dia, mas, sim, conduzindo-o a gradualmente minimizar suas ações nocivas. Esses são exemplos da habilidade de meios empregados por Buda para ensinar o Darma. Ele não disse que a mulher pobre iria para o céu por ter costurado o manto dele, como se ele fosse um ser divino. Foi a própria generosidade da mulher que propiciou sua boa fortuna.“
~ Dzongsar Jamyang Khyentse em “O que faz você ser budista?” p. 106 e 107.
O que não pode ser visto, não pode ser compreendido e nos causa medo.
Podemos resumir o carma como impulsos com os quais não sabemos lidar. Esses impulsos provocam as dez ações não virtuosas que por sua vez, produzem sofrimentos específicos – a curto, médio e a longo prazo – e, portanto, esses impulsos deveriam ser evitados.
As ações equivocadas, também chamadas de não-virtuosas, são: matar, roubar, conduta sexual imprópria, mentir, difamar, fala áspera, tagarelar, cobiçar, querer machucar o outro de alguma forma e visão errônea (visão equivocada de mundo).
Uma forma mais sutil, é perceber o aspecto interno da experiência, temos carmas primários que aparecem de acordo com as situações secundárias. É um movimento que, de modo geral, nos deixa frágeis e impotentes. Temos sementes sutis de sofrimento que dependem de circunstâncias objetivas para eclodirem, estamos nesse exato momento vulneráveis a esse movimento.
Por exemplo, podemos achar que está tudo bem, “tudo sob controle” e de repente, nos deparamos com situações específicas que fazem essas sementes amadurecem e, os seus respectivos problemas aparecem sem aviso prévio.
Toda certeza é a base para duvidarmos com lucidez
Outro exemplo mais impactante é termos certeza que não iremos machucar ou matar alguém. Entretanto, quando as situações secundárias aparecem, podemos até pensar: “Se fosse eu, já tinha passado por cima!”; “Eu jamais mataria alguma pessoa. Mas, se mexer com meu filho, pode ter certeza de que você estará morto!” Só o fato de pensarmos em agir a partir de alguma ação não-virtuosa, já nos deixa vulneráveis, frágeis, a qualquer estímulo externo.
Podcast da vez
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Arte e edição de aúdio por @lordbrito