Mérito é uma espécie de carma positivo, um condicionamento positivo. Ele induz a coisas positivas. Por exemplo, você chega nos lugares sempre querendo ajudar de algum jeito. Mesmo que a gente não tenha uma capacidade completa de gerar benefícios, tendo flutuações, a gente mantém essa posição. É natural que as pessoas olhem para você e queiram apoiar o que está fazendo.
Você também tem muitas qualidades, de vários níveis, isso é um mérito. São qualidades dentro do mundo. Naturalmente, você tem o aspecto absoluto, porque todos os seres têm a natureza de buda. Se você é uma pessoa que está buscando sinceramente andar no caminho, isso produz méritos também.
O Buda estava iluminado, mas muitos alunos dele não estavam iluminados e andavam pelo mundo. Nunca ia faltar comida, eles estavam gerando mérito e trazendo benefícios o tempo todo. A única coisa que eles faziam onde chegavam era ajudar os outros a superarem os obstáculos. As pessoas que estão se movendo assim vão ser ajudadas, isso é os méritos. Porque os outros que estão olhando não vêm o aspecto absoluto, vêm o aspecto relativo. Então, eles têm tendência a ajudar.
O processo de mendicância da Sanga do Buda é um controle de qualidade super importante. Quando os alunos do Buda, vez por outra, fizeram alguma bobagem – isso pode acontecer -, e foram mendicar, aquilo não funcionou. É como se não tivessem mérito, dá problema. A gente vai purificando o mérito.
Num sentido grosseiro, estamos falando de mérito; num sentido sutil, estamos falando de qualidades que a pessoa pode manifestar. Quanto mais elevadas essas qualidades, melhor, é o aspecto de Sambogakaia. Num sentido secreto é assim: eu não sou as minhas estruturas condicionadas, posso manifestar as coisas de um outro jeito. O fato de que a gente manifestava carmas e agora pode manifestar méritos é um exemplo perfeito disso. Nós temos uma natureza livre. Mesmo a nossa confusão pode ser vista nesse sentido.
Por exemplo, eu pratico ações cármicas, mas aspirando praticar ações positivas e livres. Ainda assim, não consigo ver como elas seriam. Justo porque não consigo ver, estou exercendo a liberdade de não seguir o aspecto cármico. Se eu visse alguma coisa, poderia pensar: aquilo é cármico. Mas a gente está olhando e não está vendo uma direção muito clara onde seguir. A pessoa está dentro de um espaço, mas não está vendo as formas. No mínimo, a experiência dela é de amplidão dentro de uma bolha. A amplidão da bolha é amplidão.
Um bom referencial de caminho é gerar méritos. Se a pessoa simplesmente gerar méritos, vai atingir a iluminação numa certa hora. Não é que os méritos em si vão produzir a iluminação – a pessoa vai acumulando e troca por bônus (risos). Não é assim. O mérito em si não resolve, mas como a pessoa vai gerando mérito, tem um dia em que ela encontra os ensinamentos de fazer as transições. Esse é o ponto.
Então, se não tem uma clareza sobre os ensinamentos mais profundos, não acho que a pessoa deveria ficar ansiosa por isso. Ela diz: eu não tenho os méritos ainda, então eu sigo produzindo méritos. E tem a hora em que a pessoa vai ouvir os ensinamentos, ela vai descobrir e ver aquilo acontecer. Isso significaria assim: de tanto em tanto, no caminho, a gente encontra um portão fechado e um grande muro. Vocês não escrafuchem aquela porta, não tentem derrubar. Vocês se sustentem na frente e aguardem, gerando méritos. Uma forma de gerar mérito é recitar o mantra de Guru Rinpoche em frente à porta. Aí, ela vai se abrir e você vai entrar. É simples assim.
Se a porta está fechada, não é que a porta esteja fechada. Nós é que não temos a capacidade de ver aberta. Está aberta, mas estamos vendo fechada. Tudo está aberto. Se estamos vendo fechado, é um obstáculo nosso. Precisamos purificar esse obstáculo. A gente faz prática e mantém os méritos. Tem uma hora que aparece alguém e diz: olhe aqui, veja ali, atravesse.”
—Lama Padma Samten, no Retiro de Inverno 2015 (transcrição de Bruna Crespo)
Para saber mais
- http://www.cebb.org.br/viver-por-merito
- http://www.cebb.org.br/a-moeda-e-merito
- É necessário acumular méritos para atingir a iluminação? Por Monja Coen
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