Impermanência significa revisitar onde estamos depositamos nossa atenção e tempo. Geralmente, nós estamos muito imersos nas bolhas e esquecemos de verdades tão profundas e simples, como as mudanças e transições.
Nós estamos sempre nos engajando em muitas atividades. Buscamos estabilizar as situações externas de modo que as coisas que gostamos saiam exatamente do jeito que queremos. Em seguida, criamos e sustentamos uma falsa sensação de segurança.
Recentemente, o apresentador Danilo Gentili tomou uma medicação por acidente e teve reação alérgica. Ele teve um choque anafilático.
Segundo Fernando Gomes, neurocirurgião, os sintomas dessa reação são: “”A pessoa pode apresentar inchaço da boca, olhos e nariz, o que o Danilo apresentou; sensação de bola na garganta, isso porque a glote também fica inchada, atrapalhando o tráfego do ar para os pulmões; aumento da frequência cardíaca; dificuldade para respirar com chiado; dor abdominal, náuseas e vômitos.”
as situações criadas fora de nós são artificiais! Elas são como castelos de areia construídos na beira da praia, por uma criança. Nós apostamos nossas fichas nessas escolhas que tomamos, sem examinarmos com cuidado as suas consequências.
Tudo o que é construído está sujeito a mudança, ou seja, tem início, meio e um fim.
Impermanência sem alardes
Num primeiro momento, isso pode parecer agourento ou mórbido, entretanto os ensinamentos sobre a impermanência sugerem que é melhor desconfiarmos onde estamos depositando a nossa segurança de fato.
Uma posição extrema, seria aceitar a impermanência como um conceito, como uma ideia. Porém quando nossas supostas seguranças são ameaçadas, não conseguimos consolar a nós mesmos com esses biscoitos da sorte fajutos… Pior ainda, é se atinge um familiar nosso, por exemplo.
Não estudamos a impermanência para nos enfeitar filosoficamente, mas sim, se liberar dela. Em primeiro lugar, não conseguimos aceitar a impermanência se estamos entupidos de nós mesmos a respeito dela.
Isso significa se recusar a olhar mais de perto, é um medo mais sofisticado se entupir de conceitos a respeito. Nós precisamos de um olhar mais curioso sobre essa tal impermanência.
A impermanência como o contrato invisível com a vida
Dentro das bolhas da realidade, o nosso contrato de aluguel com a vida é resumido em duas cláusulas: “se eu gosto, eu quero e portanto mantenho! Seguro a experiência com as duas mãos! Se eu não gosto, eu não quero e portanto, que isso mude logo, se afaste de mim o quanto antes!”
De modo gradual, notamos que a nossa condição é incerta, instável e as únicas coisas permanentes são as transformações: a mudança é a única constante na vida.
Por exemplo: a visão de universo que temos hoje, o clima durante os meses, as construções civis, o planeta terra, o fluxo econômico de um país, nossos relacionamentos, nossos empregos, todas as estruturas sólidas que servem como base para uma sociedade “ideal”, as estações do ano, o nosso corpo, os nossos sentidos físicos, os monumentos históricos, nossas residências, as pessoas ricas ou famosas na história, amigo(a)s próximo(a)s, familiares, os grandes mestres das diferentes tradições, as fases da vida — infância até a terceira idade, nossas mudanças de paradigmas, a tecnologia, as tendências da moda, as nossas emoções e assim por diante.
Ainda assim, seguimos cheios de planos – seguros nas nossas escolhas – como se as coisas pudessem durar para sempre. Infelizmente, de modo geral, essas escolhas têm como resultado viciado uma insatisfação comum, a queixa diante da mudança e da morte.
Ninguém pode morrer por nós, ninguém sofre a nossa crise, por exemplo. Ao mesmo tempo, é um lugar comum a todos nós. É um bom ponto de partida pois todo mundo é parecido quando sente dor. Não é a dor o problema, tão pouco a impermanência, tão pouco a morte e sim, a maneira como discernimos isso com as perspectivas ao nosso alcance.
Se estamos conscientes de que uma vida plena, que vale a pena ser vivida é servir, oferecer. Entendemos que contemplar a impermanência nos direciona para a compreensão mais profunda – compaixão e paciência.
Impermanência como força motora da transformação
Contemplar a impermanência nos redireciona para o que realmente precisa ser feito: nos movemos com a motivação de praticarmos os ensinamentos.
Sentimos que precisamos rever nossa agenda: atividades sem fim e o “seria melhor se” Melhor ainda, seria olharmos de modo mais profundo: “Será que essas situações são insatisfatórias e impermanentes?”
Para praticar :
- Quais são as nossas prioridades atuais: orgulho, inveja/ciúme, desejo/apego, torpor, carência, raiva/medo?
- Como estamos usando o nosso tempo?
- O que estamos nutrindo nossa mente durante esse tempo?
- Quanto tempo falta para as emoções perturbadoras e pensamentos neuróticos acabarem?
- Quando chegará a próxima doença ou até mesmo a morte?
- Por quanto tempo mais serei refém dos meus apegos?
- Quais garantias tenho sobre a vida e a morte?
Ler é insuficiente. É preciso respirar a impermanência
Questionar o fator da impermanência diz respeito a redirecionar a nossa rota e percebermos o quanto tempo dedicamos aos impulsos e desejos infinitos que por sua vez resultam em esgotamento, cansaço, amargor e negatividade em nós.
Não mudaremos apenas lendo pois o próprio raciocínio intelectual é volúvel.
Precisamos contemplar a impermanência várias vezes até criarmos coragem para encarar as nossas dificuldades. Precisamos iluminar os obscurecimentos da mente, de modo a propiciar o mesmo para os outros. Percebemos que a contemplação da vida humana preciosa e a impermanência nos coloca em marcha no caminho de transformação.
Ainda assim, temos os dois últimos pensamentos que são quase invisíveis e indissociáveis, o carma e o sofrimento.
Referências
- Vida e morte no budismo tibetano →
- Os portões da prática budista →
- Viver é morrer →
- Apaixonado pelo mundo →
Para estudar em vídeo: por que você deveria fazer amizade com a impermanência?
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