Qual é o propósito da vida? Por Dzongsar Khyentse Rinpoche

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Qual é o propósito da vida na visão budista?

Em vez de perguntar “qual é o propósito da vida”, o budismo nos incentiva a perguntar “o que é a vida”. Somos convidados a olhar para dentro. Estudar a si mesmo é perceber que não existe um “eu” permanente.

Nesse vídeo, o renomado professor budista Dzongzar Khyentse Rinpoche, compara a ignorância fundamental sobre a existência humana à ignorância sobre a mudança constante das nossas mãos.

Nossos valores e relações mudam ao longo do tempo, assim como nossas emoções e sentimentos. Nossos valores e entretenimentos também mudam ao longo da vida, e eventualmente, em algum momento, essas coisas não importarão mais.

Dzongsar então nos faz refletir sobre a visão budista dos 3 venenos da mente: a ignorância, a raiva e medo, e a ganância.

Assista o vídeo “Qual o propósito da vida?” ou se preferir, leia o texto devagar e busque exemplos em sua própria experiência.

Qual é o propósito da vida?

Frequentemente as pessoas fazem essa pergunta: “qual é o propósito da vida?”. Eu acho que essa é uma pergunta equivocada a se fazer para um budista. Em vez disso, a pergunta deveria ser: “o que é a vida?”

Um grandioso mestre zen, disse uma vez: Estudar o budismo é estudar a si mesmo. E estudar a si mesmo é perceber que não existe um “eu”. E essa é uma forma muito bonita de resumir. Então, eu espero que com minha breve introdução, vocês tenham um vislumbre do que é a vida pela perspectiva budista.

É como… como chamam? Misterioso? Absolutamente não. É algo tão direto. Pode ser assim, como… como quando se apertam as mãos. Você diz: “eu quero apertar as mãos com você”. Então vocês apertam as mãos. Você não pensa, em termos de: eu quero tocar seu suor. Eu quero tocar sua pele e ossos. Você não pensa em termos de partes.

Nós pensamos em termos de uma unidade inteira. Isso é ignorância. Também, quando nós pensamos nas nossas mãos, nós sempre pensamos: essa é a mesma mão que eu tinha ontem. Certo? Todo mundo pensa assim, “essa é a mesma mão que eu tinha ontem”, e essa será a mesma mão no futuro, amanhã ou no próximo minuto. Mas esse não é o caso, a mão está sempre, sempre mudando.

Os 3 venenos da mente

Lembre-se, porque sua preciosa mão também está embaixo das garras do Senhor Yama, o tempo. E isso faz sentido, porque se suas mãos não estão
sujeitas ao tempo, você não precisaria de hidratante. Porque as suas mãos precisam de hidratante, isso prova que estão mudando. E pior ainda, elas decaem. Envelhecem.

Terão rugas, então, finalmente, desintegrarão e se desmancharão. Mas, todo o tempo, há uma suposição escondida de que essa mão é a mesma que eu tinha 20 anos atrás.

Então, quando falamos sobre a ignorância, não falamos sobre nada excepcional,
nada misterioso. Nada de caráter místico. Estamos falando de uma ignorância fundamental de não conhecer a verdade sobre nossa existência. Não importa se as mãos são apenas um exemplo, mas se aplica a toda situação. Nossas emoções, nossos sentimentos, nossas relações, nossos valores. Coisas que damos valor hoje, não daremos valor amanhã.

Se eu modificar um pouco do que o grande mestre indiano, bengalês, Atisha Dipankara, disse:

nossos valores mudam a todo momento. Quando éramos crianças, dávamos valor às nossas bonecas, nossos brinquedos. Se alguém quebrasse nossos brinquedos, naqueles tempos, ficaríamos malucos. Agora, isso não importa tanto. Agora nós os renunciamos.

Nós automaticamente nos tornamos renunciados, pelo menos, dos brinquedos. Quero dizer, a maioria de nós. Agora temos um novo brinquedo. Nós temos um novo entretenimento, não importa o que seja.

Os 3 venenos da mente

Não importa, carros velozes, o que seja. Celulares, o que seja. Quando
você chegar, talvez, aos 80 ou 90 anos, essas coisas não importarão. Então, talvez, serão toalhas de mesa, talvez um saleiro, não sei, bengalas. Eu não sei o quê. Algo assim. Então é assim que nossos valores mudam. Tudo muda, mas a todo momento, nunca percebemos isto. E é isso que o porco representa. E o porco é um ícone muito importante nisso tudo. O porco também é a fonte do tempo e do espaço. Por causa da ignorância, por causa das suas suposições, então surgem o tempo e o espaço.

É assim que o budismo interpretaria. E agora, uma vez que você tem o porco, a ignorância, você sempre terá duas outras emoções. De modo geral: esperança e medo. A esperança… fica… quando a esperança se torna mais forte e construtiva, e quando ela se torna mais assertiva, então a esperança é o que se torna a ganância.

Desejo. Apego, que é geralmente representado pelo galo. Que supostamente é insaciável, eu não sei o porquê. Mas é isso que os budistas, 2600 anos atrás, decidiram que os galos são. Insaciáveis. E então, o medo.

Quando o medo se torna… incontrolável. Quando o medo se torna muito grande, ele se transforma em agressão. Então essa agressão é representada pela cobra. Paranoica, sempre em pânico. Rápida em fazer afirmações.

Então, esses 3… a ignorância, o desejo e a raiva, são como o criador supremo de toda essa percepção chamada vida.


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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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