Se nos sentimos eternos e extremamente felizes, mas alheios ao sofrimento dos outros, provavelmente estamos anestesiados no reino dos deuses. A emoção perturbadora que rege esse reino é o orgulho.
Basicamente, existem os deuses e todos os outros seres são seus subordinados. Eles “sabem como é”, você me entende? Nesse reino, os méritos são maculados pelo orgulho e isso produz condições maravilhosas. Os deuses se sentem muito aflitos quando precisam sair do seu conforto seja mental ou grosseiro pois acabam lidando com uma situação que desacostumados – a insegurança e a dor.
Como estão rodeados de condições externas muito favoráveis e diversão, se tornam incessíveis aos ensinamentos, nem cogitam praticar o Darma.
Para lidar com orgulho, basta compaixão
Quando a morte se aproxima, se tornam desconfortáveis e inquietos. Sua textura e alegria murcham. Embora rodeados de plateia, nesse momento, se sentem abandonados. Por sua vez, percebem que estão morrendo e sua angústia cresce. A lamúria e lamentação é uma das formas de anunciação da queda dos deuses. Segundo Patrul Rinpoche, o sofrimento experimentado pela transmigração de um deus é duas vezes pior que a dos infernos.
Toda alegria que o mundo contém
Vem de querer felicidade para os outros
Todo o sofrimento que o mundo contém
Vem de querer felicidade para si mesmo
Há necessidade de longas explicações?
Os seres infantis cuidam de si mesmos,
Ao passo que os budas trabalham pelo bem dos outros.
Veja a diferença que os separa!
~ Shantideva, em o caminho do bodisatva, p. 182,183.
O principal benefício de se praticar a compaixão é desfazer quaisquer encantamento que nos prenda a essa emoção perturbadora. Não negamos o orgulho, temos consciência dele. Vemos os pontos cegos (sofrimento da transmigração, mudança e da morte ) e, agora, direcionamos a nossa motivação de seguir nos mesmos lugares com bodicita. É como se fazer de agente secreto e seguir com os olhos abertos de lucidez diante da arrogância, prepotência e neurose baseadas no orgulho.