O que significa o termo “paisagem”? As definições aqui usadas são explicadas pelo Lama Padma Samten.
O que é paisagem?
A paisagem é um reflexo do conteúdo prévio contaminado pelos três venenos e alguma das seis emoções perturbadoras, os doze elos e naturalmente os impulsos de ação-não virtuosa de corpo, fala e mente. A força do carma se enfraquece quando praticamos shamata.
Usualmente [nos ensinamentos], nós apresentamos os aspectos de corpo, fala e mente. Porém, vamos adicionar o ponto da paisagem junto ao aspecto de mente. Essa mente, de modo usual, ela inclui o aspecto da originação interdependente, e antes dessa ação usual, temos o ambiente onde aquilo se constrói. Isso corresponde ao aspecto da paisagem.
Exemplo do sonho como paisagem
Por exemplo, no sonho à noite, aquilo se apresenta e nós reagimos dentro da paisagem, aquilo parece real. O que nos prende é a energia junto a paisagem. Não é o aspecto lógico, a causalidade. Aquilo parece denso.
Quando a paisagem cessa, o sofrimento e ações do jogo perdem sentido. Nós não estamos acostumados a ver esse movimento da paisagem atuando. Nós nos habituamos a ver apenas o movimento encadeado [da mente] dos doze elos.
Temos o céu [da mente], temos as nuvens. Nós não temos como perder o céu e as nuvens seguem se reconstruindo.
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Dentro das paisagens nossas retinas são estampadas pelos seis reinos. Cada paisagem possui uma ambiguidade em descrever as coisas. É basicamente uma percepção acostumada e sem lucidez diante das coisas.
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A lógica de mundo, a lógica da paisagem
A nossa compreensão é inseparável da paisagem na qual estamos operando. Temos um conjunto de referenciais sutis não expressos, que não são referenciais lógicos, racionais, discursivos. Esses referenciais dão significado, sentimento, vida a todas as coisas.
Assim, as palavras não vivem sozinhas, elas adquirem seus significados dentro das paisagens em que estamos atuando. Quando nos deslocamos de paisagem, as palavras perdem o brilho. Assim, é necessário retornar à paisagem original e olhar as mesmas palavras novamente para que elas, de novo, ganhem vida.
Quando estamos sob o efeito de algum vento especial, de alguma circunstância como, por exemplo, em pé no ônibus indo para a faculdade fazer uma prova, é como se estivéssemos no meio de um sonho. Tudo aquilo que ouvimos antes não tem valor, parece que não tem significado. Depois que passa a febre, o nosso estado, olhamos novamente, e os ensinamentos readquirem seu significado.
O mesmo acontece quando estamos em meio a uma emoção perturbadora muito intensa, como a raiva, por exemplo. Nesse momento, parece que os ensinamentos do Buda não funcionam. Quando a raiva passa, a pessoa volta aos ensinamentos e pensa, “Claro, por que eu não me dei conta disso no meio da raiva? Eu certamente não teria agido daquela forma!” Mas em meio a tais circunstâncias, parece impossível ouvir a sabedoria que tínhamos no dia anterior.
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O engano revela a sabedoria
Cada pessoa atua em uma paisagem. Se a pessoa está perturbada, sua mente originalmente livre, idêntica a nossa mente originalmente livre, está atuando dentro de uma paisagem que é como um tabuleiro de jogo de xadrez — onde tudo faz sentido, mas apenas dentro daquele universo limitado.
Esta é a perturbação usual de cada um. Uma pessoa, mesmo que não se sinta perturbada, ela tem a capacidade de — através de seu corpo, de sua fala e de sua mente — expressar-se naturalmente dentro da paisagem que está operando, mesmo que isto não seja intencional ou mesmo que ela evite fazer isto.
Quando o outro olha este movimentos de corpo, fala e mente, tenta entender. Quando neste processo ele entende, é muito freqüente que ele entenda e ao mesmo tempo transfira sua experiência para dentro da paisagem da outra pessoa.
Transferir a experiência significa ficar preso às responsividades que passam a naturalmente surgir dentro desta nova paisagem. É como alguém que passou ao lado, viu as alternativas do jogo de xadrez que duas outras pessoas jogavam, e fica preso, quer dar palpites etc. Um aspecto é a paisagem que o outro entrou e o segundo aspecto é a responsividade atuando. Aí é simples.
Se as alternativas do jogo são complexas, contraditórias, conflituosas, a responsividade surge assim também e a pessoa se sente muito mal. Tentar resolver isto dentro do jogo pode ser uma possibilidade. Outra possibilidade muito mais poderosa é propor outra paisagem.
A melhor forma de propor outra paisagem é manter-se claramente nesta outra paisagem, e dela, para benefício de todos, gerar as ações melhores e mais amorosas, compassivas, bondosas, equilibradoras, incrementadoras, transcendentes ou mesmo iradas (no sentido da compaixão irada).
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A paisagem define o que nós podemos ou não ver. Isso é definido por avydia. A pessoa não vê que está presa. Não é a objetividade que nos prende, é a paisagem.
Ensinamento em vídeo
**Imagem de Bertsz por Pixabay
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