Você já ouviu falar sobre psicologia budista?
Antes de entrar no tema, introduzo a seguinte história:
Laura de Holanda é uma excelente professora em sua área de atuação. Leciona a cadeira de matemática computacional há dez anos. Tem louvor e apreço pela ciência, pela academia.
Em um certo dia, ela explicava um certo algoritmo complexo que lhe rendeu uma aula inteira, de noventa minutos, para ser mais exato. Ela preencheu toda a lousa e por ser métodica, detalhou cada passo para a turma 42, uma das três turmas que ela dava aula nesse semestre.
Ao final da aula, um aluno levantou a mão e perguntou se poderia opinar. Ela, educadamente, disse que sim, claro! O jovem franzino apontou duas possíveis soluções para o mesmo problema que ela.
Duas soluções simples e que reduziram os anos de estudo e dedicação do pós-doc ao tamanho de um amendoim japonês.
Imediatamente, ela foi tomada por uma tensão e por algum motivo, não conseguia mais enxergar, ouvir e estar aberta as sugestões do aluno a sua frente.
“Do nada”, algo sequestrou a vida da Laura do momento presente.
Sua atenção congelou a si e ao jovem gênio da matemãtica.
Paralisada, ela reagiu em piloto automático?
O que você acha que aconteceu?
Como entender o mundo interno?
A psicologia budista surge pela compaixão de encontrar os seres onde estão e acolhê-los a partir de sua visão, sem apontar dedod. “Psicologia” conota olhar para dentro. “Budista” sugere os métodos e ferramentas disponíveis ao nosso alcance, no caminho de transformação.
“Como ajudar?” é a pergunta principal, é o eixo dessa maneira aberta de ser e olhar para o mundo.
Começamos pelo impulso natural de aliviar o sofrimento nosso e dos outros. Porém, podemos também desejar a liberação do apego e da aversão, das suas causas, do samsara.
Entendemos a visão de mandala das sabedorias, como um recurso interno disponível: prajnaparamita, cinco sabedorias, Buda da medicina, Mandala do lótus e assim por diante.
Onde surgiu a psicologia budista?
Quando o Buda Sakyamuni atingiu a liberação do apego e aversão, do samsara e suas causas, ele observou o funcionamento da mente de maneira profunda. Então, ele se deu conta da situação dos seres, em geral: confusos sobre quem são e portanto, nadando em sofrimento no pântano do samsara.
O Buda detalhou todas as experiências de sofrimento, tristeza, dor e amargor. Elas estão descritas em doze etapas ligadas entre si e a sustentação das bolhas de sofrimento como resultado. O caminho inverso, é a saída dessa prisão.
Com a inteligência de Prajnaparamita, ele percebeu que era desnecessário nos excluirmos do mundo e sim, termos clareza que a nossa experiência interna e externa são uma.
Ao percorrer os doze elos, ele viu que esse movimento da mente é como percorrer uma escada rolante, em doze degraus. Como reconhecer essa inteligência?
É um olhar natural, não vem de um raciocínio lógico e sim, pela energia autônoma.
Nós vamos avançar mais rápido se desejarmos usar a liberação como caminho principal. Por que? Porque tudo que vamos precisar fazer é olhar mais de perto para os potenciais de carma (primário e secundário). Nós somos travados sempre pelas mesmas situações – ignorância e medo.
Psicologia budista e os doze elos da originação dependente
Os doze elos da originação dependente são a maneira como criamos a experiência de solidez e dor ao nosso redor. Não é uma maldição… Os doze elos explicam também a maneira como o carma se instala e nos arrasta, com destino ao sofrimento.
A saída desse processo e percorrê-lo na direção contrária: do décimo segundo até o primeiro, encontrando assim a raiz de todos os nossos problemas – a ignorância fundamental sobre a interdependência. Nada se faz sozinho, tudo se apoia!
Ao internalizar essa compreensão profunda da realidade, nós passamos a nos alegrar com a magia de cada momento pois o sofrimento agora é visto a partir da sabedoria.
Quando vemos as coisas com agarrar ou afastar, estamos míopes sobre quem somos. Em resumo, as etapas para esse reconhecimento são:
- Parar e se distanciar dos impulsos com a meditação;
- Olhar para dentro com curiosidade sem agarrar ou afastar os pensamentos;
- Prajna: Tocar, reconhecer e liberar o que surge;
- Liberdade de um mundo interno como oferecimento e potência de lucidez
Você não se faz sozinho, tudo se apoia!
REFERÊNCIAS