O que são mantras?

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O que são mantras? Usualmente, recitamos essas palavras mágicas pois nos encontramos estressados ou agitados mentalmente. Então, lentamente, o ruído interno se acalma e algo acontece. Dentro de um contexto mais amplo, os mantras estão vinculados à compaixão. Assim, se olharmos com mais profundidade, esse tema não diz respeito a um contexto budista, em si mesmo. E sim, a formas mais profundas de olharmos para nós mesmos, começamos a perceber que existe um conjunto de recursos internos disponíveis e que podem nos servir de base para nos relacionarmos mais abertos e precisos interna e externamente.

A seguir, nós vamos usar alguns trechos de grandes mestres da tradição budista e suas colocações sobre o assunto. É claro que os mantras podem ser usados em diferentes contextos, mas aqui iremos vê-los dentro de uma abordagem associada a visão da realidade tal como ela é.

O que são mantras?

S.S. o Dalai Lama (A essência do Sutra do Coração, p.116) explica o significado dos mantras da seguinte forma:

“O significado etimológico de mantra é ‘proteger a mente’”.

S.E. Gyalwa Dokhampa (A lua no espelho: uma visão incomum da Prajna paramita, p.132) afirma sobre os mantras:

A raiz “man” provém do sânscrito manas, que significa “intenção” ou “direcionamento mental”, enquanto o sufixo “tra” exprime um instrumento de enganchar, um recurso de “acionamento” que protege a mente. Um mantra é uma proteção mental expressa através de uma série de sílabas místicas que invocam a energia de um Buda ou bodhisattva. A repetição (sânsc. japa) de mantras no Vajrayana é tão importante que o budismo esotérico também é chamado de Mantrayana, o Veículo do Mantra. Existem também os dharanis, mantras mais longos, e as sílabas semente (sânc. bija), que sintetizam a essência da mente iluminada ou da natureza última da realidade.

Mantra é uma oração?

O professor e artista Kazuaki Tanahashi em (O Sutra do coração: um guia abrangente para o clássico do budismo mahayana, p.41)

Um mantra é uma fórmula sagrada de sons especialmente combinados e usados como um encantamento mágico. Ao longo dos séculos, mantras vêm sendo utilizados na tentativa de invocar efeitos sobrenaturais, especialmente para afastar desastres e gerar curar e felicidade. 

Vocês podem considerar um mantra como uma oração pré-definida, na qual o significado literal é desconhecido ou insignificante. Como os sons de um mantra não são facilmente compreensíveis, eles não têm um apelo ao intelecto, mas reverberam dentro de corpo, coração e mente. Em vez de nos fazer pensar, os sons nos ajudam a apenas ser, de uma forma que inclui reverência. 

Como recitar um mantra pode nos ajudar?

A recitação de um mantra pode nos ajudar a reunir corpo, coração e mente. Às vezes, na meditação e na vida, ficamos perdidos, confusos ou entramos em pânico. Recitar o Sutra do Coração pode nos ajudar a nos tornar focados e destemidos. Isso aconteceu com o monge erudito Xuanzang quando estava só, cruzando o Deserto de Gobi até a Índia. O Sutra também ajudou Hokiichi Hanawa em sua forte motivação de compilar os principais textos literários japoneses. 

Os humanos são inclinados a rezar. Podemos rezar para Deus, para o Buda, um bodisatva, um deus ou deusa com os quais sintamos uma conexão sagrada ou qualquer objeto de veneração. Ou podemos apenas rezar sem ser para ninguém. Quando nossos amigos estão doentes, nós lhes direcionamos orações. Eu conheci até mesmo ateus que rezaram, de sua própria forma, quando seus filhos estiveram doentes. Quando todos os procedimentos médicos e de cuidados de saúde se exaurem, frequentemente não conseguimos deixar de rezar.

A visão científica sobre o tema

Enquanto nos sentimos saudáveis e fortes, podemos não sentir a necessidade de oração. Mas algum dia, caso nos sintamos frágeis e desesperados, será útil ter um bom encantamento à mão, especialmente o mantra do Sutra do Coração, que tem sido recitado por incontáveis pessoas há séculos. O poder acumulado desse mantra deve ser enorme. 

Apesar de a ciência não explicar exatamente como isto é possível, recentes estudos científicos sugerem que as orações têm o poder de curar? Sabemos, desde a antiguidade, que nossos corações e mentes são tão poderosos que o direcionamento concentrado de nossa atenção em preces e encantamentos pode, às vezes, funcionar. 

Dogen chama tal efeito sobrenatural do uso concentrado de nossos corações e mentes de “pequeno milagre”.  Para ele, cada momento de prática e cada respiração que contemplamos é um “grande milagre”. Ele diz: “Milagres são praticados três mil vezes pela manhã e oitocentas à noite.”

Mantras são palavras mágicas?

Milagres menores criados por mágica não eram necessários para Dogen, completamente comprometido com a prática de meditação Zen. Talvez seja por isso que ele não menciona o mantra em seu comentário sobre o Sutra do Coração: A manifestação da Prajna Paramita. Mas, como a maioria de nós pode ser frágil, o mantra pode ser extremamente útil.

Como explicarei mais adiante, o mantra do Sutra do Coração – Gate, Gate, paragrate, parasamgate, bodhi! Svha! – pode ser interpretado como “Chegando, chegando, chegando por todo o caminho, chegando completamente por todo o caminho: despertar. Alegria!”. Este é um lembrete maravilhoso para nossa prática de meditação. O de que cada momento de nossa prática é, como Dogen sugere, inseparável do despertar ou da iluminação. Cada momento de nossa prática e de nossa vida é abençoado. 

Eu vejo o mantra do Sutra do Coração como uma poderosa ferramenta para a meditação, uma espada de dois gumes da consciência humana. Um lado nos relembra a alegria da prática e da vida. O outro nos protege da confusão e da fragmentação de nossa consciência. Assim, vocês podem ver o mantra do Sutra do Coração como um lembrete constante sobre nossa natureza desperta que mantém a sabedoria além da sabedoria funcionando efetivamente.

Para saber mais sobre mantras:

Capa de Erdenebayar Bayansan por Pixabay

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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