Para o budismo, o eu existe?

para-o-budismo-o-eu-existe
Tempo estimado de leitura: 2 minutos

Para a maioria das pessoas, o “mundo” é tudo aquilo que pode ser verificado com os sentidos físicos. Nossos fundamentalismos eclodem aos nossos olhos se somos questionados a respeito.

Pela compreensão de como a mente dos seres operam por avidya, a resposta não pode cair em extremos do tipo “sim ou não.” A mente dualista cai no abismo dos extremos: “isso é” ou “isso não é.” 

A natureza experimental do budismo e a questão da existência do eu

Esse tema sobre se o eu existe ou não, ele precisa ser visto a partir dos olhos de Prajnaparamita. Nós temos os olhos comuns que caem em fundamentalismo e temos a realidade tal como ela é.

O budismo não nasceu de ideias, ele nasceu de experimentação. Às vezes, as pessoas caem nessa coisa de se o eu existe ou não, como se fosse um fetiche intelectual. Essa pergunta se o “eu existe”, ele é maior, é sobre a sabedoria.

O ponto central quando olhamos para essa questão se o eu existe ou não não é simplesmente cairmos numa questão intelectual acadêmica. Lá na origem do Darma, quando Sidarta Gautama senta em silêncio, ele busca entender a natureza das nossas inquietações, qual é a natureza do nosso sofrimento? Ele ultrapassa a rigidez do eu e transcende essas limitações de isso é ou não é, a mente dual.

A importância da motivação bodicita na compreensão da natureza do eu

Ele descortina o que chamamos de as 4 Nobres Verdades.

Para a maioria das pessoas, as 4 Nobres Verdades parecem uma poesia. É algo encantador e que apenas os seres encantados, budistas e iluminados, podem colocar em prática. Mas, o próprio Sidarta era uma pessoa comum antes de descobrir as 4 Nobres Verdades. Veja, não são ideias, nem teorias. São uma visão que eu vou te oferecer e você testa se aquilo é verdade ou não. É uma experimentação.

Quando perguntamos se o eu existe ou não, eu precisaria ter uma base maior, tipo uma plataforma para olhar para isso para além do eu, do autocentramento. Eu precisaria ter uma motivação maior que gosto ou não gosto; quero ou não quero; desejo ou aversão.

A natureza intrínseca desse eu é volátil. Precisaria entender a motivação dos bodhisattvas, a motivação bodicita, a atitude mahayana. Nós queremos olhar para os próprios obstáculos e poder ajudar os outros seres a também se liberarem dessas dificuldades.

O eu existe? Origem dependente e a visão das experiências como luminosidade

Olhamos Pratītyasamutpāda, vemos as experiências como luminosidade, originação dependente. Parece complexo falando assim. Voltamos então às 4 Nobres Verdades, ou seja, essa pergunta “eu existo ou não existo” será respondida à luz da originação Dependente.

Por exemplo, eu olho aqui para minha mão e vocês podem fazer o mesmo. É natural que vocês olhem e digam “essa é” a minha mão. Não vemos, por exemplo, que essa mão que eu tô vendo aqui agora ela não é a mesma mão de ontem.

“Melhor ainda, eu olho para mão digo que é minha e eu não consigo ver que o que eu estou chamando de minha mão é feito de carne, ossos, tendões, ou seja, eu não vejo a originação dependente.”

Quando eu olho e digo “essa é minha mão”, estou olhando dentro de uma perspectiva de apego. Assim, caímos na ideia de que tudo gira em torno de mim, e o que eu olho cai em extremos: “isso é” ou “isso não é”.

Assista agora: segundo o budismo, o eu existe?


Inscreva-se para receber os informativos gratuitos da Roda do Darma por e-mail .



Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *