10 | Ao se ensaboar ou fechar um contrato, esteja presente na ação.

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O conjunto de ensinamentos “os quatro pensamentos que transformam a mente” pode ser apresentado como “os quatro pensamentos que direcionam a mente para a prática do Dharma” – os ensinamentos do Buda. É considerado o alfabeto com o qual o aluno escreverá toda a sua prática espiritual. Às vezes, é considerada uma prática “preliminar”, ingenuamente chamada de “o jardim da infância do Darma.” 

Como estar presente? Atalhos não resolvem

Algumas pessoas pensam em pular essa etapa pois querem passar adiante, para ensinamentos mais profundos… Esse conjunto de ensinamentos serve como “a fundação da prática” e nos remonta à primeira nobre verdade – a verdade do sofrimento. O cultivo desses pensamentos é crucial para purificarmos hábitos antigos como: desejo, apego, raiva e agressividade. 

Temos muitas necessidades e achamos que elas deveriam ser preenchidas o quanto antes, a nossa lista de desejos mundanos é infinita! Tão logo nos “vacinarmos” contra eles e produzirmos uma mudança interna e real, continuaremos no caminho com uma atitude/motivação numa base sólida, estável.  

Como estamos levando nossa vida?

Esses ensinamentos nos dá uma sensação de urgência, alerta, sobre como estamos levando a nossa vida. São verdades básicas onde o caminho se apoia. Em suma, quando nos sentirmos impotentes no samsara, devemos revisitar esse conjunto de ensinamentos.

Todos os seres sencientes estão vulneráveis aos resultados de suas próprias ações e seus respectivos declínios justamente por não reconhecerem o movimento do carma. Podemos explicar o carma como estruturas internas de respostas automatizadas que inevitavelmente nos conduzem à insatisfação, desconforto ou sofrimento: a curto, médio ou longo prazo.

Nossas ações são fonte de sofrimento e felicidade

Nossas ações não são apenas fonte do nosso sofrimento, mas também da nossa felicidade. A mente é a criadora das causas e condições deste cárcere. E por incrível que pareça, ela também possui a chave de saída da prisão: como sair?  

Em “Os portões da prática budista” (p.85), Chagdud Rinpoche esclarece que a nossa mente é como um campo fértil – coisas de todos os tipos podem crescer nela. Quando plantamos uma semente – um ato, uma palavra, um pensamento – em um dado momento será produzido um fruto que irá amadurecer e cair na terra, perpetuando e incrementando aquela mesma espécie. 

Momento a momento, com nosso corpo, fala e mente, plantamos sementes potentes de causalidade. Quando as condições adequadas para o amadurecimento do nosso carma se reunirem, teremos que lidar com as consequências que plantamos.

Estar presente nos ajuda a exercitar a Compaixão em atos de corpo, fala e mente 

Chagdud Rinpoche em os portões da prática budista, p.88, 89 e 90, comenta sobre a importância de se estar presente:

É crucial entendermos o que é virtuoso e o que é desvirtuoso. Caso contrário, mesmo como praticantes que tentam servir e trazer benefícios aos outros, podemos, de fato, criar mais mal do que bem. O defeito sutil, que é o orgulho, pode aparecer: “Sou uma pessoa tão espiritualizada”, ou “Minha tradição é a melhor”, ou “Aquelas pobres pessoas que não têm um caminho espiritual!” 

Quando fazemos esses julgamentos, apenas criamos carma negativo. Se deixarmos de usar nosso corpo, fala e mente de modo cuidadoso e disciplinado, nossos defeitos podem piorar. Nossa mente está repleta dos cinco venenos. Com essas tintas em nossa palheta, que espécie de quadro vamos pintar? 

Estar presente em corpo

Criamos desvirtude com o corpo ao matar, roubar ou praticar conduta sexual indevida. Uma ação desvirtuosa plena tem quatro aspectos. Por exemplo, o ato de matar inclui identificar o objeto a ser morto; estabelecer a motivação de matar; cometer o ato de matar; e, finalmente, a ocorrência da morte da vítima.

Se temos a intenção de matar alguém, mas não realizamos o ato, ainda assim geramos metade da desvirtude ao identificarmos o objeto e estabelecermos a motivação de matá-lo. Ou, se, ao caminhar pela calçada, pisamos acidentalmente em uma uma formiga e a matamos, também criamos metade da desvirtude de matar

Roubar significa tornar algo que não nos foi nos dado. Inclui pegar alguma coisa sem conhecimento do dono, render uma pessoa a fim de se apoderar de algo, ou usar uma posição de poder ou autoridade para tirar algo de uma pessoa em benefício próprio. 

A conduta sexual indevida consiste em atividade sexual com um menor, com um doente, em situação que cause desconforto mental ou emocional, ou que cause a quebra de um voto ou de um compromisso com um parceiro sexual, quer em relação a si próprio, quer em relação à outra pessoa. 

Estar presente na fala

As quatro desvirtudes da fala incluem a mentira, sendo a pior mentira a falsa afirmação de que se tem realização espiritual; a difamação, que implica o uso da fala para separar amigos próximos, sendo o pior caso caluniar membros do nosso grupo espiritual; a fala áspera, que fere os outros; e a tagarelice ou o uso de palavras vãs, que desperdiçam o nosso próprio tempo e o dos outros. 

Estar presente em mente

A primeira das três desvirtudes da mente é a cobiça. A segunda desvirtude consiste nos pensamentos mal-intencionados: querer causar mal ao próximo, desejar que o próximo venha a ser prejudicado ou regozijar-se com o mal feito ao próximo. A terceira desvirtude mental é a visão errônea.

Ter visão errônea é diferente de duvidar e de questionar, componentes saudáveis da contemplação espiritual. Acreditar que é bom ser mau, ou que é mau ser bom, é um exemplo de visão errônea. Outro exemplo é não acreditar na natureza ilusória das experiências porque não podemos provar isso, negando, assim, a verdade fundamental que, por fim, propiciará liberação do sofrimento.

Pois, embora não possamos provar que a nossa experiência seja ilusória, tampouco podemos provar que não o seja. 

As dez virtudes decorrem claramente das dez desvirtudes. 

Prática | estar presente com compaixão

  • Escolha uma situação em detalhes, seja em pensamento ou escrevendo. Durante a experiência em questão, você identificou, em corpo, energia ou mente, a ação de _______ (aqui você pode ver uma ação não-virtuosa)? 

  • Recue, deixe ir. Solte a sensação de ter que segurar a história. 

  • Ao contemplar esse relaxamento, simplesmente torne-se consciente “Ação de” _______.  

  • Inspire, expire. Relaxe sua mente.

  • Em seguida, fazemos a aspiração de termos compaixão de maneira contínua sempre que presenciarmos essas ações conosco ou nos outros.

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Arte e edição de aúdio por @lordbrito

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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