Os 3 tipos fundamentais de sofrimento nos ajudam a diagnosticar o que está acontecendo de errado, dentro de nós.
Podemos ter várias situações de desconforto tanto física, quanto mentalmente.
Por exemplo, as nossas movimentações em busca de felicidade se baseiam na tentativa de evitar o tédio e sustentar nossa atenção na euforia.
De maneira mais temida e profunda, temos as doenças, o corpo que deixa de ser obediente e a morte.
Por que falar de sofrimento não é algo necessariamente ruim?
Falar de sofrimento nos ajuda a discernir se estamos bem acomodados ou não no lugar onde estamos. Parece que tem algo a mais que não está sendo visto, pois, sempre há uma sensação de pobreza, de vazio.
Olhar para o sofrimento é como identificar um sintoma de uma doença. Como posso tratar uma doença se não sei seus sintomas, se não sei se estou doente ou não?
Pode até parecer que os estudos e meditações são um pouco pessimistas… mas estamos tentando ser realistas, ir além das conversas de botas batidas.
A boa notícia é que falamos de sofrimento porque temos algo que vai além, segundo os ensinamentos.
O que nos fisga ao sofrimento?
Geralmente, estamos inconscientes sobre esse processo de perpetuar o sofrimento:
(1) O nosso apetite por elogios e medo de críticas;
(2) O quanto ansiamos por uma boa reputação e a ansiedade de uma má reputação;
(3) A urgência de ganhar e medo de perder o que desejamos, não nos damos conta daquilo que consideramos agradável;
(4) A preocupação com aquilo que consideramos doloroso.
Os “ganchos”, os anzóis de samsara nos fisgam o tempo todo.
O que realmente estamos buscando? O que estamos fazendo com a nossa vida humana? Ela é preciosa? Qual o prazo de validade dela? Existe algum botão que faça aquilo que não gosto/quero desaparecer em apenas um instante?
Carma e sofrimento
Devido ao carma, colhemos o sofrimento. Quando o carma atua, não nos damos conta propriamente de como agir. Apenas reagimos.
Em marcha, no piloto automático, sentimos nossa ação impotente, ficamos “embriagados” e se afogando nas situações, nessa hora, julgamos que a realidade é o que se apresenta e é sólida. Dói, sentimos o desconforto na pele.
O impulso cármico produz sofrimento não só para nós mesmos, quanto para quem está à nossa volta.
Estamos percebendo o movimento do carma e suas consequências, esse automatismo sutil e suas frustrações correspondentes.
Novamente, quando falamos em sofrimento, não estamos nos tornando pessimistas e obsoletos. Chagdud Rinpoche diz que precisamos reconhecer, discutir sobre esse tópico para podermos tratá-lo mais adiante.
Se os venenos da mente são intensos, experimentamos uma realidade muito dolorosa, infernal. Se os venenos se reduzem, nossa realidade se torna menos severa, mais agradável. Caso não houvesse uma cura para o sofrimento, não haveria por que discuti-lo.
3 tipos fundamentais de sofrimento
Segundo os ensinamentos, os seres humanos experimentam três categorias de sofrimento.
São eles: o sofrimento que se sobrepõe ao sofrimento, o da mudança e o que tudo permeia [do condicionamento].
Em “Os portões da prática budista” (p. 103), Chagdud Rinpoche explica esses três tipos da seguinte forma:
(1) “o primeiro [sofrimento] é o ‘sofrimento da mudança’. Nada é confiável ou consistente. Por maior que seja a nossa esperança em ter uma base sólida sobre a qual nos apoiar, tudo aquilo com o que contamos sempre se corrói, criando grande dor.
(2) O segundo é o ‘sofrimento que se sobrepõe ao sofrimento’. Uma coisa ruim acontece após a outra e parece não haver justiça no processo. Quando pensamos que a situação pode ficar pior, ela fica. Perdemos dinheiro, depois um parente, depois a juventude — há inúmeras maneiras pelas quais sofremos.
(3) O terceiro é o ‘sofrimento que tudo permeia’. Da mesma forma que quando você espreme uma semente de gergelim, constata que ela está impregnada de óleo, pode parecer que a nossa vida seja feliz, mas sob pressão do amadurecimento do carma, sofremos. Tão certo quanto o fato de nascermos é que adoeceremos, envelhecer e morrer.”
Em “Palavras do meu professor perfeito”(p.162 – 170), Patrul Rinpoche traz alguns outros exemplos. São eles:
- O medo de encontrar inimigos que odiamos,
- O medo de perder pessoas amadas,
- O sofrimento de não conseguir o que queremos, e
- O sofrimento de ter que enfrentar o que não queremos.
Temos aí sete sofrimentos! E agora?
Conclusão
Não são coisas que nos incomodam e sim, as tendências habituais de fixação da mente que nos deixam inertes nas diversas situações.
Quando tomamos consciência do sofrimento e das limitações da existência cíclica (samsara), isso nos motiva a encontrar uma saída, da mesma forma que, quando nos damos conta de que estamos doentes e buscamos remédio.
A contemplação do sofrimento nos inspira a buscar formas para fazer com que ele cesse para nós e para os outros.
Então, o que antes era visto como engano e sofrimento, se torna o local de prática perfeito para percebermos como o funcionamento da mente se dá.
Todo esse conjunto de reeducação mental, amplia a nossa perspectiva de mundo, converge para o refúgio e a consciência de bodicita como a coragem necessária para desenvolver a compaixão verdadeiramente.
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