O que é carma e como ele funciona?

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Tempo estimado de leitura: 4 minutos

O que é carma? É uma maldição? Lei e efeito? Ação e reação? Tem alguma relação com minhas vidas passadas? Muitas dessas e outras definições são usadas. No que chamamos de “tradição do carma”, ou seja, a bagagem cultural que sabemos ou adquirimos a respeito dessa palavra usada não apenas no budismo, mas em outras tradições também.

Nesse texto resumimos o tema do que é carma e possíveis abordagens no budismo. É claro que um texto curto como esse não abrange a imensa sabedoria do Darma em relação ao tema. Então, a minha aspiração é que os iniciantes no caminho possam se beneficiar e ter uma noção básica a respeito.

Preparado(a) para entender o que é carma? Vamos lá!

Carma em ação

Em sânscrito, carma significa “ação”, seja voluntária ou não. O próprio Buda Shakyamuni disse que com “carma” ele se referia a “intenção”. Então, significa examinarmos cada intenção de corpo, fala e mente: o que colhemos internamente com essas ações?

É como se estivéssemos presos a uma corda invisível. Ela move as nossas ações, como um fantoche. Cada uma das corda dos fantoche nos dá um “nó” bem atado, irreconhecível aos olhos físicos, que se movimenta e nos prende a pensamentos e emoções confusas; temos sensação de solidez das coisas. Travamos, ficamos tensos.

É o que usualmente chamamos de hábitos e padrões. 

Se observarmos com cuidado, não temos controle algum sobre os acontecimentos ou situações externas, porém, segundo o nosso posicionamento interno, podemos transmutar essas dificuldades em vantagem para avançarmos no caminho de transformação ou apenas perpetuarmos a negatividade habitual — a escolha é nossa.

Respostas automáticas que falam por nós?

Todos os seres sencientes estão vulneráveis aos resultados de suas próprias ações e seus respectivos declínios justamente por não reconhecerem o movimento do carma. Podemos explicar o carma como estruturas internas de respostas automatizadas que inevitavelmente nos conduzem à insatisfação, desconforto, tristeza ou sofrimento, para ser mais preciso: a curto, médio ou longo prazo.

Nossas ações não são apenas fonte do nosso sofrimento, mas também da nossa felicidade. A mente é a criadora das causas e condições deste cárcere. O mais incrível, ela também possui a chave de saída da prisão, a pergunta principal é: como sair?  

Em “Os portões da prática budista” (p.85), o grande mestre de meditação Chagdud Tulku Rinpoche esclarece que a nossa mente é como um campo fértil — coisas de todos os tipos podem crescer nela.

Quando plantamos uma semente — um ato, uma palavra, um pensamento — em um dado momento será produzido um fruto que irá amadurecer e cair na terra, perpetuando e incrementando aquela mesma espécie.

Momento a momento, com nosso corpo, fala e mente, plantamos sementes potentes de causalidade. Quando as condições adequadas para o amadurecimento do nosso carma se reunirem, teremos que lidar com as consequências que plantamos.

Podemos também resumir o carma como impulsos com os quais não sabemos lidar. Esses impulsos provocam às dez ações não virtuosas que, no que lhe concerne, produzem sofrimentos específicos — a curto, médio e a longo prazo — portanto, esses impulsos deveriam ser evitados. No sentido de olharmos mais de perto o resultado de cada ação.


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As as 10 ações não-virtuosas

As ações equivocadas, também chamadas de não-virtuosas, são dez: matar, roubar, conduta sexual imprópria, mentir, difamar, fala áspera, tagarelar, cobiçar, acreditar que o outro se machucar emocional/fisicamente é algo vantajoso e visão errônea (visão equivocada de mundo).

Carma: primário e secundário

Também podemos perceber o aspecto externo e interno da situação. Temos carmas primários que aparecem conforme as situações secundárias. É um movimento que, geralmente, nos deixa frágeis e impotentes. Temos sementes sutis de sofrimento que dependem de circunstâncias objetivas para eclodirem, estamos nesse exato momento vulneráveis a esse movimento. 

Por exemplo, podemos acreditar que está tudo bem, “tudo sob controle” e de repente, nos deparamos com situações específicas que fazem essas sementes amadurecerem e, os seus respectivos problemas aparecem sem aviso.

Outro exemplo mais impactante é termos certeza que não machucaremos ninguém. Entretanto, quando as situações secundárias aparecem, podemos até pensar: “Se fosse eu, já passaria por cima!” ou  “eu jamais mataria ninguém. Mas, se você mexer com meu filho, pode ter certeza de que você estará morto!”  Só o fato de pensarmos em agir a partir de alguma ação não-virtuosa, já nos deixa vulneráveis, frágeis, a qualquer estímulo externo. 

Exemplos:

  • Sonhos, pesadelos;
  • Cinema, filmes;
  • A pessoa ficar presa no elevador;
  • Basicamente é a sensação de se trancar em si, como uma constipação mental, energética e assim por diante; 
  • Sinal amarelo para o vermelho — o universo conspira contra mim;
  • Seres em cima dos cavalos de rodas no trânsito; 
  • Essa pessoa, ela quis me trancar! Com certeza!

Vale a pena estudar e o olhar os 12 elos da origem dependente, a roda da vida, para entender melhor esse funcionamento e como revertê-lo. 

Como lidar com o carma?

Então, gradualmente, com a regularidade da prática de meditação, iremos nos livrar de alguns enganos sobre o movimento do carma. Por exemplo, é comum nos validarmos como: “sou aquele que faz tal ação. Sou uma pessoa orgulhosa, sou uma pessoa carente ou invejosa.” Para tornar esse ponto mais enfático, em “A Roda da vida como caminho para lucidez” (p.145), Padma Samten explica o contexto de estarmos num cinema assistindo a um filme de terror, e mesmo sabendo que aquilo é apenas uma tela, podemos ter arrepios, suspense e até mesmo calafrios! 

Com a aspiração de querer se livrar desse processo para beneficiar os outros, nos colocamos em marcha para purificarmos esses hábitos quanto antes. É possível suavizar o coração.

Por isso, é crucial entender a motivação correta para se praticar – a bodicita.

Assista ao vídeo “O que é o carma e como ele funciona?”



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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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