Seguem cinco dicas para iniciantes no budismo. Existem vários livros, fóruns, trechos com as falas dos grandes mestres, vídeos e canais no youtube, indicações de locais de prática. Uau! Quanta coisa boa que podemos fazer. Entretanto, como as possibilidades são infinitas, podemos perder tempo e demorar na compreensão no budismo.
Diante da vastidão de ensinamentos e possibilidades para se começar no budismo, é natural que surjam questionamentos e um deles, o mais importante talvez, é: como começar de fato?
Listamos cinco dicas para quem deseja iniciar essa jornada ou simplesmente deixar de lado a timidez e experimentar na prática os benefícios da meditação e o treinamento da mente. De cara, o resultado inicial é uma melhora na maneira como estabelecemos relações positivas conosco e com os outros.
Dica 1 – Encontre uma escola de Darma que atenda suas necessidades
Com a disseminação do Darma no ocidente e nos meios eletrônicos, a quantidade de informação latente é alta. Fica até difícil digerirmos os conteúdos. Há também uma oferta grande de professoras e professores e, eventualmente, podemos encontrar com trechos de textos que estejam fora de um contexto mais amplo. É como tentar falar de um tema vasto como história do Brasil dentro de um parágrafo de cinco linhas.
Um fator muito importante é a questão de ganhar confiança e digerir o conteúdo dentro das nossas vidas. Padma Samten, meu mestre, costuma dizer que o termômetro do nosso avanço são as relações. Nós passamos muito tempo no campo das ideias, das ruminações sobre passado e futuro. É bom sentirmos os nossos pés tocando o chão, sempre. É isso que o budismo vai nos ajudar, a ver as coisas como elas são.
Dentro de uma escola do Darma, nós avançaremos mais rápido em grupo. Além de estabelecermos uma amizade verdadeira com as pessoas, nós avançamos pelo erro e pelo aprendizado do outro também. Em roda, podemos expor nossas dificuldades e alegrias. Além de termos um apoio de uma pessoa mais experiente no tema para nos oferecer segurança e apoio no caminho.
Dica 2 – Regularidade
Um fator importante para assimilarmos o Darma e a meditação é a regularidade. Estamos sendo apresentados a algo pouco habitual na nossa cultura. “Regularidade” não diz respeito a algum nível de esforço “no pain, no gain”, é mais uma questão de bom senso mesmo. Bom, se algo nos faz bem e pode ser repetido de modo a aumentar esse bem-estar ou bom senso, é melhor seguir. É simples.
Se possível, visite dois horários em dias diferentes do seu centro de Darma favorito. Isso vai lhe ajudar a assimilar mais rápido o que está sendo passado além de você perceber a eficácia de modo indireto, é como sentir o corpo mais saudável simplesmente porque estamos nos propondo abertos a uma alimentação mais rica em nutrientes e balanceada. Caso não seja possível, siga no dia e horário que for possível na sua agenda. O que importa é ter uma certa regularidade nos estudos e na prática.
Dica 3 – Paciência
Nós precisaremos de paciência para estudar o Darma e praticar meditação. No sentido usual, o que está sendo descrito nos textos e integração daquilo como uma ação disponível para nós é crucial. É assim: nós simplesmente passamos a vida inteira entorpecidos quanto a verdadeira natureza das coisas e sofremos por isso.
Tentamos usar de algum tipo de controle e manutenção constante para que as situações fiquem sob nosso comando. Então, quando encontramos com a meditação ou com os ensinamentos, nós começamos a descobrir uma alegria interna e nenhuma outra experiência anterior se assemelha a ela. Mas, algo acontece e nós a perdemos.
Paciência. É como a sermos iniciantes em uma língua estrangeira ou iniciarmos um estudo novo em um instrumento musical. De nada adianta querer forçar a barra. Por isso a importância dos outros dois itens citados.
Dica 4 – Adaptação
O que chamo de “adaptação” é a capacidade de seguir transformando e encarando os pensamentos, as emoções, situações difíceis e o que mais acontecer com serenidade e lucidez. Leva um tempo para isso e varia de acordo com a disponibilidade e disposição mental de cada um. Cada caso é um caso.
Reforço a importância de entrar em contato e passar a frequentar um centro de Darma com professores qualificados. É como se fossem grandes farmácias com infinitas medicações que serão indicadas de acordo com a queixa dos seres. É importante que nesse tema da adaptação você se sinta acolhido e acolhendo o que surgir. Entre em contato e compartilhe dúvidas com o facilitador/instrutor do seu dia.
Dica 5- Busque pelas histórias de vida dos grandes mestres e as raízes dos ensinamentos
Os grandes mestres passaram por muitas dificuldades e sustentaram de maneira milagrosa o coração da experiência da prática. Ao longo dos anos, passaram para quem assim desejasse aprender, os detalhes e aprimoramentos que abriam obstáculos no caminho. Embora estejamos separados por dois mil e seiscentos anos, os ensinamentos fundamentais do Buda histórico, o Buda Shakyamuni, continuam palpáveis e aplicados as nossas relações.
Como que tudo isso surgiu? Quem são os mestres de cada escola ou tradição budista? Como surgiram as diversas escolas? Porque os mestres abordam uma mesma questão com óticas diferentes e complementares? Qual a origem das quatro nobres verdades e o caminho de oito passos?
A prática do Darma é uma longa estrada que se constrói na medida em que andamos nela. Nossa maior dificuldade será tentar corrermos sem antes engatinhamos nos ensinamentos ou buscar atalhos. Devemos aprender a nos respeitar: temos limites e nossas capacidades internas ainda precisam ser desenvolvidas. É necessário tempo para que as coisas aconteçam.
Não é sobre acumular conhecimento. Um GPS pode nos ajudar quando desejamos nos mover mas temos dúvidas sobre como é o caminho. No budismo, o nosso radar é chamado de linhagem de professores e professoras.
Imagem de Uwe Baumann por Pixabay