“Chenrezig, espantosamente, oferece um recurso extraordinário que permite os tibetanos – que não conhecem o Ocidente, não conhecem a cultura ocidental, psicologia, filosofia, ciência – sobreviverem aqui e ainda trazer benefício às pessoas. Isso é muito extraordinário. Eles trazem esse benefício especialmente porque são capazes de entender o mundo ocidental a partir da noção do samsara. Eles veem que as pessoas estão sofrendo no samsara. E começam a falar dentro disso e a ajudá-las a compreender desse modo.
Mas quando começam a fazer isso surge uma feição diferente da original do budismo tibetano. Por exemplo, eles não davam conferências públicas, ensinavam apenas nos mosteiros e templos – e não era para todos. Essa noção de centro budista é recente. Não existia isso, já era uma coisa estranha. Aí foram começando a surgir centros budistas zen e tibetanos também por todo lado. As pessoas que estão ali dentro não têm ordenação, não têm votos, não têm compromisso nenhum, e querem ouvir os ensinamentos, querem praticar. Ou querem fazer que praticam, fazer que entendem, fazer que estudam… É assim. Mas tudo bem.
Dentro disso surge esse budismo ocidental. E as pessoas que chegam estariam no que chamamos de bloco 1: estão lendo, estudando e praticando várias coisas ao mesmo tempo. De modo geral, têm uma base sólida no samsara. É totalmente diferente da estética do Buda e da estética posterior nos vários lugares. Mas os tibetanos conseguiram sobreviver dentro disso. O zen também conseguiu sobreviver desse modo essencialmente baseado em Chenrezig, o buda da compaixão.
Então, têm estruturas de ensinamentos que são oferecidas de modo igual como se oferecia no Tibete, no Japão, na Tailândia ou na Coréia. Nem sempre vai dar muito certo, essa é a questão. Aqui não tem uma crítica, mas uma questão de como fazer as coisas andarem melhor. Eu acho que estamos neste tempo. Espero que os mestres tenham a lucidez de poder criar essa transição que seja favorável, que produza benefícios às pessoas. Que Chenrezig inspire os mestres e os praticantes para que consigam desenvolver bons métodos que possam ser úteis às gerações subsequentes.
Não vejo nenhum problema nos ensinamentos originais, são maravilhosos. O problema é que nem sempre dão certo. Se vocês olharem como o Dalai Lama oferecia ensinamentos no Ocidente, ele pegava os ensinamentos tradicionais e apresentava, com palavras em sânscrito e tibetano. Super difícil e complexo. Eu vi umas publicações Sociedade Teosófica dos ensinamentos dele logo que começou a vir para o Ocidente. Bem difícil, super erudito.
Mais adiante, o que o Dalai Lama vai fazendo? Ele, que é a própria manifestação de Chenrezig, começa a ouvir os cientistas e a criar lugares para haver esse intercâmbio. Ele percebe que precisa desenvolver uma linguagem que seja favorável. Na última vez em que esteve no Brasil, convidou cientistas para falar e ainda ficava ouvindo. Eu acho comovente isso. O Dalai Lama tem uma super humildade, acho que é um mestre para este tempo, para esta transição. É extraordinário!”
~ Lama Padma Samten, oferecendo ensinamentos ao vivo no CEBB Caminho do Meio.
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