Desejo e apego | Reino humano
“Gosto disso” conduz a quero isto. Igualmente, “não gosto disso” conduz a “não quero” isto. Quando gostamos de alguma coisa, se a queremos e não podemos tê-la, nós sofremos. Se a queremos, a obtemos e depois a perdemos, nós sofremos. Se não a queremos, mas não conseguimos mantê-la afastada, novamente sofremos. Nosso sofrimento parece ocorrer por causa da situação do nosso desejo ou aversão, mas na realidade não é assim: ele ocorre porque a mentalidade se divide na dualidade sujeito-objeto e fica envolvida com querer ou não querer.
Com frequência, pensamos que o único meio de criar felicidade é tentando controlar as circunstâncias externas da nossa vida, tentando consertar o que nos parece errado ou nos livrar de tudo que é incômodo. Mas o verdadeiro problema encontra-se em nossa reação a essas circunstâncias. Nossas emoções são um subproduto da esperança e do medo, do apego e da aversão. Temos esperança porque estamos apegados a alguma coisa que queremos. Temos medo porque temos aversão a alguma coisa que não queremos.
Desejo e apego precisam ser reciclados
Estamos infectados por uma doença mental, Duka – a insatisfatoriedade. Presos à ignorância quanto ao reconhecimento da verdadeira natureza da mente, nossos hábitos de autoimportância se tornaram muito fortes. Quando tiramos de nós mesmos o foco de nossa atenção, somos levados, ao final, a compreender a igualdade que há entre nós e todos os demais seres. Todos querem ter felicidade: ninguém quer sofrer. O apego à nossa felicidade amplia-se para se tornar um apego à felicidade de todos.
Desejo e apego não mudam da noite para o dia. O desejo, porém, torna-se menos comum à medida que redirecionarmos nossos anseios comuns, mundanos, para aspiração de fazer tudo o que está ao nosso alcance para ajudar todos os seres a encontrar a felicidade permanente.
Não temos que abandonar os objetos habituais dos nossos desejos – relacionamentos, riqueza, famas, na medida em que contemplamos sua impermanência, ficamos menos apegados a eles. Se temos a atitude de nos regozijar com a nossa sorte quando elas aparecem, ao mesmo tempo, reconhecer que não irão durar, começamos a desenvolver uma qualidade além da roda da vida. Assim, reduzimos o aspecto negativo que surgir e aumentamos o aspecto das qualidades positivas da mente.
Contemplar a impermanência, em profundidade, nos abre um campo de possibilidades onde a paciência e a compaixão irão surgir. Nossa mente se torna mais flexível.
Imagem de Nikola Pešková por Pixabay
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