Metabavana: pacificando o coração nas relações

metabavana
Tempo estimado de leitura: 4 minutos

Metabavana significa meditação do amor universal. Se a nossa mente esvoaçar de um lado para o outro, como será possível se posicionar com lucidez diante das circunstâncias? Essa dificuldade se dá por estarmos operando segundo referenciais sutis da Roda da Vida em sânscrito, samsara). Como uma ferramenta para superarmos esses obstáculos, sugerimos um suporte à prática de meditação: curar as relações.

Qual a importância dessa etapa? Para avançarmos, nós precisamos pacificar nossas relações em todas as direções. Estamos sentados em silêncio, em shamata, e começamos a acolher o que surge. Isso é um processo muito sofisticado. Não pertence à categoria de gostar/não gostar (7º elo da roda da vida).

Acolher é estar consciente de que as frustrações são experiências de um mundo interno e entender que elas podem ser transformadas.

Metabavana e as dificuldades nas relações

Segundo os ensinamentos, nossas dificuldades nas relações não são sólidas e sim, artificiais. Começaremos a nos relacionar de uma maneira mais receptiva e menos danosa conosco e com os outros. Reconheceremos a liberdade de andar nos mesmos lugares, só que, agora, com uma mente mais amigável e gentil.

É um olhar vivo que naturalmente se tornará presente na vida. Aos poucos, ultrapassamos as prisões da dicotomia: acatar/rejeitar; gostar/ não gostar; ganhar/perder; vitimar/culpar. Apontar dedos é sofrimento, na certa. Melhor aprender a trabalhar com a própria mente.

Lama Padma Samten e a metabavana

O poder de shamata e metabavana nas relações

Recomendo introduzir a meditação shamata antes de metabavana. Quando estamos com a mente mais calma, praticamos e focamos mais facilmente. Se estamos, por exemplo, praticando meditação, mas estamos intrigados ou brigando com as pessoas, isso perturbará a nossa prática e não conseguiremos avançar no caminho: uma mente posicionada de forma caótica nos trará dificuldades.

De modo geral, estamos desfamiliarizados com nossa própria mente e, nas relações, cometemos ações não virtuosas a nível de: corpo, fala (energia) e mente. Existe também a paisagem como referencial condicionado. Pacificando esse movimento dinâmico e sutil, a nossa vida se acalma, a respiração se acalma. Tudo em nossa volta melhora.


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Pacificação e cura nas relações

A metabavana é uma prática muito próxima de nós. Por exemplo, olhamos para uma pessoa que está nos perturbando e aspiramos que ela seja feliz, que se libere do sofrimento. Então, fazemos isso e milagrosamente a pessoa muda na nossa frente. Agora, somos capazes de olhar para aquela pessoa, não nos perturbamos e podemos nos posicionar de outra forma diante dessa experiência de relação. Percebemos a inteligência da mente búdica, ampla, não condicionada, que já portamos.

Agimos com compaixão, amor, alegria e equanimidade. Essa é a nossa verdadeira felicidade.

Podemos praticar metabavana para nós mesmos também. Quando refazemos nossas relações conosco e com os outros, isso deixa a nossa vida mais leve. Quando seguimos assim, já estamos exercendo a liberdade natural da mente, esse é o “poder” que vem da meditação shamata.

Como praticar metabavana?

Faremos uma lista em um papel, caderno, editor de texto – segue um modelo para ajudar (ver anexo) – e enumerarmos situações, aflições, emoções, pessoas e demais experiências nas relações.

É simples, nós temos três contextos gerais nas relações:

  1. Gostamos: São seres com os quais temos afinidades, relações fáceis, “de boas”, amizades, pessoas próximas, queridas, etc.
  2. Indiferentes: São pessoas que encontramos no dia a dia mas com quem não temos nenhum vínculo, propriamente. Exemplo: porteiros, padeiro, flanelinhas, caixa de supermercado, motorista de ônibus, cobrador, carteiro, recepcionista, frentista de posto de gasolina, motoqueiros, motoboy, delivery, faxineiras, etc.
  3. Não gostamos: Existe alguma aversão, alguma desavença? Temos alguma relação difícil com alguém? Algum “nó” na relação? Algum conflito?

Metabavana com exemplos e situações

  • Familiares: Mãe, madrasta, pai, padrasto, irmã(o)s, filho(a)s, meio-irmã(o)s, avós, netos, tio(a)s, sobrinho(a)s, primo(a)s, bisavós, bisnetos, etc.
  • Relações a dois: Casamento, noivado, união estável, namoro, ficante, amante, paquera, crush, colegas, amigo(a)s, divórcios,  tod@s os ex-alguma coisa: – inclusive os bloqueados no Whatsapp e Facebook – ex-amigos de colégio, da faculdade, do jardim da infância, vizinhos, etc.
  • Carreira profissional: Gestores, chefes, empregados, colaboradores, equipe de trabalho, colegas atuais e os que se foram. Olhar as identidades que portamos no currículo e as pessoas com quem tivemos algum contato nesse período. Em um mesmo lugar de trabalho, a pessoa pode “rodopiar” pelos seis reinos e achar que o trabalho é externo, é a causa do  amargor, da insatisfação, etc. Revemos a motivação do bom coração.
  • Purificação pessoal: Praticar com as seis emoções perturbadoras (orgulho; inveja; desejo/apego; torpor/preguiça; carência; ódio/medo) que reconhecemos como flutuações automáticas;

  • Vizinhos;
  • Pessoas que encontramos na rua, que encontramos nos sonhos/pesadelos, que já morreram ou que encontramos no trânsito.

  • A lista segue…

Metabavana na prática

Começamos a prática direcionada a uma pessoa querida – dos três contextos, temos aqui o primeiro. Vamos chamá-la de “Fulana”. Sentamos em postura de meditação, mentalizamos essa pessoa e recitamos:  “Que Fulana seja feliz… Que Fulana se libere do sofrimento…”. Como estabelecemos algum vínculo com essa pessoa, também nos incluímos: “Que eu seja feliz, que eu me libere do sofrimento…”

Então, seguimos para a próxima linha da lista até terminarmos a experiência de “gostar.” À medida que nos familiarizamos, seguimos para os itens de indiferença e de não gostar. Podemos também incluir na lista situações difíceis que estamos enfrentando, situações futuras que nos causam ansiedade ou “aquelas” situações que nos atormentam há um bom tempo…

Compaixão

Com o tempo, observaremos que há uma diferença entre internalizar os versos de metabavana ou simplesmente lê-los.

Na prática, nossos corpo, fala, sentimentos, percepções a respeito do que se passa/ou, pensamentos e mente se tornam menos densos, há uma leveza natural, antes despercebida. Consequentemente, a relação conosco e com os outros se torna mais leve. O ponto é reconhecer que não somos essas experiências internas negativas e, em vez de rejeitá-las, compreendermos esse processo.

Esse acolhimento contínuo nos retorna ao cuidado com as nossas ações e principalmente, ao olhar compassivo conosco e com os outros. Percebemos que a prisão é um movimento interno dinâmico e que há a possibilidade de agir de outra forma. É muito importante fazer a prática para si mesmo também, pois vamos transformar não só nossa visão sobre os outros, como sobre nós mesmos.

Metabavana: um salto para a compaixão

  1. Que (nome da pessoa) seja feliz;
  2. Que (nome da pessoa) se libere do sofrimento;
  3. Que (nome da pessoa) encontre as causas verdadeiras da felicidade;
  4. Que (nome da pessoa) supere as verdadeiras causas do sofrimento;
  5. Que (nome da pessoa) se libere totalmente de suas fixações cármicas;
  6. Que (nome da pessoa) manifeste lucidez de modo natural e instantâneo;
  7. Que (nome da pessoa) seja verdadeiramente capaz de ajudar os outros seres;
  8. Que (nome da pessoa) encontre nisso a sua fonte de alegria e energia.

**Imagem de TanteTati por Pixabay

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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

2 comentários em “Metabavana: pacificando o coração nas relações

    • Roberto Sampaio Autor do postResponder

      Seguimos praticando!

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