As relações lúcidas são possíveis ou isso é mais um conto infantil? A compaixão permeia a tudo e a todos. Você já parou para se perguntar que mesmo com tanto autointeresse e egoísmo, tem sempre uma visão mais ampla e aberta diante das situações?
Nós já olhamos com um olhar cirúrgico que resolver não resolve, apenas abafa as marcas cármicas e os impulsos de hábito de energia. Controlar e disciplinar ajuda, mas internamente a pessoa está queimando por dentro, cheias de regras contraditórias e opiniões divergentes. Manipular apenas nos envaidece e nos blinda quanto a cegueira do funcionamento da mente, do sofrimento estrutural, Avydia.
Relações lúcidas: mais um conto da Disney?
S.S O Dalai Lama constantemente aborda esse tema das relações e da interdependência, quase que como um jargão sobre nossa verdadeira face. É impossível avançarmos na prática do treinamento da mente sem levarmos conosco todos os seres ao redor, ou seja, estamos ferrados! Esse é o critério mais evidente para sabermos como estamos olhando para os ensinamentos.
Em meditando a vida, Padma Samten ressalta:
“As práticas espirituais só adquirem sentido na vida cotidiana. A relação com nossos pais, esposa, marido, filhos, colegas de trabalho e demais seres em todos os planos da existência, material e sutil, é o verdadeiro termômetro da prática. Um sinal de que há algo errado é nos considerarmos espiritualizados, praticantes disciplinados e zelosos e, ainda assim, sermos tomados por desinteresse e falta de compaixão em relação aos seres que nos rodeiam”
Nesse podcast, abordaremos o tema da compaixão e ao final, temos um link com dicas preciosas sobre como lidarmos diante das situações incontroláveis da vida.
Darma da vez – Relações lúcidas
p.122 e 123
Então, nesse sentido é que consideramos as palavras do Dalai Lama sobre a responsabilidade universal, ou seja, é tentando tocar/chegar nessas pessoas. Vocês observem que, mesmo que nós tentemos nos cobrir com uma manta, ou tirar a roupa, ou comer quanto temos fome, a manta, a roupa ou a comida não fomos nós quem, sozinhos, as produzimos. Nós não somos autônomos. Estamos dentro de um processo mais amplo.
Assim, esse é o primeiro ponto (da responsabilidade universal) que nós vamos trabalhar. Acho que esse é um ponto que poderia ser trabalhado como um ponto geral de educação. Esse é o tema da inseparatividade de toda a vida. Nós somos inseparáveis. Às vezes nossos adolescentes não se dão conta de que estão numa comunidade, com o pai, mãe e irmãos dentro; que eles não são independentes, nem o pai, nem a mãe também são independentes, não podem tudo. Nós inter-somos, como diz Thich Nhat Hanh.
A vida é mais ampla que a sua bolha prometida
Esse ponto vai-nos ampliando e nos levando dentro dessa perspectiva de responsabilidade universal, para compreender a vida como um todo, a natureza e todos os seres vivos integrados dentro de um sistema onde cada um precisa dos demais. Aqui estão incluídos os sistemas que não são vivos, o planeta, enquanto uma entidade não viva, um substrato. Vamos olhando o aspecto da inseparatividade que há entre nosso planeta e os outros astros, sol, lua, etc.
Os cientistas, nos dias de hoje, têm visto coisas extraordinárias. Nós recebemos uma quantidade de matéria inter-estelar. Recebemos fragmentos de outros planetas e moléculas complexas que vêm de outros lugares. Então, uma das visões correntes é de que a vida pode ter chegado desse modo ao Planeta Terra. Há uma comunicação inter-material entre os diversos corpos celestes. Essa é uma descoberta bem recente e nós nem nos dávamos conta disso, pois pensávamos que a única coisa que atravessava o espaço era luz ou calor. Mas agora estamos percebendo que não. Recentemente, os cientistas encontraram uma rocha (tipo meteorito), na qual constataram estruturas semelhantes às que foram encontradas em Marte.
Entender as relações nos alegra
Então,
nós estamos apenas ampliando nossa visão. Nós vemos como nossa
vida se torna completamente diferente – estávamos fechados e, de
repente, abrimos os olhos e passamos a enxergar essa complexidade
toda. Esta complexidade está dentro da Roda da Vida, está dentro
dessa noção, ilusória ainda, mas é onde surge a noção da nossa
identidade, as nossas emoções, nossa operação toda. Desse modo,
nós começamos a entender isso.
O
ensinamento Budista não vai começar lá adiante, examinando a Roda
da Vida. Ele começa primeiro nos inserindo como seres com visão
mais ampla. Isso tem uma grande conseqüência, pois cria uma
cultura, uma consciência de base, onde os próprios ensinamentos
depois podem vir como um processo mais refinado. Mas nós
precisamos dessa cultura de base.
Isolar-se virou moda?
A
nossa cultura de base hoje parece uma devastação, ou seja, nós
somos convidados a nos fechar, a nos tornamos autônomos e não
entender as ligações de todos os fenômenos. Nós vamos entender
apenas que a única coisa necessária é ter dinheiro no bolso, com o
qual compramos tudo o que precisamos e pronto. Nós não entendemos
os processos de interligação. É como se fôssemos convidados a nos
fecharmos.
A consciência ecológica vai se tornando natural e clara na medida em que vamos percebendo, compreendendo, a inseparatividade. Nisso, tem uma outra conexão muito importante, que está ligada à compreensão do carma, que é assim: “Se eu entendo isso, eu entendo como o carma está operando, como que as conseqüências cármicas surgem de acordo com o meu comportamento. Se eu não entendo isso, isso não quer dizer que as conseqüências cármicas não vêm”.Essa noção é de extraordinária importância porque, quando nós estamos fazendo uma disputa filosófica, parece que é um outro. Mas aqui não é assim.
Teorias não mudam comportamentos mais sutis
Por exemplo, nós podemos ter uma disputa filosófica nesse ponto, mas independente de quem vencer, o resultado das nossas ações segue igual. É como se tivesse alguma coisa andando independente das nossas idéias. E, às vezes, pensamos que, por termos algum tipo de poder (político, econômico, intelectual, etc.), nós podemos fazer assim ou assado e pronto! A pessoa pode até fazer, mas a conseqüência correspondente surge.
Nós, então, substituímos a noção de filosofia propriamente pela noção de “ver a realidade como é”. Então, o Dalai Lama vai usar essa noção e vai dizer: “O nosso problema é que nós não vemos a realidade como é”. Nós deveríamos ter muito cuidado, pois se tivermos uma noção filosófica preponderante, dominante, implantada, se ela não for uma visão lúcida, nós vamos ter graves problemas.
Fonte: Compilação sobre os ensinamentos dos doze elos da originação interdependente. Ministrados por Lama Padma Samten
Podcast
A seguir, aperte o play e acompanhe o estudo em áudio:
Edição de imagem e audio por @lordbrito
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