6 formas de avidya | #1 separatividade – pt. 2

6-formas-de-avidya-parte-2.
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

O primeiro elo é o cadeado que nos prende ao samsara. Prajna é o óleo Singer, é a chave que nos ajuda a sair desse girar em círculos sem fim.

As 6 formas de avidya são:

  1. Separatividade
  2. Criação
  3. Cegueira
  4. Experiência de mundo
  5. Fechamento
  6. Escuridão espiritual

Neste podcast, vamos conversar sobre o efeito da primeira forma de avidya: a separatividade. Se você não leu / ouviu o primeiro episódio sobre avidya e separatividade, leia aqui.  

Separatividade como faísca do sofrimento

Na falta de clareza e discernimento sobre avidya e seu efeito em nossas formas de pensar e reagir aos problemas, nós compensamos um sofrimento com outro sofrimento. 

Vamos revisar as 3 formas descritas pelo budismo. A 1° Nobre verdade descreve:

  1. Sofrimento do sofrimento
  2. Sofrimento da mudança
  3. Sofrimento pervasivo, também descrito como “sofrimento na condição da ignorância (avidya)”

Sofrimento é Dukha.

Alguns mestres da tradição explicam que Dukha nada mais é do que a ansiedade para afastar o sofrimento. Interessante também olhar dessa forma, pois parece que você resolverá seus problemas ao concluir as coisas, obter os resultados desejados. Surge uma ansiedade, resolve-se tudo e… algo dentro segue: a insatisfação.

Com o treinamento da mente-coração bodicita, abrimos-nos à sabedoria. Temos eixo, não estamos à mercê das emoções negativas, temos as 4 nobres verdades e o caminho de 8 passos.

Muitos dos nossos medos e lacunas são esclarecidos com as 4 Nobres Verdades.

A 2° nobre verdade descortina o processo de automatismo com base na origem dependente, a pessoa descobre como não ser mais atropelada pelo sofrimento. Ela reconhece não precisar afundar junto quando o sofrimento surge.

Com essa visão, o nosso papel na vida se expande. Também temos maior interesse pelos outros. É um sintoma de avanço na prática do Darma. Temos mais compaixão pelos seres. Quando falamos de compaixão, temos sabedoria junto. Portanto, praticamos a Grande Compaixão.

Compaixão e separatividade

A compaixão envolve aliviar o sofrimento dos seres. Por exemplo: “eu estou sofrendo. Quero melhorar a minha personalidade para ter um futuro melhor.” A separatividade atua aqui, temos o aspecto causal como base.

Já a Grande Compaixão atua independentemente de onde você esteve ou estará. O ponto é a lucidez estar acesa, presente. Isso é Prajna, vidya. Rigpa, em tibetano.

Longchenpa afirma que o sofrimento aparece em nós por não realizarmos a nossa presença búdica. Como apreendemos sujeito e objeto e nos fixamos a um self sem uma razão aparente, sofremos. 

Então, se a pessoa perceber novamente esse movimento de origem dependente como um movimento possível e não o único movimento possível da mente, ela consegue sair desse processo de fixação.

Por exemplo, vamos supor que temos um carro. Nem suspeitamos olhar isso como uma experiência de carro. “Eu vim de carro”: a pessoa nem questiona. É simples: eu estou aqui e o carro está lá fora.

É muito raro a pessoa ver a interdependência (origem dependente) disso. Nem desconfia do automóvel sutil como experiência luminosa. Apenas ao vender o carro ou ao alguém riscá-lo na lataria, as regiões de apego surgirão. A pessoa, então, terá noção da sua fixação ao automóvel físico como separado. Isso é a atuação do engano.

Da forma como praticamos, usamos a própria luminosidade como caminho. Ou seja, a gente usa o próprio movimento da mente para reconhecer a inteligência que discerne os enganos. Isso é a lucidez, vidya, oposto de avidya.

Avidya como a separatividade aparece na experiência como se houvesse dois lugares: aqui e lá, sujeito e objeto.

Estreitamento, confusão e teimosia mental são frutos de avidya como separatividade. É como uma resposta automática, sem autorização prévia do proprietário a respeito.

Chogyam Trungpa diz que avidya significa o ato de ignorar ou deixar de ver. Isso implica não ver a base primordial, a sabedoria primordial. Uma imagem mental surge e ganha significado pela corrente dos 12 elos.

Em seguida, começamos a dizer que aquilo está a nosso favor ou contra nós. Exatamente como fazemos quando estamos sonhando ou quando estamos tendo um pesadelo.

Um exercício de liberdade e separatividade 

Vamos ver o seguinte passo-a-passo para usar da separatividade como vantagem:

  1. Reconheça a separatividade (está lá fora)
  2. Reconheça a inseparatividade (como eu vejo daqui?)
  3. Perceba: avidya se instala e você não consegue discernir mais: é inseparável ou separável?
  4. Qual o lugar interno que eu vejo? Perceba que se você não construir a experiência dentro, você não vê fora. São inseparáveis. É devido à delusão que você se engana e segue o rastro da confusão.

A causalidade (acreditar que os resultados explicam e sustentam o controle  das situações) surge quando a separatividade se instala. Em seguida, capotamos em desejo e apego em busca de circunstâncias para equilibrar essa experiência tentando evitar o inevitável — a impermanência. Essa é a tragédia dos seres. Portanto, temos urgência em reverter esse processo o quanto antes.

O que você descobrirá nesse podcast?

  • Desejo/apego
  • Aversão
  • Compaixão
  • Grande compaixão
  • Separatividade
  • 12 elos da roda da vida (origem dependente)
  • Prajnaparamita 
  • Avidya, 1° elo da roda da vida

Ouça agora: 6 formas de avidya | separatividade – parte 2



Quer praticar junto?



Participe!

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *