MEDITAÇÃO E AS RELAÇÕES: COMO AMAR SEM DESEJO E APEGO?

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Um raio-x das relações adoecidas

  • O que torna uma relação especial?
  • O modo como nos relacionamos parte de uma compreensão superficial. É como se a gente quisesse ver apenas a parte boa, porque uma relação para dar certo, precisa… Bom, precisamos ver o que é essencial e o que é acidental numa relação.
  • Olha, temos defeitos, dificuldades, coisas que fazemos são insuportáveis e ainda queremos que as outras pessoas sejam complacentes conosco… 
  • O que estamos acordando um com o outro atrás dos olhos? Um acordo invisível. Em geral, o que chamamos de relação é um tipo de agrado que a outra pessoa nos dá. Então, a gente tem a tendência de colocar as relações como uma espécie de relação bancária, um empréstimo afetivo, digamos assim. 
  • Durante um tempo, nos alegramos, outras vezes a gente olha com orgulho, com inveja, com desejo e apego, com desinteresse, com cansaço, com carência, com medo, com rancor, com ódio… é assim.
  • Dentro das bolhas, nós olhamos para os outros como se os outros fossem coadjuvantes da visão operativa que estamos defendendo. É comovente que o motivo de angústia e ansiedade seja justamente uma pessoa que queríamos as melhores intenções antes de mais nada… 
  • A gente tem a tendência de olhar as pessoas com uma funcionalidade, um utilitarismo. Por exemplo, para que serve uma mãe ou um pai? 
    1. Comida, roupa limpa, conforto em casa, contas pagas, mesada… 
  • Nós temos muita fé na causalidade e achamos que vamos induzir ao outro um comportamento que nos fará feliz 
  • Você serve para mim! Se não servir, eu já vou acionar aqui um código dos correios ou da Jadlog e vou te despachar! Melhor, vou colocar você no mercado livre lá você pode até ser avaliado! 
  • Qual a origem das dificuldades nas relações? 
    1. Na visão budista, não são as relações que produzem sofrimento e sim o modo como a gente se fixa e tensiona a bolha 
    2. O modo superficial de lidar com as relações:
      1. Como lidar com … 
      2. 7 dicas para organizar 
    3. Vamos olhar o histórico: 
      1. Vamos acabar por chegar em Adão e Eva, Caim e Abel… 

  • Esse é um tema muito importante pois ninguém se faz sozinho/a: nos relacionamos a todo momento, em todos os lugares e com os outros;
  • Precisamos ver a vida operar de outra forma, além do campo das ideias e suposições

A HERANÇA DAS RELAÇÕES

  • Qual a herança de valores que temos recebido até aqui?
    1. Geralmente, focamos em herança e partilha de bens
    2. Visão de mundo, valores, pensamentos, comportamentos, etc.
  • A herança do Buda foi deixada para nós:  

  1. Funciona como um diagrama, ou um mapa; Um mapa mental digamos assim, estamos falando da roda da vida; 
  2. Uma forma de se relacionar com a Roda da vida, é como as dificuldades surgem e cessam?

MEDITAÇÃO E AS RELAÇÕES

  • Com a apresentação do mundo interno, temos a transformação na rota das relações, é tipo uma via expressa. Estamos cansados de ler e não transformar nada, por dentro;
  • Com a meditação temos agora o que chamo de exame de consciência em profundidade (ECP) isso tem tudo a ver com o dia-a-dia; Ou seja, temos a vida expansiva e a vida contemplativa;
    1. Vida expansiva 
    2. Vida contemplativa 
  • Com a meditação, temos agora possibilidades de nos relacionar com a mente e em silêncio, discernir o que é experiência parcial  – a bolha – e quem somos de fato;
  • Olhamos as formas de relação: conosco, com os outros, com a sociedade, etc. 
  • Vamos aprender a ultrapassar as visões anteriores que usamos como base de relação. Como isso se dá?

  1. Na perspectiva budista, a nossa essência está na liberdade frente aos conteúdos que brotam na mente;

  • Ciclos de transmigração – altos e baixos na vida. 
    1. A vida é agridoce, ambígua. Aquilo que causa alegria agora, causa desconforto em seguida;
    2. Transmigrar não resolve. Os mestres dizem a pessoa acha que mudou de relação fora, mas daqui a pouco está repetindo o mesmo final da relação anterior; 
    3. O que seria transmigrar? 
  • Vamos olhar com cuidado cada aro da roda da vida que são como dimensões mais profundas da nossa percepção de relação:

  1. Os 3 venenos / animais:

  1. O javali (o porco) simboliza a ignorância 
  2. O galo (um pombo) simboliza a aquisitividade
  3. A cobra simboliza o ódio/medo

Aqui vou enfatizar a questão da ignorância como força motora da bolha. Então, temos Avidya eu gosto de usar os nomes originais porque daí aquilo mantém o sabor. 

Avydia e fixação são sinônimos. O apego surge daqui, nos conectamos a um tipo de visão e parece que aquilo não tá lá.

Exemplos de avidya

  • Exemplo de avydia como a transição da escrita. Hoje em dia, só precisamos escrever o nome e olhe lá! Tem escolas que nem usam mais livros! 
  • O sol nasce no leste e se põe 
  • Podemos olhar as diferentes culturas ao longo da história e comparar como aquilo funciona e depois cessa. 
  • Outro exemplo: houve um tempo que dente de ouro era ostentação! Açúcar era algo maravilhoso!
  • Avydia é deixar de ver o que a realidade mais ampla e passar a operar dentro de um jogo, desgastante, etc. Mas isso é um jeito, um modo de operar.
  • Como surgem as tensões nas relações? 

  1. Eita! Embolhou… Controle e fixação à visão surgida na bolha;
  2. Deveria ter esse termo nos dicionários: embolhar.


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ALÉM DO DESEJO E DO APEGO: EXISTE VIDA ALÉM DAS EMOÇÕES PERTURBADORAS?

  • Sempre que nos ajudarmos a olhar de forma mais ampla o que quer que surja, a relação melhora.

  1. O que seriam os atritos nas relações? Choque de bolhas. 

  • As dificuldades são simplesmente as bolhas operando e a teimosia em ser obedientes a essas operações mentais; 

  • No mínimo, contemplamos a impermanência: nós seguimos mesmo diante das piores crises. Quem somos nós então? 

  1. O que estou fazendo aqui mesmo? Esse susto faz a pessoa olhar de novo para vida e com mais atenção e cuidado.

  • Dentro da bolha parece que as coisas não têm solução!
  • Caímos em ciclos:  urgências  → resolução → controle; 

  1. Dentro da bolha, nós olhamos para os outros como se os outros fossem coadjuvantes da visão operativa que estamos defendendo;

  1. Quando o outro fizer exatamente o que queremos, o que acontece?

  • Isso nas relações, seguem desde as crianças até a idade adulta, de várias formas. Observe:

  1. Crianças olham para os adultos de um certo jeito 
  2. Adolescentes olham para os adultos de um certo jeito 
  3. Adultos e o pessoal da 3° idade se olham de um certo jeito e compartilham ou não mundos comuns
  4. Quando a bolha opera, aquilo funciona como uma visão utilitária; A gente tenta encaixar o outro no perfil, no cadastro que a gente faz. Tem triagem, tem tudo! 

  • Por exemplo, por vezes, andamos pelas ruas e nem percebemos quem são as pessoas que estão ali! 

  • Nem olhamos nos olhos delas…

  • Como ultrapassar as bolhas? Vamos recuar até o ponto onde as sabedorias afloram sem esforço. E nesse ponto, não há modulação de energia e, portanto, não há sofrimento;

COMO ULTRAPASSAR A RIGIDEZ DAS BOLHAS NAS RELAÇÕES?

  • No contato com o silêncio, com a meditação, eu agora descubro que existem as 5 sabedorias transcendentes, que são como inteligências prontas, fora das bolhas, disponíveis. São inteligências vitoriosas! A gente se sente vivo ali dentro e não desgastado, inerte, passivo nas situações. São inteligências vivas.

  • Independe do ânimo do outro, não efeito colateral e ainda ajuda as pessoas a andar melhor na vida

  • Surge uma alegria incomum. Não vem por esforço ou luta contra alguém em algum lugar e por aí vai. 

A MEDITAÇÃO COMO LABORATÓRIO DA VIDA

  • A gente vai precisar de um eixo. Sem isso, a gente vai se afogar de novo e de novo. 
  • Uma trajetória de lucidez na vida 
  • 4 Nobres Verdades e o Caminho de 8 passos 
  • É onde as coisas se encaixam, ou seja, entender como que cada coisa citada aqui se encaixa.
  • Não estamos nos adornando de livros… É uma proposta de experiência direta. 
  • Sem uma busca sincera no coração, não há mudança significativa. Pode acumular o quanto de for de livros, palestras, cursos, etc. 
  • Por exemplo, tu começa a meditar e percebe que a tua atenção num dura nem 1 minuto. Já pensou em dizer assim: “Olha, eu não consigo manter a atenção em você, nem por um minuto, mesmo assim, eu vou tentar aqui fazer o meu melhor.” Mais, honesto. 

AS 5 SABEDORIAS NAS RELAÇÕES

Começamos agora a olhar o que se apresenta, internamente, passo a passo, trabalhamos com o que se apresentar;

As situações se apresentam e nós criamos e sustentamos uma história: tem o protagonista, o antagonista, trilha sonora… Será que dá para esperar e olhar mais afundo o que está ali?

Temos então uma contato íntimo com as 5 sabedorias para amar sem desejo e apego.

Qualquer uma dessas inteligências está fora das bolhas! 

  1. Sabedoria do espelho
    1. Olhar o outro no mundo do outro, com os olhos dele
    2. A gente também inclui que o outro tem problemas assim como a gente 
  2. Sabedoria da igualdade
    1. O outro conserta uma tomada de vez em quando…
    2. Entendemos que o outro tem qualidades e nos relacionamos a partir disso, tem interesse sincero em ver o outro florescer  
  3. Sabedoria discriminativa
    1. Entender o que produz as oscilações e o que produz benefícios 
  4. Sabedoria da causalidade
    1. Não compactuar com ações negativas a curto, médio e longo prazo. Por exemplo, o golpista do tinder, ninguém gosta de ser enganado ou ser feito de trouxa e ainda ter que pagar uma dívida de num quantos dólares
  5. Sabedoria de Darmata
    1. Buscamos silenciar e entender o que não é construído em nós. 
    2. Nossa verdadeira face está além dos papéis e identidades que assumimos 

CONCLUSÃO

Quando nós temos essa estabilidade, nós temos essa fonte de energia

mais profunda, nós podemos ser pais melhores, mães melhores, melhores irmãos, melhores, namorados, namoradas, e assim por diante. 

Melhor mesmo é a gente ter um pouco mais de discernimento pra poder andar melhor na vida.  O que seria poder andar melhor na vida? É ter  essa capacidade de estabilidade interna. 

Com isso, a gente vai poder passar pelas relações e também pelo  envelhecimento, decrepitude, morte, as crises, as frustrações variadas em meio da vida. Não sei se a gente já se deu conta, mas tem esses estágios aí… Essa estabilidade das 5 sabedorias, em especial a de Darmata, nos permite andar no meio disso. Sem medo. Sem dor.

Desse modo, é possível amar sem ter apego pois a mente agora está operando pelas 5 sabedorias e não por origem dependente.

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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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