O atestado da sabedoria Prajnaparamita é o testemunho das experiências comuns, cotidianas, como o exercício da mente luminosa em seu potencial como originação dependente.
No Sutra do Coração da Abençoada Prajnaparamita temos:
“Forma é vazio, vazio é forma. Forma nada mais é do que vazio, vazio nada mais é do que forma”
Nesse momento, isso soa abstrato. O melhor é parar, praticar e contemplar, ver com “os olhos da sabedoria.” É como se estivéssemos no making of da vida, isso é ver a partir de Prajnaparamita.
O 4° elo é nama-rupa, significa Nome e forma. É simbolizado por duas pessoas em um barco, vagueando em um rio, em movimento, temos uma concepção em mente e estamos em busca de concretude para sustentar essa experiência.
Como chegamos a Nama-rupa?
Nós temos a mente livre, sem flutuações e agora, no 1° elo (avidya) com a separatividade, temos ainda a liberdade inata, mas nos distraímos e ficamos presos na luminosidade e criatividade da mente.
No 3° elo (Vijnana), temos a consciência dual como se fosse autônoma e vamos em busca de objetos que sustentem essa energia flutuante do 2° elo, numa direção. Vamos buscar estabilizar isso. Estamos em busca de um “atalho” para facilitar o acesso a essa configuração interna e lutar contra a impermanência e o desgaste cármico em nós.
É comovente.
Quando estamos vagueando com a mente, para o samsara, isso seria a “distração”, para nós, isso já seria NAMA-RUPA.
Observe que vamos em busca de coisas, objetos, lugares e situações para estabilizar os estados mentais já existentes no 2° elo.
É como buscar uma rota, um sentido, para tornar a experiência abstrata mais familiar, como um roteiro, um mapa já traçado, como a lista de feira semanal ou as jogadas do tabuleiro.
Juntamos os objetos que me permitam estabilizar a mente numa direção e materializar a experiência abstrata dos 3 elos anteriores.
Exemplo de Nama-rupa: você já comeu açúcar?
Quando pergunto se você já comeu açúcar e você responde: “sim!” , isso é espantoso! Não sabemos se estamos olhando a partir do mesmo estado mental, nama-rupa, sobre a mesma experiência.
“Como assim, Roberto?”
Por exemplo, qual açúcar você comeu? Demerara, mascavo, cristal? Cada um deles tem um sabor diferente, ainda que sejam doces.
Açúcar é a nama-rupa, o ato de “coisificar”, a concretude com a experiência de marca mental e a experiência dos sentidos. Em geral, as pessoas dirão: “Que bobagem! É muito simples açúcar é doce, oras”.
Quando abrimos uma geladeira em busca de queijo prato, não é o referente “queijo prato” que nos faz salivar. Nós precisamos ter o brilho no olho de queijo prato para percebê-lo.
Rótulos e condicionamentos
O vaguear em busca de algo fora de nós, não vem por saber as palavras referentes aos objetos e sim, a flutuação de energia. Quando rotulamos, surge uma certeza correspondente a uma energia viciada que congela a experiência da mente.
Surge uma resposta automática em relação aos rótulos, que são como que roteiros para reforçar aquela experiência.
Como sabemos, as palavras não movimentam a energia. Elas espelham a busca em segurar a marca mental surgida anteriormente.
Por exemplo, como seria a nama-rupa quanto a uma nota fiscal? Ali é um pedaço de papel com várias informações. Será? Há uma interdependência complexa numa nota fiscal. Vale a pena olhar cada linha e perceber quantas relações estão envolvidas nisso.
Em resumo:
- No 4° elos, nós oferecemos estados mentais uns aos outros a partir de rótulos e atributos fixados, polarizados e ambíguos.
- Esses estados mentais flutuam na ação de energia condicionada a bolha
- Identificamos os objetos e aquilo parece mais uma extensão de nós mesmos.
- “Quem sou eu? Ah, eu sou aquele que sabe dirigir mais assim ou assado”
- Quando eu encontro o objeto externo, a sustentação de energia é então legitimada;
- Por exemplo, temos a mente do jogador de xadrez, e agora eu vou delimitar o quadrado com madeira e quadrados brancos e negros, depois, vamos posicionar uma peça dentro de um jogo de tabuleiro e elas tem um script;
- Quando a gente diz: “Prefeitura do Rio de Janeiro” isso não é apenas uma palavra, é algo mais complexo em todos os sentidos.
Mais exemplos:
- Pegar um chão de cimento, colocar duas listas e dizer: “aqui é uma vaga de estacionamento”
- Afirmar: “Claro que é assim… Claro que não é assim…”
- Vamos encomendar uma pizza? Então, nós vamos no app do smartphone e pedimos… um estado mental pois ali não tem uma pizza, de fato.
- Eu ainda não tenho o objeto físico. Isso vai acontecer depois. É como passear no supermercado e perguntar: “onde fica a sessão de frutas?” “Sessão 5, senhor”. Agora, eu localizo na mente uma maçã e depois vou na sessão de maçãs e só vejo maçãs.
- Nama-rupa é a tentativa de segurar a imagem mental e registrar aquilo na mente, seguir em movimento a partir do contorno.
Ouça agora:Nama-rupa | 4° elo – A mente que busca permanência