Nama-rupa | 4° elo – A mente que busca permanência

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Tempo estimado de leitura: 3 minutos

O atestado da sabedoria Prajnaparamita é o testemunho das experiências comuns, cotidianas, como o exercício da mente luminosa em seu potencial como originação dependente.

No Sutra do Coração da Abençoada Prajnaparamita temos:

“Forma é vazio, vazio é forma. Forma nada mais é do que vazio, vazio nada mais é do que forma”

Nesse momento, isso soa abstrato. O melhor é parar, praticar e contemplar, ver com “os olhos da sabedoria.” É como se estivéssemos no making of da vida, isso é ver a partir de Prajnaparamita.

O 4° elo é nama-rupa, significa Nome e forma. É simbolizado por duas pessoas em um barco, vagueando em um rio, em movimento, temos uma concepção em mente e estamos em busca de concretude para sustentar essa experiência.

Como chegamos a Nama-rupa?

Nós temos a mente livre, sem flutuações e agora, no 1° elo (avidya) com a separatividade, temos ainda a liberdade inata, mas nos distraímos e ficamos presos na luminosidade e criatividade da mente.

No 3° elo (Vijnana), temos a consciência dual como se fosse autônoma e vamos em busca de objetos que sustentem essa energia flutuante do 2° elo, numa direção. Vamos buscar estabilizar isso. Estamos em busca de um “atalho” para facilitar o acesso a essa configuração interna e lutar contra a impermanência e o desgaste cármico em nós.

É comovente.

Quando estamos vagueando com a mente, para o samsara, isso seria a “distração”, para nós, isso já seria NAMA-RUPA.

Observe que vamos em busca de coisas, objetos, lugares e situações para estabilizar os estados mentais já existentes no 2° elo.

É como buscar uma rota, um sentido, para tornar a experiência abstrata mais familiar, como um roteiro, um mapa já traçado, como a lista de feira semanal ou as jogadas do tabuleiro.

Juntamos os objetos que me permitam estabilizar a mente numa direção e materializar a experiência abstrata dos 3 elos anteriores.


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Exemplo de Nama-rupa: você já comeu açúcar?

Quando pergunto se você já comeu açúcar e você responde: “sim!” , isso é espantoso! Não sabemos se estamos olhando a partir do mesmo estado mental, nama-rupa, sobre a mesma experiência.

“Como assim, Roberto?”

Por exemplo, qual açúcar você comeu? Demerara, mascavo, cristal? Cada um deles tem um sabor diferente, ainda que sejam doces.

Açúcar é a nama-rupa, o ato de “coisificar”, a concretude com a experiência de marca mental e a experiência dos sentidos. Em geral, as pessoas dirão: “Que bobagem! É muito simples açúcar é doce, oras”.

Quando abrimos uma geladeira em busca de queijo prato, não é o referente “queijo prato” que nos faz salivar. Nós precisamos ter o brilho no olho de queijo prato para percebê-lo.

Rótulos e condicionamentos

O vaguear em busca de algo fora de nós, não vem por saber as palavras referentes aos objetos e sim, a flutuação de energia. Quando rotulamos, surge uma certeza correspondente a uma energia viciada que congela a experiência da mente.

Surge uma resposta automática em relação aos rótulos, que são como que roteiros para reforçar aquela experiência.

Como sabemos, as palavras não movimentam a energia. Elas espelham a busca em segurar a marca mental surgida anteriormente.

Por exemplo, como seria a nama-rupa quanto a uma nota fiscal? Ali é um pedaço de papel com várias informações. Será? Há uma interdependência complexa numa nota fiscal. Vale a pena olhar cada linha e perceber quantas relações estão envolvidas nisso.

Em resumo:

  • No 4° elos, nós oferecemos estados mentais uns aos outros a partir de rótulos e atributos fixados, polarizados e ambíguos. 
  • Esses estados mentais flutuam na ação de energia condicionada a bolha
  • Identificamos os objetos e aquilo parece mais uma extensão de nós mesmos.  
  • “Quem sou eu? Ah, eu sou aquele que sabe dirigir mais assim ou assado”   
  • Quando eu encontro o objeto externo, a sustentação de energia é então legitimada; 
  • Por exemplo,  temos a mente do jogador de xadrez, e agora eu vou delimitar o quadrado com madeira e quadrados brancos e negros, depois, vamos posicionar uma peça dentro de um jogo de tabuleiro e elas tem um script; 
  • Quando a gente diz: “Prefeitura do Rio de Janeiro” isso não é apenas uma palavra, é algo mais complexo em todos os sentidos.

Mais exemplos:

  • Pegar um chão de cimento, colocar duas listas e dizer: “aqui é uma vaga de estacionamento” 
  • Afirmar: “Claro que é assim… Claro que não é assim…”
  • Vamos encomendar uma pizza? Então, nós vamos no app do smartphone e pedimos… um estado mental pois ali não tem uma pizza, de fato.
  • Eu ainda não tenho o objeto físico. Isso vai acontecer depois. É como passear no supermercado e perguntar: “onde fica a sessão de frutas?” “Sessão 5, senhor”. Agora, eu localizo na mente uma maçã e depois vou na sessão de maçãs e só vejo maçãs. 

  • Nama-rupa é a tentativa de segurar a imagem mental e registrar aquilo na mente, seguir em movimento a partir do contorno.

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Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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