Podcast #20 | Refinando a shamata impura

shamata impura
Tempo estimado de leitura: 5 minutos

A shamata impura é uma técnica meditativa usada para nos reapropriarmos da capacidade de mantermos foco, concentração, leveza e um estado de paz interior. Porém, como estamos dentro de um contexto mais amplo de treinamento, estamos vendo que apenas a shamata impura é insuficiente para nossa caminhada rumo a lucide

Nós estamos seguindo com a compreensão sobre a meditação e como a experiência disso se dá, tanto interna quanto externamente. Quando estamos imóveis em corpo, fala e mente, podemos olhar com mais profundidade para os impulsos que brotam, genericamente chamados de pensamentos e emoções. Então, a prática começa quando nos damos conta de que entre um pensamento e a quietude, há uma lucidez que discerne e descortina a si mesma. 

No caso, a prática em si será a shamata com foco na energia. Recomendo algumas meditações guiadas para irmos treinando, exercitando a capacidade de dirigir a própria mente. De vez em quando, é interessante lembrar da motivação correta se sentarmos para praticar pois segundo os mestres, isso acelera o processo de decantação da mente agitada e o processo de re-iluminação se torna natural.

Para aproveitar os estudos:

  1. Leia o trecho “Darma da vez” escutando a gravação do estudo em no podcast;
  2. Enriqueça a sua compreensão: Procure exemplos em sua vida com pessoas próximas, nos noticiários, nas diversas conversas entre amigos, no trabalho, etc.
  3. Antes de seguir para o próximo estudo, anote os exemplos ou as eventuais dúvidas e se preferir, compartilhe com o grupo de apoio aquilo que achar apropriado, dentro do escopo do tema.

Darma da vez

Refinando a prática de meditação com shamata impura

Então nesse momento estamos fazendo um treinamento para andar sobre o fio, porém, a um palmo do chão, o que significa que se tivermos algum problema, simplesmente colocamos o pé no chão e voltamos. Porém, mais adiante, vamos precisar andar seja como for, e  é certo que vai surgir o momento, em que vamos estar não a cem metros do chão, mas sobre um abismo, atravessando a própria morte. 

Quando nos aproximamos de experiências, as quais não há como interromper, não existe mais a possibilidade do pé no chão, se cairmos, realmente caímos e estamos nos preparando para isso.

Andar sem se perturbar é o primeiro passo de shamata

Nesse treinamento para podermos andar sobre o fio, dizemos “olhe só para o fio”, porque se começarmos a olhar para tudo o que há ao redor, caímos. Então olhamos somente para o fio, para o foco que elegemos. Isso é artificial? Sim, é artificial, mas esse é o método que estamos usando e que progressivamente vai nos habilitar a andar com equilíbrio. Então primeiro estabelecemos o foco, e aí vemos se o foco está presente ou não, e assim treinamos.

Depois vamos treinar niroda, ou seja, vemos não só se o foco está presente, como vamos cessar tudo ao redor, todo o resto. Não vemos mais nada. Ai percebemos que existe um estado de equilíbrio natural. O estado de equilíbrio vem junto com o foco, vemos que existe um estado próprio ali. Junto com o estado de equilíbrio, quando a mente se concentrou, vem a bem-aventurança, parece que o universo inteiro pára. 

Os efeitos colaterais da shamata

Essa concentração da mente produz um estado de bem-aventurança, de plenitude, de completitude, que é maior que qualquer experiência de samsara. Samsara, ou seja, a experiência dispersiva, a experiência ao redor, nesse momento, perde o poder, a atração. E como é que poderíamos medir isso? Os objetos usuais, que são os nossos objetos de desejo, eles perdem o poder nesse momento. Se alguém nos perguntasse a respeito dos nossos desejos, responderíamos “eu não preciso de mais nada”. Então Samsara perde o poder de atração, e isso produz uma impressão na  mente.

O fato de samsara perder o poder de atração vai seguir se manifestando em nossa lembrança, vamos sair “do fio” e vamos fazer outras coisas, mas vai permanecer na memória aquela experiência. Então para efeito do nosso roteiro, poderíamos colocar que posteriormente surge uma memória ou nostalgia pela lembrança desse estado. Ficamos saudosos, pensamos “provavelmente um dia eu retorno, eu cheguei muito perto…”. Parece que não faltou nada, no entanto, acabou. Então essa é a concentração unifocada.

Shamata é um calmante e não a lucidez

Até esse ponto podemos ainda perceber, incluir dentro de um roteiro, sendo que o que ocorre posteriormente não é possível incluir. E qual seria o comentário a respeito disso? Se nessa etapa, ela vai nos conduzir a um renascimento impróprio. Porque esse estado não é um estado de lucidez. E por que ele não é um estado de lucidez, qual é o problema dele? Ele é um estado de concentração apenas, é impermanente, há uma identidade presente. E por que ele conduziria a um renascimento impróprio? Porque estamos felizes e auto- suficientes, ou seja, isso é a experiência do reino dos deuses, estamos numa nuvem, pairando num estado específico.

Shamata impura e lucidez são essenciais

Nesse ponto, se não tivermos lucidez, esse estado se transforma numa semente, que vai seguir através da memória, de uma nostalgia desse estado. Ele se transforma numa semente que vai aguardar o momento de germinar. Quando morremos, a nossa experiência que naturalmente é intermediada pelos sentidos físicos mais concretos, cessa, e a nossa mente fica apenas com o seu aspecto livre. 

Esse aspecto livre está sempre presente, porém nesse momento estamos carmicamente estabilizados por todos os objetos dos sentidos, como as imagens, os sons, os sabores, etc. estamos estabilizados pelo fato de que ao termos experiências sensoriais, estados mentais surgem, e então a nossa mente mais ou menos se estabiliza a partir disso, mas mesmo assim, a nossa mente segue livre, ampla em todas as direções.

Estados particulares de equilíbrio 

Assim, num estágio onde não temos nenhum apoio sensorial, vamos vaguear por todas as nossas impressões, buscando um apoio. Na impossibilidade de encontrar esse apoio, vamos terminar encontrando as sementes. E nesse processo, nós, com mãos de sonho, pernas de sonho, estabilizamos aquele estado que pode ter uma duração muito ampla. Esse estado é um estado auto-sustentado, tem todos os elementos, ou seja, tem o javali, a cobra e galo, a defesa, porque sabemos exatamente o que fazer para não sair dele. 

Qualquer elemento externo que surgir vamos resistir, porque esse é o treinamento, e dentro dele sabemos o que fazer, sabemos exatamente o que devemos fazer para mantê-lo, esse é o galo. E sabemos o que ele significa, ele é esse equilíbrio, e esse equilíbrio é a nossa identidade. Isso pode durar por um tempo enorme. Se alguém vier a nossa frente e fizer prostrações pedindo ajuda, não nos movemos.

A importância de shamata dentro do caminho de oito passos é crucial, mas é insuficiente

Mas, é claro, temos outras sementes. Então vai acontecer de passar um Buda pela nossa frente, vai olhar para nós e vai perceber “ele tem uma semente de malandragem! Se eu fizer uma cambalhota aqui, ele sai daquele estado”. E ai alguma coisa acontece e saímos e retomamos o processo. Mas por que estamos vendo isso? Porque para nós isso aqui é uma passagem. Nenhum dos oito passos do nobre caminho em si mesmo representa a liberação. Vamos andar nos oito, de um para o outro.

Podcast

A seguir, aperte o play e acompanhe o estudo em áudio:


Que muitos seres possam se beneficiar!

Seguimos girando a roda do Darma em nossas vidas!

Imagem de Free-Photos por Pixabay

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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