Como lidar com o sono durante a meditação?

lidar com o sono durante a meditação
Tempo estimado de leitura: 5 minutos

Cá prá nós, começamos a meditar, e brota alegria. Vemos nossa vida melhorar. Algumas “novidades” podem surgir também, como por exemplo, o sono durante a prática. Para quem está no início, é algo bem frustrante. Então, como podemos lidar com o sono durante a meditação

A técnica de meditação não provoca e nem induz sono, ela apenas nos torna mais conscientes de nós mesmos. Sendo assim, ao invés de se preocupar com o sono durante a meditação, melhor agradecer pois fomos alertados. Perceber um ajuste aqui e ali, é uma boa notícia: nosso sono precisa ser regulado.

Se ainda assim quisermos nos forçar a seguir com a meditação, mesmo com os olhos pesados, sonolentos, e somos iniciantes, isso é realmente algo benéfico? Ou estamos camuflando um stress adicional? Estamos a combater o ato sono durante a prática, isso é inútil.  Uma dificuldade recorrente associada ao sono, é justamente o ato de relaxar.

Permita-se o silêncio

Permita-se o silêncio. Apenas isso. Nós melhoramos nossa relação com o sono dessa forma. Nós precisamos olhar para nossa vida com mais precisão, para como estamos lidando com ela. A depravação do sono, como insônia ou sonolência, durante o dia precisa ser levada em conta pois, ao sentarmos, nos depararemos com esse processo, mesmo sem querermos. 

A meditação espelha claramente todas as nossas ações, se estamos conscientes delas, melhor. Assim, em termos dos três aspectos: corpo, fala e mente, listamos alguns cuidados para lidar com o sono antes e durante a meditação. Quando sentamos para praticar, nos propomos a estarmos mais abertos e sem atribuições, mil atividades. Portanto, o sono não surge na prática de silêncio. 

Assim como só podemos aprender a nadar, ao nos colocarmos em marcha, na água. Inútil ver muitos vídeos no youtube, isso apenas provoca mais ansiedade.

Sugestões sobre o tema do sono durante a meditação:

Cuidados com o corpo 

  1. Uma caminhada por semana ou mais, consciente da respiração e de seus passos, podem ajudar a regular o seu sono; 
  2. Faça algum exercício físico regular, de sua preferência. 
  3. Quando foi o seu último check-up médico? 😉

Nos intervalos das sessões de prática

  1. Evite tomar café – gosto bastante de café – mas estamos no caminho de transformação, tomar café apenas irá mascarar o efeito do sono;
  2. Alimentos energéticos – Bom, se tomarmos energéticos e afins, apenas iremos, novamente, retardar o processo mais amplo da meditação – a lucidez

Outros pontos para experimentar é tomar uma ducha, de água fria, antes de sentar para praticar. Faça exercícios de alongamento durante as sessões. Esses exercícios ajudam a despertar o corpo, e a circulação sutil da energia presentes.

Organize o seu espaço físico de prática

  1. Evite meditar em cima da cama: internamente, nosso corpo já está acostumado a ver a cama como nosso encontro mais íntimo com Morfeus
  2. Ar-condicionado, ventiladores… Que tal deixar as janelas abertas? Novamente, qualquer estímulo que nos faça lembrar o ato de dormir, precisa ser revisto. 
  3. Comidas leves ajudam a diminuir o sono – não sou profissional na área alimentícia, mas uma alimentação mais leve tem uma digestão mais suave. Isso é bem experimental, prático. Experimente meditar no dia seguinte aquela feijoada. Simples, não? 

Olhos fechados induzem ao sono?

No início da prática, ao recebermos instruções de meditação, somos convidados a experimentar os olhos fechados durante as sessões de prática. Isso pode ajudar ou não. É preciso testar, cada caso é um caso. 

Então, vamos experimentar? São três possibilidades quanto ao posicionamento dos olhos para meditar: 

  1. Completamente fechados; 
  2. Olhos semicerrados, “fitando” – 50% abertos, 50%fechados;
  3. Olhos abertos.

Precisamos lembrar: nosso objeto de prática é a mente. Então, vamos tentar praticar com os olhos abertos?  Lembre-se de se sentir confortável, o tensionamento, a mente já faz. 

Como anda a sua postura na meditação?

Ao sentar para meditar, o relaxamento aparecerá, com certeza, é item de fábrica, digamos assim. É um efeito colateral da meditação É necessário se sentir confortável, em si mesmo, para avançar. Essa segurança, vem sem pressa, olhamos novamente cada item: corpo, fala e mente

Com o corpo preparado para meditar, considere também alternar as pernas e fazer alongamento nos intervalos das sessões de prática. 

Procure um grupo para meditar

Por vezes, a alegria da meditação que antes era substituída pelo sono, some simplesmente pelo fato de praticarmos em grupo, sentimos a energia do grupo, avançar. Procure um grupo de meditação próximo a você ou venha meditar conosco.

Experimente trocar de turno

Se você costuma meditar de noite e tem dificuldades em como lidar com o sono durante a meditação, bom, pode ser que simplesmente você precise dormir. Afinal, o corpo humano entende que esse horário noturno é para descanso. Então, tente alternar o horário de prática: por vezes de manhã, por vezes de noite. 

Experimente: como você reage a essa troca? 

Ao acordar para praticar pela manhã, antes de sentar para meditar, vá ao sanitário para expelir as fezes e a urina, tome uma ducha de água fria. Bebva um copo de água também. Faça algum alongamento básico, renove a motivação correta para praticar.

Posso meditar deitado?

Alguns professores utilizam como suporte a prática de meditação sentada, em lótus, a prática de shavasana. De fato, ela é muito útil pois nos ajuda a relaxar da conceitualização mental, sem termos que lutar contra nós mesmos. Respiramos! E varremos cada músculo, sensação. 

Porém, o nosso corpo entende o deitar muito bem: nós estamos indo dormir ou morremos. Então, como podemos conciliar isso? Uma sugestão é intercalar sessões de meditação sentadas, com sessões deitadas. Sempre estando conscientes da respiração, atenção plena. Isso, se desejarmos seguir com a meditação e deitados… 

Nós vamos precisar readaptar o nosso descanso. Então, quando formos para cama, precisaremos dormir de lado, ou de bruços. Mas, de costas, não.

Estou com sono: vale a pena insistir na meditação?

Você deveria relaxar primeiro. Você realmente está fazendo algo errado? fora do escopo da meditação? Quando estiver com sono, é preciso se sentir confortável primeiro, para em seguida, estar consciente durante a prática. Você irá se desgastar muito se tentar ser sofisticado com meditações elaboradas, imaginando o sono se dissipando com uma visualização assim ou assado, se encher de 2 litros de café ou evitar o sono com um som, no estilo ruído branco. 

A meditação simplifica a nossa vida. Então, o significado de inspirar e expirar, relaxar, meditar sem ter um adversário, ou seja, evite lutar consigo para se manter acordado, tá bem?

O sono não será eliminado se tentarmos ir contra ele pois isso significa tensionar a mente, a energia e o corpo para se obter algo. Observe-se, tenha paciência. Recomece a prática.

Se a sensação de sono se estender por semanas, pode ser por uma rotina muito estimulada e estimulante. Seu corpo está lhe pedindo para descansar e você está passando do limite.

Nesse caso, melhor olhar novamente os quatro pensamentos que transformam a mente.

Como aproveitar o sono para avançar?

Se você já tem alguma rotina de prática, então, como o Lama Padma Samten, meu professor, sugere, você usará o próprio sono como objeto de foco e avanço. 

Um travesseiro chamado shamata

A ferramenta de meditação usada para tal, é a shamata. Ela possui duas etapas: impura e pura. Na primeira, eu inicio a meditação inspirando e expirando, olhando todos os indícios, julgamentos, ideias, pensamentos, que brotam em nossa mente. Apenas testemunho, mas sem me identificar. 

Apenas estamos ali, conscientes do que está acontecendo. Com shamata pura, é justamente no surgimento do sono – ou qualquer outra coisa – que podemos entendê-lo, investigar o que realmente está acontecendo ali, além dos nossos julgamentos, pensamentos nocivos e emoções flutuantes. 

Nós tomamos a responsividade (os automatismos, as respostas prontas) para entender como se manter estável, relaxado e consciente da perturbação. Ou seja, antes eu me perturbava, mas como estou consciente, do processo e tenho lucidez a respeito, isso não me fisga mais. 

É como o exemplo do peixe que olha uma isca e se move automaticamente, ele fica enroscado. Se ele conseguisse se aproximar da isca, chegar mais perto, ele se daria conta do um gancho disfarçado de isca. Portanto, jamais seria fisgado. Então, ao nos darmos conta do movimento da mente, primeiro paramos. Depois, vemos o que se movimenta sem movimentar junto, apenas observamos. É como o próprio Buda diz: a mente vê a mente. 

Os cinco elementos na meditação

Também posso trabalhar com a questão do sono e a meditação, a partir dos cinco elementos. Dessa forma, nós olhamos o sono e acionamos a autonomia dos cinco elementos. Aquilo se equilibra, sem a necessidade de muitas explicações e elaborações. Apenas sentamos.  

REFERÊNCIAS

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Imagem de StockSnap por Pixabay

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

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