A coemergência é um termo que pertence ao “budistês” e pode dar um nó na nossa cabeça por ser uma palavra pouco usada no nosso cotidiano. Aparentemente, é algo complexo de ser percebido, mas veremos a seguir que se trata apenas de uma nova perspectiva que está disponível além das ações usuais da visão condicionada: responsividade, disciplina, troca de paisagem ou intuição.
Coemergência é um termo usado pelo Ven. Gyatrul Rinpoche aos comentários do texto de seu professor, Dudjom Rinpoche, o guia prático de meditação “A iluminação da sabedoria primordial”.
A ideia geral dessa publicação é apresentar uma noção básica e alguns exemplos para contemplação também. Assim, aos poucos, podemos ir nos empoderando a Visão sabedoria de Prajnaparamita – vacuidade, luminosidade – sem contrapor a visão condicionada de realidade. A etapa de compreensão da coemergência é um grande salto nessa etapa de prática.
Então, nós vamos apresentar alguns trechos a respeito. No final, seguem algumas contemplações.
O Lama Padma Samten comenta
Conceito de coermergência
Estamos palmilhando coisas, olhando sob o ponto de vista de mente. Agora olhamos a mente associada à forma. Ou seja, tenho uma categoria discriminativa que produz aquilo dentro de uma perspectiva, vejo que o conteúdo que está por trás dos meus olhos produz a aparência do que está na frente, de modo inseparável, surge no mesmo fenômeno.
Por exemplo, essa imagem de Guru Rinpoche, eu posso olhar Guru Rinpoche ali ou na minha mente. Não tenho como distinguir. Posso dizer: “Guru Rinpoche não está ali, com certeza, ele está na minha mente, porque é um metal”. Por outro lado, posso dizer: “Não é da minha mente. Porque tem o metal com formato desse modo é que surge Guru Rinpoche na minha mente”, mas eu não altero o fenômeno, eu continuo olhando, é o mesmo fenômeno.
O mesmo fenômeno eu explico como Guru Rinpoche ali e como Guru Rinpoche aqui dentro. Se digo que está no metal, alguém pode não ver Guru Rinpoche atrás. Então, deve ser só da mente, mas na mente têm muitas coisas, eu olho e vejo Guru Rinpoche, poderia ver outra coisa. Não consigo resolver, isso é coemergência, os fenômenos coemergem.
O aspecto importante da coemergência é que introduz como parte de tudo que estamos lidando, o conteúdo que eu tenho atrás dos olhos. De modo geral, ainda que seja um fenômeno que sempre acontece, não temos propriamente uma linguagem para descrever isso, mas estamos introduzindo essa linguagem.
Quando eu começo a achar uma utilidade para as coisas, elas ganham vida, vejo a coemergência.
Um exemplo muito simples disso é a reciclagem de lixo. Algumas pessoas vão dizer que o lixo não existe. O lixo é alguma coisa que alguém, com uma determinada postura de mente, vê como lixo, mas o lixo não existe, porque, se eu olhar para cada uma daquelas coisas que constituem o lixo, eu posso ver uma utilidade para elas; se eu não vejo utilidade, brota a categoria lixo! Mas, quando eu olho para as coisas de forma suficientemente aberta, eu começo a achar utilidade para elas; isso significa que o lixo começa a desaparecer da minha frente como tal, pois começa a surgir gente um pouco mais criativa que vê aquilo de outra forma.
Olhando para o lixo em geral, há pessoas que pensam: “se eu queimar isso, eu gero energia e com essa energia eu produzo energia elétrica”.
O que é coemergência? Continue lendo na íntegra →
Com a coemergência, as coisas são um espelho daquilo que refletimos internamente
Numa outra forma de explicar, a gente poderia dizer que o mundo é um espelho que reflete as nossas estruturas internas. Os cientistas, numa época, diziam que a mente era um espelho que deveria estar muito bem polido para refletir as aparências, sem distorcer as aparências. Mas na visão budista as aparências são um espelho que reflete esse mundo. Por quê? Porque o mundo interno coemerge com a aparência como ela surge.
Então quando nós trabalhamos com a noção que o mundo pré-existe à consciência, que ele está além da consciência, que ele é uma coisa sólida do lado de fora e a gente descreve a montanha, descreve o sol, a lua, descreve tudo como se fossem existências em si mesmas, nós estamos dentro de uma perspectiva que, no budismo, a gente vai considerar que é avydia, que é samsara.
Aí, quando nós consideramos que o mundo reflete as estruturas internas, nós conseguimos explicar por que que ciência, mudando a visão interna das leis e a forma como entende as coisas, ela produz uma capacidade de ver as mesmas experiências, nos mesmos experimentos, ver outras realidades. Em outras palavras, quando o nosso mundo interno muda, a realidade muda também.
Então hoje isso é conhecido no mundo psicológico, também no mundo científico, as experiências densas mudam. A nossa visão de mundo, a cosmologia, por exemplo, produz outras visões de universo a partir das mudanças internas. Então a coemergência é essa compreensão de que aquilo que a gente vê como se fosse externo na verdade está coemergindo com as estruturas internas, emocionais e de energia, e cognitivas também com que nós estamos operando.
Reencantamento do Mundo (com Lama Padma Samten).
Contemplações
Agora, vamos começar com os exemplos.
- Vamos criar uma série numérica como 3, 6, 9, 12, 15, 18. Quais são os dois números seguintes?
- Vamos criar um objeto imaginado. Por exemplo, uma esfera ou um cubo, o rosto de alguém, a porta da nossa casa ou a placa do nosso carro. Quem produz e sustenta a imagem?
- Vamos pegar uma foto. Como papel e tinta produz uma experiência densa, sólida, real?
- Vamos olhar para uma estátua. Como um objeto de pedra pode produzir realidades e mexer conosco?
- Podemos pegar uma foto de alguém e comparar com uma pessoa presencialmente. Onde surgiu a experiência?
- Folhas de um livro ou dicionário – vemos o que está impresso. Onde se iniciou a leitura? Como que papel e tinta ganham significado?
- Quando tocamos o sino de meditação, onde está o som? No bastão? No metal? Dizemos som de sino como se fosse assim mesmo…
- Quando unimos as mãos em prece – na altura do coração – qual mão toca a outra? A direita? A esquerda?
- Sonhos/pesadelos – quem está sentindo aquilo?
- Cinema
- Jogos eletrônicos
- Música
- Redes sociais e a virtualidade das relações
- Jogos de tabuleiro – xadrez, dama, banco imobiliário
- Lojas como brechó, lojas virtuais.
- Quadros em exposições
Capa de Alexas_Fotos por Pixabay
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