A liberdade natural da mente é a ação ou inteligência sempre presente diante das mais adversas situações. Porém, como nos perdemos diante das bolhas e nos esquecemos disso?
Você já sentiu na pele uma exaustão mental ou emocional, bem parecida com uma febre forte, seguida por um cansaço físico? É como andar uma maratona, uma longa corrida de 10 km de extensão e esquecer de água e protetor solar. É o mesmo sentimento recorrente de tentar resolver as coisas e quanto mais justificamos e nos esforçamos, mais cansados ficamos.
Todas as nossas preocupações são resumidas em como lidamos com a nossa mente. Mas, por falta de uma precisão a respeito, com uma ferramenta eficaz para olhar para interiorizarmos, ou seja, a meditação, nós precisamos falar sobre sobre relações, dinheiro ou carreira profissional. Como se essas situações estivessem fora de nós mesmos.
Em todas essas situações, nós olhamos de maneira mais profunda e percebemos uma emancipação e independência das histórias que contamos para nós mesmos. Como lidamos com as situações são resumidas em: resolver, controlar/disciplinar, manipular/manobrar. Essas inteligências complexas, são sustentadas por muita expectativa e medo; Isso é Dukha, a primeira nobre verdade.
Como compreender as ações da mente?
Ação da mente diz respeito a como estamos dentro da bolha ou de uma mandala de sabedoria e nos movemos sem lucidez, de modo inconsciente, agimos com doze elos e achamos que isso é tudo. Por exemplo, quando abrimos a geladeira e buscamos por água gelada, se eu estiver com um mente inquieta, nem vejo a garrafa d´água, mesmo com ela há menos de um metro de distância dos meus olhos físicos. Isso é hilário e bem interessante de se contemplar! Um outro exemplo é a própria distração mental nas abas do nosso navegador favorito – mal acabamos de ler um texto, nem palavras vemos mais e já estamos em um novo mundo virtual – bolha. E a mente age ali em corpo, energia e a mente como quem se vê sem se ver.
O estudo e contemplação de hoje é sobre como fazer de outra forma. Por dentro das bolhas, nós parecemos como um hamster brincando em uma gaiola, girando a roda da vida. Muito esforço, pouca felicidade. Apresentaremos a mente a partir da perspectiva da liberdade natural, uma lucidez compassiva, uma maneira de olhar para nós mesmos e os outros sem filtros pessoais.
É comovente viver a vida e simplesmente seguir os impulsos contraditórios como se fossemos aquilo. Viver sem saber quem somos e qual o nosso verdadeiro potencial, é a maior agressão que fazemos conosco.
Seguimos no giro da roda do Darma!
Para aproveitar os estudos:
- Leia o trecho “Darma da vez” escutando a gravação do estudo em no podcast;
- Enriqueça a sua compreensão: Procure exemplos em sua vida com pessoas próximas, nos noticiários, nas diversas conversas entre amigos, no trabalho, etc.
- Anote os exemplos ou as eventuais dúvidas. Se preferir, compartilhe com o grupo de apoio suas experiências ou entre em contato para um acompanhamento individual.
Darma da vez
p.120 e 121
O que significa Liberar a mente da própria mente?
Por fim, vem a quarta forma de ação da mente, que é liberar. É o processo mais sofisticado. Quando nós vivermos qualquer experiência que seja, nós podemos reconhecer a natureza última na experiência. Nós não precisamos nos fixar na forma da experiência, nem negá-la. Nós percebemos a natureza última dentro da própria experiência.
Nas três primeiras formas estamos movidos pelo medo. Nós não aceitamos a experiência. Nós a maquiamos, a evitamos ou a modificamos, buscando ultrapassá-la. Mas nós não conseguimos vivê-la tal como ela se apresenta. No entanto, na quarta forma de ação da mente nós a vivemos tal como ela se apresenta. A primeira forma é, aparentemente, a mais fácil e todos nós a buscamos. Mas, no sentido budista, quando nós realizamos a primeira forma (resolver), nós o fazemos com lucidez e não por condicionamento.
Alternativas diante do que pode ser pensado
Então, dizer “ou não” não seria uma exclusão, mas uma alternativa lúcida. Quando estamos condicionados, presos ao Samsara, à responsividade, ao script definido, nós não temos alternativas. Aqui nós estamos recuperando a liberdade.
Na primeira forma, podemos manipular algumas coisas, ou seja, procuramos “dar um jeito” para resolver a situação (nos cobrimos, tiramos a roupa, comemos, etc.). De um modo geral, essa primeira forma trás a ideologia de Samsara. A ideologia de Samsara também inclui a segunda forma, que é quando nos tornamos civilizados. Quando nós estamos muito civilizados ou refinados, nós passamos para a terceira forma de ação da mente. Ou seja, nós começamos a manipular tudo, sem nem parecer que estamos manipulando.
Mas, essencialmente, em qualquer uma das três formas, nós estamos tentando evitar certas coisas e colher outras. Ao final, nós não conseguimos, porque há coisas na nossa experiência que não temos como lidar através da manipulação. Nós vamos ter que passar por dentro delas.
Uma segurança na ausência de esforços
Então, a quarta forma de ação da mente (liberar) é absolutamente necessária. Ela é a forma que o Buda vai ensinar. Especialmente o Budismo tibetano, através dos ensinamentos de Guru Rimpoche, está centralizado nesta quarta forma.
Algumas outras correntes do Budismo vão usar a disciplina. Outras, os meios hábeis, e vão treinar isso. Para algumas, parece que tudo se resume a cortar o cabelo, colocar o manto e viver uma vida regrada. Outras, vão ensinar, dentro dessa vida regrada, truques (meios hábeis) para viver melhor a vida regrada, sem grandes problemas. Mas há outras formas, especialmente o Budismo Mahayana, onde se procura viver os ensinamentos no cotidiano, não através da disciplina, mas com liberdade, com lucidez, onde a quarta forma vai ser muito usada. Ela vai poder nos dar uma segurança que nenhuma outra forma poderia nos dar.
No jogo do samsara, não há vitoriosos.
Na verdade, quando usamos a quarta forma, nós usamos as três outras também. Quem usa a primeira, só usa a primeira. Quem usa a segunda, usa também a primeira. Quem usa a terceira, usa a primeira e a segunda também. Ou seja, quando você vai atravessar a rua e percebe que vem um carro, não deve pensar: “Bom, vou atravessar de qualquer jeito, pois, se o carro me pegar, eu morro, mas eu libero isso”. Não é esse o ponto.
O próprio Buda dizia: “Vocês evitem cobras venenosas, elefantes furiosos, animais agressivos. Ainda que nós entendamos a vacuidade de tudo, nós devemos evitar os perigos.” Isso significa usar os métodos mais simples. Mas, ainda assim, num certo momento, nós enfrentaremos uma situação limite, como a morte. Aí, neste momento, nós usamos essa outra visão, nós guardamos isso como uma lucidez, disponível incessantemente, incessantemente presente, sem, no entanto, nos fixarmos nisso como uma necessidade. Nós usamos os vários métodos (primeira, segunda, terceira e quarta formas de ação da mente).
No entanto, a maior parte das pessoas tem a visão estreita, operam no mundo somente com a primeira forma de ação da mente, que é “resolver” ou “jogar o jogo do Samsara”. Elas vão levando a sua vida tentando se cobrir quando têm frio, comer quando têm fome, etc. E, melhorar na vida para essas pessoas, significa apenas ter mais controle sobre isso. E assim vão vivendo.
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Fonte: Compilação sobre os ensinamentos dos doze elos da originação interdependente. Ministrados por Lama Padma Samten
Podcast
A seguir, aperte o play e acompanhe o estudo em áudio:
Edição de imagem e audio por @lordbrito