Como superar Dukha? Ou qual a origem das nossas frustrações segundo o budismo?

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Imagem de congerdesign por Pixabay

Dukha, Segundo S.S. O Dalai Lama, é a base da experiência dolorosa e se refere, de modo geral, ao nosso estado de existência condicionado pelo carma, delusões e emoções aflitivas. Isso se desdobra no desejo inato de procurar a felicidade e de superar o sofrimento.

É muito importante reconhecermos a natureza do sofrimento pois assim aspiramos um caminho de saída. Com as práticas de treinamento da mente, podemos reverter o processo de confusão e dor oriundos da roda da vida. Esse percurso é destrinchado pelas Quatro Nobres Verdades e o caminho de oito passos. 

O Lama Alan Wallace usa a seguinte analogia para demonstrar essa descompensação emocional:

“Quando nos defrontamos com Dukha, é como se estivéssemos ultrapassado o limite de velocidade de uma via com sinalização eletrônica, mas ninguém avisou que aquilo estava ali e qual era a velocidade limite.”

Dukha é como ter repulsa pela sensação de ressaca mas apreciar muitíssimo a degustação de uma boa bebida alcoólica entrando na garganta e sem se importar muito com as consequências disso.

O treinamento da mente como remédio para Dukha

Em um caminho simples, S.S. O Dalai Lama explica a analogia de Maitreya onde temos uma pessoa doente e seu tratamento em busca da cura, como o avanço no treinamento da mente baseado nas Quatro Nobres Verdades e como isso se dá, em etapas.

São elas: 

  1. Reconhecer que está doente;
  2. O que nos levou a esse estado?
  3. O que faz piorar os itens anteriores?
  4. Compreensão da possibilidade de cura;
  5. Desejo de se livrar da doença surgirá nela;
  6. Quando reconhecemos as condições que nos levaram a doença, o desejo de se libertar será muito mais forte;
  7. Com a compreensão das causas e da cessação do sofrimento, ganhamos confiança e convicção da possibilidade de superarmos a doença;
  8. Como base nos itens anteriores, nós tomamos todos os medicamentos e remédios necessários; 

Com as práticas de treinamento da mente, revertemos o processo da roda da vida (samsara).  O principal ponto a ser enfatizado é a confiança nas quatro nobres verdades.

Podemos começar tanto pelo caminho de apresentação da natureza livre, oitavo passo ou começamos pela introdução do sofrimento e suas causas. Temos essa liberdade de podermos operar mente, energia e corpo, a partir de referenciais mais amplos como compaixão, amor, alegria e equanimidade, por exemplo. 

É interessante percebermos que quando agimos de modo construtivo, positivo, criamos um ambiente de felicidade para conosco e os outros. Numa perspectiva inicial, o Darma pode ser considerado como medidas preventivas quanto ao samsara.

Quando estamos imersos e inconscientes da realidade ao nosso redor, estamos confusos sobre quem somos e como nós e o mundo existimos. Nós nos agarramos às coisas como se elas existissem de modo concreto e inseparáveis de nós mesmos. 

Precisamos olhar diretamente para natureza do sofrimento e cuidar desse olhar. Podemos ter essa liberdade com a prática de meditação e ver o que estamos cultivando com o corpo, fala e mente, e como isso aumenta ou diminui o nosso sofrimento.

É interessante notar que quando usamos a palavra sofrimento no budismo, nós queremos dizer que é o sofrimento que nos mostra o caminho de saída. Segundo as quatro nobres verdades, nós já temos algum tipo de felicidade, só não estamos cientes disso. Se estivermos receosos, com medo de tocar o sofrimento, não seremos capazes de perceber o caminho de liberação do mesmo. 

Há um momento em que percebemos que quando caímos no esquecimento do quê e quem realmente somos, seremos inundados pelas aflições mentais que imediatamente destroem nossa paz mental, saúde e até mesmo amizades e relacionamentos com outras pessoas.

É sempre bom lembrarmos que através da nossa inteligência e emoção podemos mudar e transformar o nosso mundo interno.  Portanto, esse olhar contemplativo e investigativo quanto as nossas emoções e o nosso mundo interno é extremamente crucial.

O objetivo do Darma não é apenas apontar os sintomas, mas também suas causas e o caminho de saída para os nossos problemas. A mente é muito ampla: ela pode criar tanto o sofrimento e felicidade, o céu e o inferno. 

Autor
Coordenador
Praticante budista e instrutor de meditação. Desde 2011 dedica seu tempo à descoberta do coração desperto (bodicita), a partir dos ensinamentos de Buda e nas instruções práticas de Lama Padma Samten. Casado, pai de 2 filhos, é coordenador da Roda do Darma e tutor no CEBB.

1 comentário em “Como superar Dukha? Ou qual a origem das nossas frustrações segundo o budismo?

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