Quando falamos de bolha precisamos apontar logo a saída: a sabedoria diante de avidya ou como a mente se engana e cria a confusão.
O primeiro elo da Roda da vida é o cadeado que nos prende ao samsara. Prajna é sabedoria, é a chave para nos ajuda a sair desse girar em altos e baixos de sofrimento e neurose.
Neste podcast, vamos conversar sobre o efeito do 5° aspecto de avidya em nossas vidas: o trancamento na bolha. Se você não leu / ouviu os episódios anteriores sobre avidya e como a mente se engana e cria o sofrimento, clique nos links abaixo:
- Separatividade
- Criação
- Cegueira
- Experiência de mundo
- Fechamento (trancamento na bolha)
- Escuridão espiritual
6 formas de Avidya | #5 trancamento na bolha
Quem disse “a ignorância é uma espécie de benção” com certeza não sentou em meditação ou teve contato com Prajnaparamita.
A experiência de fechamento, selamento e trancamento na bolha de realidade, é chamada de Tanha. É uma energia de bloqueio que nos impede de ver a natureza da mente e o que há de mais amplo dentro de nós. Não basta entender as palavras, deveríamos parar em silêncio e contemplar isso como uma experiência.
Na perspectiva de avidya, as visões dualistas e ambíguas no samsara produzem sofrimento. Sem lucidez, não percebemos esse processo dentro de trancamento nas bolhas dentro de nós.
Acreditamos que uma agressão é verbal ou física, mas ela surge na mente antes de mais nada. Essa energia de defesa é uma agressão sutil perpetuada conosco e com os outros.
A verdadeira agressão é a energia de defesa e trancamento na bolha.
A identidade fixa sustenta a separatividade, criação e agora, experiência de mundo. Cremos cegamente que o aspecto cognitivo é o que nos ajudará a lidar com as dificuldades do mundo.
O aspecto da energia, num comparativo grosseiro, seria como examinar o centro do átomo da identidade. Devido a ignorância (avidya), criamos apego, e por fim, sentimos a necessidade de ter controle do objeto mental, sutil, como se o objeto fosse externo a nós e separado do observador.
Por equilibrarmos o objeto sutil como externo com os sentidos físicos, seguimos o trancamento (bloqueio na bolha) com a causalidade: damos vida aos enredos e dramas da identidade que por sua vez, culminam em sofrimento. Agora fixada, a identidade ganha autonomia sobre nós.
O bloqueio emocional como exemplo de trancamento na bolha
Quando falamos em bloqueio emocional, por exemplo, isso é um trancamento da energia. O obstáculo não é a flutuação de energia e sim, Tanha (trancamento por ignorância, avidya).
O trancamento na bolha para uma pessoa é quando congelamos — seja por apego ou aversão.
É como o episódio do Chaves que ele fica paralisado. Quando assustado, o Chaves sofre de piripaques e fica estagnado até que alguém lhe molhe.
Quando estamos sobre o efeito de avidya, de Tanha, sofremos da mesma forma, pois achamos que estar em movimento, porém cegos sobre quem somos, é uma vantagem. Mas, estamos paralisados justo porque andamos. Andamos em círculos no samsara. Essa é a questão.
Quando Tanha aflora, obdecemos os impulsos como uma teimosia mental, a identidade não consegue ver além dos automatismos . Por isso, quando temos um impacto, como uma crise, por exemplo, nós somos obrigados a parar.
Usamos esse “parar” como caminho e com o tempo, entenderemos melhor o apego e a aversão, como faces de uma moeda.
Aversão é um bloqueio, é como puxar o freio sem avisar ao motorista. Nessa hora, nos perguntamos: qual é a região de apego que não estamos conseguindo ver? Qual é a paisagem que tranca nosso horizonte atual?
Prajnaparamita como saída da bolha
Conscientes e lúcidos com Prajnaparamita, percebemos que a pessoa se sente afogada em si, e isso é sintoma de trancamento e fechamento.
Não é nada fora que nos tranca, é uma impossibilidade sutil que criamos por avidya e tanha. Ou seja, é a própria identidade que se aprisiona em fluxos mentais provisórios. É um processo de perda de lucidez, de imobilidade do referencial da mente que produz experiência e da natureza da mente.
Outro exemplo é algo que aparenta ser óbvio para nós, já para outra pessoa não é.
A pessoa não consegue ver de modo mais amplo porque tem um trancamento dentro dela. Tem algo dentro, que não conseguimos explicar com precisão e nos impede de ver com os olhos do outro. Estamos fixados.
A pessoa é questionada sobre o motivo de estar se movimentado de um certo jeito e não de outro, ou melhor, o que ela está fazendo com a sua mente? Imediatamente, tentamos nos defender. É como se pessoa fosse pedir demissão da própria identidade por ela agir de outra forma, e surge agressividade, a identidade se defende na bolha e segue em trancamento em seu mundo onírico.
O problema é quando a impermanência destrói a bolha: dói. A dor é o sinal vermelho de trancamento, tanha. Precisamos aproveitar e olhar para esse obstáculo como treinamento da mente e avançarmos rumo à lucidez.
Ouça agora: 6 formas de avidya | 5 O trancamento na bolha