A essência da Roda da vida é descrever um tipo de mapa da mente experimentada pelo Buda. É uma ação compassiva de olharmos para liberdade da mente e, em paralelo, vermos os nossos condicionamentos recorrentes. A sabedoria está disponível, cabe a nós olharmos para dentro e reconhecer nossa verdadeira natureza ou face.
Quando o Buda Sakyamuni atinge a iluminação, ele se dá conta de como que os seres tendo a natureza de Buda, vazia e criativa, usam desse potencial e jogam um jogo de aparências e deleite sensorial. É como um mágico que cria ilusões, mágicas e aparições, mas se esquece que ele mesmo é o criador daquilo e se frustra com suas brincadeiras.
No silêncio da meditação, o Buda detalhou exatamente como as aflições mentais surgem e cessam. A ausência de peso e tensão diante das situações vem desse reconhecimento.
Samsara
Dentro de um contexto mais formal, destrincha a Segunda Nobre Verdade. Aponta a dissolução dos nossos problemas e dificuldades, a origem e causa de Dukha. Alguns sinônimos na literatura são: samsara, a experiência cíclica, padrões habituais, bolhas de realidade, transmigração, redemoinho, processo de transição, doze elos da originação interdependente,etc.
Quando planejamos uma viagem, é interessante saber o itinerário para aproveitarmos o máximo esse trajeto. Da mesma forma, apresentaremos alguns pontos-chave da Roda da vida. Nos próximos encontros, detalharemos cada item com mais precisão.
O caminho começa onde estamos
A Roda da vida é uma experiência interna coemergente com o observador. Ela detalha cirurgicamente como o sofrimento e suas causas surgem e desaparece. Na abordagem mais elevada, é o ornamento perfeito da manifestação búdica, a perfeição da imperfeição, Prajnaparamita.
Um dos sintomas ao se iniciar essa contemplação interna, é perceber Avidya, a ignorância fundamental. Nós vemos as autoimagens e objetos sustentados pela mente. Mas, a percepção de que o observador sustenta isso, de modo ativo ou passivo, não é questionada. Depois, isso se condensa e se filtra em gostar e não-gostar. Assim, nos prendemos e perpetuamos esse processo.
Justificar e apontar não muda a essência da Roda da vida
Nós não estudamos a Roda da Vida para “psicologar”, apontar dedos, julgar, ter um propósito, metas, se tornar alguém mais espiritualizado ou criar coisas novas. A nossa abordagem, é a liberação, ou seja, o quanto antes localizarmos os obstáculos e ultrapassá-los, veremos nossa verdadeira face.
A corporificação feminina da sabedoria do Darma, Jetsunma Tenzin Palmo, explica:
Não estamos presos à Roda da Vida. Nós é que a agarramos com força, com as duas mãos. Há uma história que sempre se conta sobre uma forma particular de aprisionar macacos na Índia. Toma-se um coco com um pequeno buraco. Por esse buraco, com tamanho suficiente para passar apenas a mão do macaco, coloca-se um pedaço de doce de coco.
O macaco se aproxima, sente o cheiro do doce, coloca a mão no buraco e agarra o doce. Ele fecha a mão para agarrar o doce. e dessa forma não consegue mais tirar a mão do coco. E então o caçador consegue pegá-lo. Nada prende o macaco ali. Tudo o que ele precisava fazer era abrir a mão e estaria livre para fugir. Ele fica ali preso apenas por desejo e apego, que não o permitem seguir.
A essência da Roda da vida
Para facilitar, olharemos a Roda da vida como se fossem blocos individuais, tipo um lego, e depois o contexto mais geral. Segue o detalhamento:
Céu e a liberação
- O céu representa o aspecto de vacuidade da mente;
- A lua simboliza a luminosidade incessante, desde o princípio;
- O Buda aponta para lua – O verdadeiro ensinamento não pode ser capturado pelo intelecto. Por compaixão, os Budas e bodisatvas apontam a partir de ensinamentos, palavras e exemplos, de forma que a “mente de macaco” possa se acalmar um pouco e olhar para sua essência. Cruial lembrar que só existem Budas se tivermos seres a serem ajudados.
- O Buda Amitaba – representa a sabedoria discriminativa, silenciosa, viva que brota do silêncio, na meditação. É o eixo positivo na nossa vida. Da forma de não perdermos tempo deixando o treinamento da mente para depois… Não temos essa garantia. É o ensinamento fundamental do Darma – As quatro nobres verdades e o caminho de oito passos.
- O arco-íris representa a ação incansável dos Budas e Bodisatvas em Terra pura.
Maharaja, a dualidade, a impermanência, o sofrimento e um caminho para liberação
- Maharaja – é o senhor da Roda da vida. É a representação antropomórfica da impermanência e a da frustração inevitável a partir da mente-energia condicionada ao samsara. Os dedos de Maharaja seguram a Roda da vida e simbolizam as fixações que serão derrubadas mais a frente, devido a impermanência. Os dentes, começam e terminam, no 12º (jana-marana) e 1º (avydia) elos, respectivamente. Simboliza a transmigração, nascimento e mortes das identidades no oceano de sofrimento.
- As cinco caveiras no diadema de Maharaja – Quando nos perdemos da lucidez, as cinco sabedorias são encobertas por Maharaja e a confusão surge. As cinco sabedorias são inteligências búdicas usadas na ação compassiva dos seres lúcidos para criar pontes e caminhos para as pessoas trabalharem com suas dificuldades, no caminho. São elas – sabedoria do espelho, igualdade, discriminativa, causalidade e Darmata.
- O Buda/bodisatva no (2º aro, de dentro para fora da roda da vida) – Quando praticamos, geramos méritos. São condições favoráveis, porém transitórias. Boa saúde, centros de Darma, os ensinamentos, nos ajudam a avançar no caminho. Nesse momento, pode ser que estejamos abertos e disponíveis. Então, aspiramos entrar em um caminho de transformação e, por sorte, com a ajuda de um professor qualificado para tal, seguimos;
- A Roda da vida – os três animais, os seis reinos e os doze elos.
Podcast
A seguir, aperte o play e acompanhe o estudo em áudio:
Edição de imagem e audio por @lordbrito
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