A prática por si só é um encontro conosco. E pode se tornar algo muito interessante! Uma vez que revisamos os conceitos básicos e fundamentais para estabelecermos uma rotina de prática meditativa, podemos então seguir para um período estabelecido de práticas, propriamente dito.
Por favor, mas por favor mesmo! 🙂 Que a gente não leve isso como uma meta pessoal, um tipo especial de empreendimento, como a vitória de alguém. Não vamos receber medalhas ou condecorações pelo avanço na meditação, como no exemplo trazido por Trungpa Rinpoche:
Na prática da paramita da meditação, nós nos relacionamos com a meditação como um processo natural; [ela] não é um obstáculo nem uma virtude específica.
Se ficarmos impacientes com a constante troca de pensamentos em nossa prática de meditação, nós deveríamos evitar meditar. Isso ocorre pois estamos esperando por uma situação confortavelmente gratificante, por isso não estamos dispostos a lidar com as irritações que surgem constantemente – não podemos ser incomodados.
Por outro lado, podemos ficar muito apegados ao quão bom meditante nós somos. Como alguma forma de bênção divina, como prova de que o que nós estamos fazendo faz sentido. Nós sentimos que podemos meditar melhor e mais do que qualquer outra pessoa.
Nesse caso, vemos nossa prática de meditação como uma disputa por um campeonato. Por evitar a prática de sentar ou nos apegar a ela como algum tipo de autoconfirmação, nós ainda estamos evitando a paramita da meditação, que é a disposição de trabalhar incessantemente com nossa própria neurose e velocidade.
Criando uma rotina de práticas diárias
A ignição se dá com o item motivação, em seguida vamos combinando um pouco a diversidade de práticas existentes. Para tentar ajudar, temos uma tabela abaixo com as práticas e os dias. Aqui vamos apresentar algumas possibilidades de organização de práticas de acordo com a disponibilidade de horário. É essencial só fazermos o que é possível, ao nosso alcance. Se notarmos algum tipo de tensão, pressão para atingirmos algum resultado pessoal, é melhor entrar em contato com o seu tutor ou um professor qualificado dentro das tradições contemplativas disponíveis.
Detalhando cada item da tabela de práticas
O título “Diário quinzenal de práticas” sugere um tempo para nos dedicarmos a isso. Nesse sentido, não vamos nos estreitar achando que precisamos seguir rigorosamente os quinze dias… O exemplo está mais para aqueles lembretes de geladeira onde o que importa mesmo é apenas seguir como dá e ter uma rotina diária de práticas.
Então, se não conseguimos fazer essa rotina em sequência, seguimos para o dia seguinte ou simplesmente voltamos para o estudo atual. Haverá dias também que o melhor que podemos fazer é a prática de Shavasana, o relaxamento. É tudo uma questão de bom senso mesmo. Agora, iremos descrever cada item da tabela:
(1) “Nome” dispensa comentários. 😉
(2) “Mês e ano” também.
(3) “Estudo atual” é algum livro ou material do Darma que estamos aprofundando no momento. Lama Samten, meu mestre, sugere alguma biografia de algum mestre que tenhamos afinidade. Isso nos ajuda a ganhar confiança e lidar com eventuais dúvidas que possam surgir pois vamos ver lá: “Uau! Quando surgiu isso e aquilo, esse Rinpoche reagiu assim e superou o obstáculo dessa forma”.
(4) “Ciclo de práticas” contém a descrição das práticas essencias no caminho: (1) motivação, (2) Shamata, (3) Metabavana ou (4) Prajnaparamita. Não vou iremos alongar sobre cada item aqui. Sinta-se à vontade para entrar em contato.
“Dias” – Esse item é para nos ajudar a lembrar. Esse período dedicado a prática. Esse tipo de encontro estruturado deixa a coisa mais direcionada, no sentido de que iremos dedicar um tempo e foco para nos aprofundarmos nisso.
Quanto tempo dedicar para cada prática?
Se conseguirmos uma hora diária, já está bom. Não é tanto o quanto de horas que estamos fazendo… Mas sim o que estamos cultivando ali dentro. É como comparar a chuva e as gotas de chuva – se olharmos as gotas de chuva individualmente, aquilo é irrisório. Porém, sabemos muito bem o que uma chuva torrencial pode fazer…
Gostaria de lembrar que aqui estamos limitando o diário de práticas a prática de meditação sentada, mas ela é complementada com o cotidiano, no pós-meditação, onde vamos usar as quatro incomensuráveis e as seis perfeições.
Então, é interessante que olhemos para as práticas disponíveis e a gente se observe, sinta, experimente o que acontece conosco diante delas. É como se fossemos fazer um test-drive em um carro, vamos sentindo, aos poucos e acelerando, freando. Sem pressa.
Aqui vai uma sugestão:
Temos uma hora para praticar, o que dá um total de 4 sessões de 15 minutos:
Na primeira sessão, podemos fazer shavasana, para irmos sem tensão, lembrar de entrarmos relaxados na prática. A tensão é uma peculiaridade do samsara.
Em seguida, podemos entrar na motivação. Muito fácil confundirmos as coisas e achar que a prática é uma espécie de empreendimento pessoal…
Em terceiro lugar, shamata para voltar a dirigir a própria mente. Muitas e muitas vezes, pacientemente, vamos precisar fazer essa prática.
Por fim, podemos tentar algum ponto do roteiro de oito pontos da Prajnaparmita ou um PCR sobre algum tema dentro do nosso contexto que faz o nosso olho brilhar.
Considerações finais
É bom lembrarmos de alongar o corpo, descansar. Não tentar forçar a barra. A sugestão acima é apenas uma recomendação e caso haja algum ponto de desconforto, sinta-se à vontade para entrar em contato.
Seguimos no Darma.
Que muitos possam se beneficiar!
Anexo
Imagem de xaviandrew por Pixabay
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