Todo trajeto tem seu início.
Firmaremos as bases sólidas que nos edificam diante das nossas listas de desejos e apegos infindáveis, do carrossel emocional do samsara.
De onde vem a disposição e destemor que os grandes mestres e praticantes contemplativos experimentam para lidar com as dificuldades e desafios do dia-a-dia?
Uma das prioridades do caminho de transformação é evitarmos perder tempo nas aflições mentais ou seja, não saber como lidar com elas.
A inspiração e entusiasmo para meditar e praticar o Darma, são estabelecidos de um conjunto de ensinamentos chamado de os 4 pensamentos que transformam a mente (4PQTM).
Integrar os ensinamentos, a meditação e a nossa ação é o aprendizado aqui.
Na literatura budista, você também poderá encontrar esse tema sendo descrito como os 4 pensamentos que direcionam a mente para prática do Darma.
Qual a importância dos 4 pensamentos que transformam a mente?
Estamos numa jornada: a capacidade de ter a nossa felicidade de volta significa ter compaixão diante das situações. De maneira mais profunda, já estamos na rota da liberdade.
“Liberdade” aqui significa entender a preciosidade de não adiarmos a capacidade de dirigir a própria mente, e ajudar a si e aos outros com isso.
Todos os seres aspiram pela felicidade, porém não têm a menor ideia de como pôr em prática as ações positivas que geram a felicidade. Nenhum deles deseja sofrer, mas eles não sabem como abandonar as dez ações negativas, as seis emoções perturbadoras e os três venenos, que são a raiz de todo o sofrimento.
Assim, os seus desejos mais profundos e suas aspirações positivas se contradizem.
A motivação é a chave para que a meditação e os ensinamentos possam ser internalizados. Caso contrário, aquilo pode demorar muito tempo para funcionar. Precisamos entender o fluxo de transmigração. Essa tem sido a nossa tragédia: uma bolha de realidade que sucede outra e outra.
Os venenos mentais como apego, aversão e ignorância, são os alicerces do samsara. Portanto, precisamos nos vacinar o quanto antes para avançarmos no caminho.
Ainda sobre a importância dos 4PQTM, em Os portões da prática budista, p. 261, Chagud Rinpoche afirma:
“As práticas preliminares proporcionam um método seguro de purificar os padrões habituais, que nos iludem e nos impedem de reconhecer nossa verdadeira natureza.”
Transformação na prática
Considerações para alavancar na prática espiritual:
- É necessário que haja um amadurecimento orgânico quanto a necessidade de ouvir os ensinamentos e praticar meditação.
- Há um ponto em que não há mais dúvidas sobre o Darma e a pessoa se move. Ela já está completamente convencida sobre a importância do Darma e dos 4 pensamentos que transformam a mente.
- Todos os grandes mestres ressaltam a importância desse conjunto de ensinamentos. Enfatizam que se os ouvirmos de modo superficial, podemos nos sentir estagnados na prática. “Estagnado” significa não perceber nenhuma mudança significativa quanto ao desejo, apego, raiva, etc.
- Pode parecer que a capacidade de oferecer benefícios para si e outros está limitada. Começamos a nos sentir tentados em culpar os ensinamentos, os métodos de meditação que não funcionam ou arrumar desculpas para praticar depois. Logo, precisamos lembrar infinitamente que nosso tempo é curto.
- O que estamos cultivando na nossa mente? Temos um desejo secreto: se um gênio da lâmpada aparecesse, quais seriam os três desejos?
- É o conjunto de ensinamentos eficaz para reduzir os venenos da mente e criar benefícios a curto, médio e longo prazo para nós e os outros.
- É o alfabeto com o qual o aluno escreverá toda a sua prática espiritual;
- Purificam os obscurecimentos e preparam a mente para receber e absorver os ensinamentos mais elevados;
- Às vezes, é considerada uma prática “preliminar”, ingenuamente chamada de “o jardim da infância do Darma” pois algumas pessoas pensam em pular essa etapa, querem passar adiante, saltar para os ensinamentos mais profundos (Dzogchen, Prajnarapamita, Mahamudra, Mahasandi)
- Esse conjunto de ensinamentos é também chamado de “A fundação da prática” e nos remonta à primeira nobre verdade – a verdade do sofrimento;
A importância dos 4 pensamentos que transformam a mente
Os 4PQTM aquecem a prática espiritual. Eles nos levam a uma reflexão, um desencantamento, um “cansaço” quanto aos ciclos de altos e baixos do samsara.
O cultivo desses 4 pensamentos é crucial para purificarmos hábitos antigos como: desejo, apego, raiva e agressividade. Temos muitos desejos, apegos, necessidades, urgências e carências. Desse modo, achamos que elas deveriam ser preenchidas o quanto antes, e assim, a nossa lista de desejos mundanos é infinita!
Tão logo nos vacinarmos contra os venenos mentais e produzirmos uma mudança interna e real, continuaremos no caminho com uma atitude/motivação numa base sólida, estável.
Esses ensinamentos nos dão uma sensação de urgência, de prontidão, de estarmos alertas, sobre como estamos levando a nossa vida. São verdades básicas onde o caminho se apoia.
Em suma, quando nos sentirmos impotentes no samsara, devemos revisitar os 4 pensamentos que transformam a mente e reativar a motivação.
Para ressaltar a importância dos 4PQTM, o Lama Alan Wallace usa a seguinte metáfora:
“Imagine um náufrago que recebe a oportunidade de sair da sua situação atual e diz: ‘Agora não! Pego um outro barco salva-vidas numa outra hora!’ Temos [acesso] a um templo, professores e aos ensinamentos.”
Ainda sobre os 4 pensamentos que transformam a mente, S.S. Dalai Lama diz:
“Se você se engajar nessas práticas e ganhar experiência nelas, suas atitudes e o modo como vê as outras pessoas vão mudar.
Então, quando surgir um problema — que já apareceu antes — você não vai reagir com a mesma irritação, não vai gerar as mesmas atitudes negativas.
Essa mudança não é algo externo — não é uma questão de fazer uma plástica no nariz ou adotar um novo corte de cabelo. Acontece dentro da mente.
Algumas pessoas conseguem suportar problemas, outras não conseguem; a diferença é a atitude interior.”
Os 4 pensamentos que transformam a mente | O passo a passo
Abaixo, listei um resumo que funciona como um aquecimento sobre o tema. Logo após a listagem, você poderá aprofundar os 4PQTM um a um.
Em suma:
- Precisamos entender que realmente temos uma vida humana preciosa.
- Uma noção amadurecida sobre a impermanência nos ajuda na compreensão dos quatro pensamentos que transformam a mente.
- Precisamos acordar e realmente perceber que temos carmas, ou seja, estruturas internas que falam por nós. Quando isso amadurece, essas estruturas eclodem e causam estragos para nós e os outros. Começamos a entender que aquilo que brilha aos nossos olhos surge e se movimenta de modo autônomo. Nem sempre isso nos é favorável.
- Estamos muito ocupados e aflitos preenchendo o nosso tempo com estratégias sobre como obter controle sobre as coisas que serão abandonadas logo adiante.
- Somos equilibristas de energia. Tanto gostar como não gostar flutuam. Fazemos esforços e não temos um resultado final propriamente satisfatório.
- O melhor que podemos fazer é termos uma motivação elevada e essa motivação flutua em meio às confusões e aquilo irá melhor com o tempo. Quando as nossas motivações são medianas é natural surgirem obstáculos.
- Se não tivermos as práticas da fundação do caminho, a nossa motivação fica paralela com as motivações do samsara. “Eu vou meditar porque preciso melhorar isso e aquilo. Vou meditar para poder ter sucesso”.
- Aspiramos ter um caminho seguro para além do alcance do samsara.
- Quando contemplamos os quatro pensamentos que transforma a mente, pode surgir em nós humildade. Progressivamente, pode brotar também uma conexão positiva com as 3 joias: o Buda, o Darma e a Sanga
- Depois de tomar refúgio, passamos a olhar todas as nossas relações, com o olho do Darma, ou seja, nos movemos por bodicita;
Para aprofundar
Os quatro pensamentos que transformam a mente são:
Referências
- Os portões da prática budista →
- O ornamento da preciosa liberação
- As Palavras do Meu professor perfeito →
- Para abrir o coração →
- Comentários sobre o Ngöndro →
Textos de apoio
Em que confiar?
Como todos os diversos professores e ensinamentos a que estamos expostos hoje em dia, como sabemos a quem ouvir e em quem confiar?
Quando praticamos essas 4 confianças, temos a certeza de estarmos no caminho certo e receberemos o benefício completo dos ensinamentos.
O que evitar? As 3 formas equivocadas de estudar o Darma
Com uma linguagem bem-humorada e atual, temos o ensinamento clássico dos “3 defeitos do pote” sob a perspectiva de qual atitude devemos assumir ao estudarmos os ensinamentos.
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